Page 310 - Revista da Armada
P. 310

DIA DA MARINHA



             Marinha.  Não que se pense prescindir da indústria   pérfluo  para garantir o  essencial.  Só  que agora  foi
             naval exterior à  Marinha, pOis não se considera ade-  afectado o cumprimento das missões. II
             quada a  solução  de aumentar o  Arsenal  do  Alfeite   E essas como acima referi abrangem um largo es-
             quando há falta de  encomendas nos outros estalei-  pectro. São de defesa nacional. são de autoridade do
             raso  Mas sim rentabilizar o sistema dentro das estru-  Estado nas águas jurisdicionais, são de investigação
             turas de Marinha, de modo a recorrer a estaleiros ex-  científica, são de carácter humanitário. Todas elas es-
             teriores nos casos mais adequados e não por motivos   senciais. Por isso a Marinha tem que ser vista na reali-
             de saturação ou planeamento deficiente.             dade  que é,  e  não segundo modelos decalcados de
                Resta-nos abordar o terceiro vector, que ê o cons-  outros países. A Marinha tem que ser apoiada ao ní-
             trangimento financeiro.  Aprende-se em gestão, logo   vel das grandes decisões e prioridades, dado que exe-
             no inicio, que os meios financeiros são sempre escas-  cuta missões que nenhum outro departamento está
             sos,  e  que a  arte  reside  em os aplicar conveniente-  apto para o  fazer,  nem o  poderá fazer  tão bem pelo
             mente. Como também ensina, que abaixo de certo li-  mesmo custo. As necessidades da Marinha têm que
             mite  de escassez  não há  planeamento de distribui-  ser analisadas  pelos  nossos dirigentes sob a  lógica
             ção, mas sim de corte de tarefas essenciais. E a fase   fria das realidades, sem permitir que outros interes-
             de austeridade por que estamos passando. Há mis-    ses,  sectoriais  ou de grupo ou  até  pessoais,  impo-
             sões que temos vindo a  executar com grandes defi-  nham soluções mais caras e menos eficazes.
             ciências por falta de verbas adequadas, que se reflec-  A Marinha, disciplinadamente, conta com isso.
             tem na manutenção de navios, especialmente por ca-     Entretanto continuaremos a  trabalhar,  sem alar-
             rência de sobressalentes, na reparação de edificios e   des e com muita determinação. Direi com muita cora-
             intra-estruturas,  muito  degradadas  algumas;  e  na   gem. para não sermos perturbados pela maledicência
             operação dos navios, escolas de aplicação e outros or-  que está crescendo e corroendo o País. Há que remar
             ganismos, no primeiro caso por carência de combustí-  contra esta vaga que é destrutiva e  não leva a  nada.
             veis.                                               Uma coisa é  a crítica salutar, escla.recida, bem inten-
                A  Marinha  detém  um  património  valioso,  direi,   cionada ~ e  essa é  necessária. Outra coisa é  a des-
             muito valioso. O  não usar esse património, reparan-  truição sistemática das instituições. Temos que nos
             do-o quando necessário, representa, para o Pais, pre-  orgulha.r de que há muita coisa que trabalha bem, e
             juízo inadmissível. Não é grande a  restrição num ano   dizê-lo  sem complexos.  Como  temos que corrigir o
             ou mais, com a  consciência de que é  passageira. E o   que trabalha mal, e depressa. E fazê·lo com naturali-
             temor que se torne crónica. A  Marinha compreende   dade, sem pessimismos.
             a necessidade de austeridade. Mais do que isso pra ti-  E o  caminho  que  temos  vindo  a  incentivar,  é  o
             ca·a, e há longos anos. Como disse há um ano, em ce-  rumo que continuarei a  imprimir à  Marinha, porque
             rimónia do Dia da Marinha:  "Sempre a  Marinha tem   assim o exige o ideal que escolhemos de servir e hon-
             vivido a austeridade com coragem, poupando no su-   rar a Pátria .
                                   •••••••••••••••••••••••••••••••••••


             Homilia do bispo de Coimbra





                Pejo seu  significado e  interesse  transcreve-se a   vida dos cristãos é  próprio louvar a  Deus, render-Lhe
             homilia proferida pelO bispo de Coimbra, D.  João AJ-  graças e sufragaras que já deixaram este mundo.
             ves, na cerimónia religiosa do Dia da Marinha:         Ficariam,  por  isso,  incompletas e  mesmo empo-
                Por feliz escolha têm hoje lugar nesta linda cidade   brecidas as comemorações sem esta acção litúrgica.
             da Figueira da Foz os principais actos do programa do   Penso  que não é  dificil descobrir na maioria dos
             Dia da Marinha.                                     marinheiros a atitude expressa na primeira leitura ex-
                Por feliz escolha porque esta cidade desde longa   traída da Bíblia. Nela o autor mostra-se maravilhado
             d~ta viveu do mar e  para o mar, que nela continua a   com a criação.
             fazer sentir determinantemente a sua presença e im-    Extasia-se diante da sua grandeza e da sua bele-
             portância.                                          za. Louva o Senhor, Criador, pela Sua sabedoria, que
                                     •  ..                       o  leva a  exclamar:  Como são belas as obras do Se-
                                                                 nhor!
                                                                    Há aqui a  atitude de quem sabe olhar e  contem-
                Do  programa  destas  comemorações  faz  parte   plar, de quem sabe meditar e louvar.
             ace.r:tadamente esta celebração litúrgica.             Como  seria  fácil  descobrir  páginas  escritas  por
                E que,  no geral,  os marinheiros  portugueses de-  marinheiros semelhantes a estas extraídas da Sagra-
             claram-se crentes e católicos. E nas grandes datas da   da Escritura!

             20
   305   306   307   308   309   310   311   312   313   314   315