Page 311 - Revista da Armada
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DIA DA MARINHA











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             E não seria de admirar que se fizesse tal descober-  É por esta epopeia que nos admiram, é por ela que
          ta.                                                 temos um lugar ímpar entre os povos. É por ela que,
             Quem  tem  vocação  para  o  mar cedo descobriu   ainda  hoje,  requerem  a  nossa  colaboração.  Somos
          nele encantos e  grandeza, mesmo quando a sua ins-  muito povo dos Povos.
          tabilidade gera o respeito e até o medo.               Seria fastidioso lembrar, neste dia e nesta hora os
             Quem tem vocação para viver nos oceanos tendo    grandes feitos realizaaos pelo nosso País, com a cola-
          a seus pés a vastidão das águas e por tecto a imensi-  boração da Marinha,  desde  Ceuta em  1415  a  1500
          dade do céu, facilmente intui Deus e com Ele estabe-  com o achamento do Brasil, para me referir à  época
          lece relação intima de admiração, confiança e respei-  áurea do nosso serviço à própria humanidade.
          to.                                                    Lembrarei, no entanto, que se inscreve neste lap-
             Todo  o  marinheiro  é  sempre,  de  um  ou  outro   so de tempo o encontro com os Povos de Âfrica, do Bo-
          modo, um contemplativo, mesmo que a vida imponha    jador às praias de Moçambique;  a  ligação marítima
          árduas tarefas a exigir coragem e determinação.     com a longínqua Âsia pela primeira armada de Vasco
             Deus que lê nos corações e não apenas na face sa-  da Gama, e  o  achamento das Terras de Santa Cruz,
          berá descobrir em cada marinheiro, vivo ou falecido,   depois designadas Brasil, no continente Americano.
          a sua riqueza espiritual e a cada um dará hoje os dons   Que m.lIavilhosa epopeia a  que realizou este pe-
          de que mais necessita.                              queno País, apenas com cerca de três milhões de ha-
  •                                                           bitantes, epopeia que faz inveja a  muitos outros paí-
                                  •
                                 ••                           ses maiores na população e no poder .
                                                                 É certo que nela nem tudo foi positivo.
             Mas nesta hora é  justo também lembrar os feitos    É certo que nem sempre foi o espírito impoluto de
  •       dos marinheiros já falecidos .                      cruzada que dominou.
             Quantos serviços não prestaram, ao longo dos sé-    É certo que nem sempre esteve ausente a ganân-
          culos, a Portugal!                                  cia e mesmo a vil corrupção, mas tudo apreciado. com
             Serviços de natureza económica e serviços de na-  objec';l'Jid.lde, acaba por nos oferecer um saldo positi-
          tureza cultural, mas principalmente serviços pela de-  vo.
          finição do nosso perfil nacional.                      Aí estão os novos povos do Brasil, de Angola, de
             Sem a sua acção não seríamos, certamente, o País   Moçambique, São Tomé, Cabo Verde e Guiné, senho-
          que somos. Pais aberto a outros povos e a outras cul-  res dos seus destinos, integrados no concerto das na-
          turas. Pais que se tornou para muitos povos condição   ções, com voz própria na defesa dos seus interesses
          de progresso, de comunicação de valores e  platafor-  e capazes, ainda que com grandes problemas, de pro-
          ma de integração no mundo culto e civilizado.       jectar o seu futuro.
             É, sem duvida, esta a característica mais saliente   Aí  está o  extraordinário trabalho de  evangeliza-
          e valiosa de toda a nossa história.                ção nas terras do Brasil, de Âfrica e  do Oriente, que


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