Page 198 - Revista da Armada
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Relógios de areia
período compreendido en- Para a noite foi concebido o
tre dois nascimentos (ou Imocturlábioll que permitia sabeI a
O ocasos) consecutivos do hora pela direcção das guardas da
Sol foi, sem dúvida, a primeira uni- Ursa Menor em relação à Estrela
dade a que o homem recorreu para Polar. Porém, qualquer destes dois
medir o tempo. Assim nasceu o tipos de relógios, diurnos ou noc-
dia. Depois, para avaliações de turnos, para nada serviam quando
períodos mais prolongados. o mês o céu, teimosamente, se mantinha
lunar e o ano solar, passaram a ser encoberto.
usados, tendo este último servido Independentemente das con-
como base de contagem do calen- dições do tempo, existiram as
dário gregoriano que, recentemen- IIclepsidras)) e os relógios de
te, comemorou três séculos de areia. As primeiras, já conhecidas
existência. dos egípcios, calculavam o tempo
Ore/ógio
Qualquer das unidades men- de areia para pela passagem de uma certa quan-
cionadas não foi inventada pelo 6borassugerido tidade de água através de orifício
homem que, simplesmente. se li- peIopadre-mestre calibrado para o efeito. Clepsidras
mitou a constatá-las. A sua (qua- Cristóváo Bruno. foram usadas para limitar a dura-
se) total precisão depende das leis Babilónia, 330 anos antes da nossa ção dos discursos nos tribunais de
da natureza que regem o movi- era. Este instrumento é constituí- Atenas.
mento perpétuo dos corpos celes- do por um ponteiro - o estilo - Mais práticos e mais transpor-
cuja sombra roda com o Sol duran-
tes. Outras unidades de tempo,
te o seu percurso no firmamento, táveis do que a clepsidra foram os
como o século ou a hora e 8S suas relógios de areia, a que os portu-
subdivisões, essas sim, foram re- indicando a hora num mostrador gueses, por influência espanhola,
sultado da imaginação do homem, ou quadrante. Fabricam-se reló- também chamaram lIampulhe-
quando este sentiu necessidade gios fixos de quadrante vertical ou tas/! . A sua invenção é atribuída a
de medir longos periodos ou, ape- horizontal, que ainda hoje se vêem um monge de Chartres, de nome
nas, pequenas fracções do dia. instalados em algumas casas, Luitprand, que viveu no seéulo vm
como preciosas relíquias do passa-
No que respeita a estas últi- da era actual. As primeiras refe-
mas, parece lógico que o dia tenha do, e relógios portáteis ou de bol- rências a este tipo de instrumento
sido inicialmente dividido em qua- so, em marfim ou em metal, que só aparecem, no entanto, no sécu-
tro partes, a primeira entre o nasci- embelezam as vitrinas de muitos lo XIV. A fonte mais frequente-
mento do Sol e a sua posição mais museus.
elevada, que corresponde à passa-
gem meridiana, a segunda entre
esta e o ocaso e mais duas partes
equivalentes durante a noite.
Não sabemos quando a hora
deu entrada nesta longa e apaixo-
nante história da contagem do
tempo, mas não nos custa crer que
alguém, em certa ocasião, tivesse
imaginado dividir em doze partes o
perlodo em que o astro-rei se man-
tinha acima do horizonte. Por um
lado, eIa neste periodo que se de-
senvolvia a vida activa dos ho-
mens, e por outro, a divisão por 12,
correspondia à base tradicional de
contagem, que só foi destronada,
mas não completamente, pelo sis-
tema decimal. Assim surge o dia
de 24 horas.
Para nos dar a hora durante o
dia foi usado o relógio de Sol, que
se admite ter sido inventado por A barquinha a ser usada a bordo da corveta .. Duque da T8f08ira_ (1864-1911). (Foto do MuS81J
Beroso, astrónomo que nasceu na deMarinha).
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