Page 309 - Revista da Armada
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DIA DA MARINHA
nogrâfico, não é possível basear uma defesa ou explo- tender mais ao pessoal civil e militarizado, para apro-
ração racionais, nem discutir o assunto em mesa de veitar integralmente as suas potencialidades. Os
negociações com possibilidades de êxito. Já se ini- convénios que temos feito com as Universidades são
ciou a corrida às riquezas dos mares, não apenas dos um exemplo de cooperação superior ao nível científi-
seres vivos que as habitam, mas dos minerais dissol- co, que interessa levar a outros níveis nomeadamen-
vidos nas águas e existentes no solo e subsolo. Os te o tecnológico, cooperando com as industrias que
países que não dispuserem de conhecimentos cientí- produzem material para a Marinha ou afim.
ficos aprofundados serão inevitavelmente secundari- No que se refere a material, a palavra-chave é mo-
zados e prejudicados. dernização. Temos a considerar os navios e equipa-
Como lembrarei as missões humanitárias e de mentos, as infra-estruturas e edifícios, e a organiza-
, apoio às marinhas de pesca, de comércio e de recreio, ção que optimiza estes meios. Ouando se fala de na-
e ainda à população em geral que frequenta as nossas vios e equipamentos, as soluções estão estudadas e
praias. A Marinha tem sempre activado o Serviço de em realização. Há novos navios a obter; outros a mo-
Busca e Salvamento, com uma corveta ou fragata no dernizar pela substituição de equipamentos, annas e
fiar ou pronta a sair para o mar e prestar auxilio. Nas sensores; outros a abater por não ser económico re-
nossas praias de banhos, como tal classificadas, fun- cuperá-los. Aliás a Marinha s6 deve ter os navios que
cionam operativos do Instituto de Socorros a Náufra- tiver capacidade de manter e operar.
gos, que em ligação com as prestigiosas Corporações Com a construção das novas fragatas que se espe-
de Bombeiros com sede em cidades e vilas do litoral, ra ser iniciada no corrente ano, e com a modernização
asseguram uma eficácia de salvamentos que ê consi- dos submarinos, das fragatas e corvetas existentes,
derada boa pelas associações internacionais congé- teremos os meios passiveis para desempenhar as
neres, e que tem vindo a melhorar de ano para ano. missões de dissuasão e defesa militar do País, em
As nossas costas já não têm a negrura por que eram conjunto equilibrado com o Exército e Força Aérea.
tidas no século passado. A Marinha mantém, de lon- Nesta á rea de modernização incluo obviamente a
ga data, em serviço, uma boa rede de faróis, bóias e modernização do material dos fuzileiros e a constitui-
balizas e ajudas-rádio à navegação que, com as exce- ção de nucleos de treino para guerra de minas de que
lentes cartas e roteiros náuticos que edita, garantem perdemos a operacionalidade com o empenhamento
a segurança de navegação aos navios nacionais e es- nas guerras de África. Então, como agora, o problema
trangeiros que passam nas águas portuguesas ou fre- sempre foi estabelecer as prioridades.
quentam os nossos portos. Para a execução das missões relacionadas com a
Todas estas missões a Marinha executa dia a dia, autoridade do Estado nas águas juriSdicionais - in-
sem alardes e com muita determinação. Todas elas teriores, territoriais e da zona económica exclusiva -
são igualmente importantes. Sempre que possível os são insuficientes e pouco adequados os navios exis-
navios e embarcações da Marinha executam-nas em tentes. Têm sido utilizadas corvetas de 1300 tonela-
simultâneo, o que constitui poupança notável. Man- das, feitas para missões em África, cuja guarnição re-
ter navios é dispendiOSO, é mesmo bastante dispen- presenta o dobro do pessoal que pOde operar os na-
dioso, e por tal razão a maior parte dos países entrega vios de 1600 toneladas estudados pela Marinha para
às suas Marinhas a responsabilidade destas tarefas, tal serviço com a designação de patrulhas oceânicos.
como acontece entre nós. Noutros casos, na faixa cos- Os planos estão feitos; resta construí-los; o que deve
teira, é pessoal especializado da Marinha, militar, mi- ser feito em estaleiros nacionais.
litarizado ou civil, que as realiza em perfeita coorde- Os outros navios que a Marinha usa em tarefas de
nação. Por isso prezo, como igualmente valiosa e ne- vigilância e de fiscalização são os patrulhas da classe
, cessária, a presença na Marinha de pessoal civil e mi- "Cacine». O seu pequeno porte restringe a actuação,
litarizado, a vários níveis de categoria, dos cientistas pelo que numa fase posterior terão que ser substituí-
aos aprendizes, dos faroleiros-chefes aos tripulantes dos por unidades de maior-tonelagem.
das embarcações salva-vidas. Também na área da investigação do mar se sente
Uma das grandes preocupações da Marinha, no a falta de uma unidade oceânica adequada à coopera-
momento actual, tem vindo a ser a melhoria dos ção com os países de expressão portuguesa e outros
meios de que dispõe para executar todas estas mis- países com quem mantemos relações orientadas nes-
sões, tendo em atenção o quadro de austeridade im- te sentido. Os requisitos estão definidos, falta concre-
prescindível à recuperação económica do Pais. Esses tizar a aquisição ou construção.
meios são de três espécies: o pessoal, o material e o Como já antes referi, a Marinha só deve ter navios
financeiro. que possa manter e operar. A manutenção de navios
No que se refere ao pessoal as inovações tecnoló- é muito dispendiosa, em especial quando não exis-
gicas impõem uma melhor selecção e preparação. tem industrias nacionais que p roduzam os equipa-
Como é exigente e dura a vida a bordo dos navios, ao mentos e sobressalentes que necessita. Daí a neces-
pessoal militar que entra exige-se uma grande moti- sidade de melhorar o sistema de manutenção/repa-
vação. Depois vem a necessidade de cursos e está- ração, o que passa pela optimização dos ôrgãos en-
gios, cada vez mais importantes. Teremos que os es- volvidos e pelo apetrechamento do estaleiro naval da
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