Page 197 - Revista da Armada
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Ao rememorar estas velhas his- tusiástico pela Marinha continua vivo
tórias, tão populares das gerações nas gerações deste tempo. Apenas
passadas, pensei nos novos mari- desconheço as histórias novas que
nheiros que nos sucederam a bordo seguramente animam hoje, entre ri-
dos navios e que talvez as ignorem. sos saudáveis, o ambiente alegre
Estas e outras, eram histórias das cobertas. Mas, talvez, que as
simples, decerto um tanto ingénuas, dos outros tempos se possam ainda
mas repassadas de um humor gra- repeliL ..
cioso, a revelar uma maneira de ser ... E por isso as recordei ...
em que o brio pela profissão se traía,
por vezes, aqui e além. Silva Braga,
Estou certo que o sentimento en- v/8Im.
Ajude o seu Museu
m 1878 um apaixonado por objectos antigos entra
num depósito contíguo a uma fundição que exis-
E tia na parte oriental da cidade de Lisboa e depara
com dois grandes globos. Ao perguntar a razão de ali se
encontrarem, é-lhe respondido que, como são de madei-
ra, em breve servirão para ir alimentar a fornalha.
A Sociedade de Geografia de Lisboa, ao tomar co-
nhecimento deste facto, consegue trazê-lo para aqt,lela
prestigiosa instituição e verifica que se tratava de dois
magníficos globos com 134cm de diâmetro - um celes-
te, outro terrestre-, da autoria de Vicenzo Coronelli, um
dos mais famosos fabricantes de todos os tempo. Foram,
assim, milagrosamente salvos, no último momento, dois
globos do fim do século XVII que tinham sido oferecidos
pelo doge de Veneza ao rei de Portugal, D. João V. Estes
globos, com 1 ,10m de diâmetro, são dos maiores que
saíram da oficina deste fabricante, excluindo, evidente-
mente, os famosos globos de Marly, de 3,85 m de diâme-
tro, que foram feitos para Luís XIV, rei de França.
Isto foi há mais de 100 anos. Hoje a Sociedade Coro-
nelli, com sede em Viena de Áustria, mantém-se empe-
nhada em conseguir de todos os países do Mundo a lista
dos globos antigos neles existentes. Até hoje, apenas
responderam ao apelo a Áustria(1954), Alemanha Fede-
rai (Baviera, 1962) (Hessen, 1980), Suécia (1965), Poló-
nia (1967), Dinamarca (1968), França (1973) e Holanda
(1983).
Em Portugal, o Museu de Marinha está a preparar a
lista nacional, o que não é tarefa fácil, especialmente no
que respeita aos globos que pertencem a colecções
privadas mas, neste caso, o nome dos proprietários não
aparecerá na lista, a menos que os próprios desejem ser
Globo ferres"" com 8pfHIBS 7, 7 cm de dilmetro, f8bricado fIffl 179' pot
mencionados. J. & W. Csry - CoI6oçAo do Museu de Marinha (foto MN - Reinaldo
Esta pesquisa tem ainda a enorme vantagem de per- Carvalho).
mitir chamar a atenção para a importância destes objec-
los, não só nos aspectos cientrfico e histórico, mas tam-
bém como belas obras de arte. E mais, como os antigos
globos eram, na gra'lde maioria dos casos, vendidos aos
pares - um celeste e outro terrestre - já foi posslvel que, para além de ajudar o seu Museu, contribua para a
juntar dois globos que tinham sido separados, por parti- detesa do património cultural do nosso país, informando
lhas de famflia, há várias dezenas de anos. o paradeiro de globos que julgue terem sido construídos
Em face do exposto, e aproveitando a larga divulga- até ao fim do século passado.
ção que tem a .. Revista da Armada» , solicita-se ao leitor (Co/abonJçAo do Museu de Marinha)
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