Page 312 - Revista da Armada
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DIA DA MARINHA
originou tantas igrejas locais notáveis não apenas É meditando na sua história que Portugal poderá
pela sua vida cristã e pastoral, mas tambêm pelo ser- cobrar forças para nova arrancada na fidelidade a si
viço prestado aos seus países na defesa da pessoa próprio e ao seu papel no concerto dos povos.
humana e dos seus inalienáveis direitos, colaborando Daqui a importãncia da comemoração lucida dos
na edificação de comunidades assentes na justiça, na grandes feitos da sua existência histórica.
solidariedade e na liberdade, segundo as exigências Seria condenável que se passasse por estas datas
do Evangelho que, há momentos, Cristo mandou que de uma forma inconsciente deixando a outros os cré-
fosse anunciado em todo omundo e a todos os povos. ditos que nos pertencem.
Que não tarde o aparecimento de sinais de que.
•
•• ainda vive em nós a consciência do Povo que fomos
e somos.
A gravidade dos problemas económicos nunca
É da sabedoria dos séculos lembrar a memória dos justifica letargia empobrecedora e aviltante, quanto
antepassados, principalmente dos mais ilustres. à comemoração condigna dos grandes acontecimen-
Com tal atitude renova-se a consciência de povo, tos da nossa existência como Povo.
fortalecem-se as raízes dessa consciência e provo- E comemorações condignas. sem vãos nacionalis-
cam-se novos cometimentos. mos nem triunfalismos, exigem estudo e programa-
Feliz o povo que não perde esta sabedoria e que çãocuidados, o que leva muito tempo.
zela pelo seu desenvolvimento em cada geração. Que os Responsáveis do nosso Pais, com sabedo-
Vem isto a propósito dos anos que vivemos e dos ria e sentido da história e do momento que vivemos,
que se vão aproximando até ao fim do presente sécu- não tardem em aproveitar tantas oportunidades de
lo. fortalecer a consciência da identidade nacional, con-
Todos eles se vão referindo a datas grandes de dição indispensável para todo o esforço de renovação
grandes vultos da nossa história e alguns mesmo da do Pais.
história da própria humanidade. Nesta tarefa cabe à Marinha um lugar importante,
Em 1500 é o achamento do Brasil por Pedro Álva- porque foram marinheiros bastantes dos que escre-
res Cabral, em 1497 a chegada à Índia, pela primeira veram as melhores páginas da nossa história.
vez, da armada portuguesa, capitaneada por Vasco
da Gama. •
E antes deles, Diogo d'Azambuja, Diogo Cão, Bar- ••
tolomeu Dias e tantos outros que fizeram grandes
descobrimentos nas costas de África a ocidente e a Continuemos a nossa celebração agradecendo a
oriente. Deus toda a ajuda que nos deu e aos nossos antepas-
Factos grandes na história de qualquer povo a me- sados e rogando tenha em Sua glória os marinheiros
recer-lhe constante respeito e admiração. que já partiram deste mundo.
Como estão, o Povo Português e seus Governan-
tes, a reagir a estas datas jubilares?
Haverá consciência do seu valor e signüicado?
Quando s e vêem a Espanha e os Paises da Améri-
ca de expressão castelhana, deliberadamente vota-
dos à preparação das comemorações dos quinhentos
anos da descoberta da América por Cristóvão Colom-
bo, que neste acontecimento tanto ficou a dever aos
portugueses, somos levados a pensar que em Portu·
gal se está em sonolência comprometedora.
Não se vê bulir ideia ou inquietação, como se de
coisa de somenos valor se tratasse.
Será que ainda perdura o triste e ridículo envergo-
nhamento de uns tantos, há alguns anos, por os nos-
sos antepassados terem prestado o serviço que pres-
taram à humanidade?
É certo que Portugal se debate com grandes pro-
blemas de ordem económica, que a todos nos preocu-
pam. Mas não haja duvidas. os problemas do nosso
País não são exclusivamente, nem principalmente, de
ordem económica e financeira. Estes, em boa parte.
são consequência dos problemas de ordem cultural,
de ordem ética e social. São os problemas de identida-
de nacional, que são os principais. • •••••••••••••••••••••••••••••
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