Page 365 - Revista da Armada
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& Nota de Abertura







                           Nunca é demais ...





                    á coisas sobre as quais nunca é demais fa-  constituía a primeira estação de apoio, um dos hi-
                   lar. Estão neste caso muitos dos feitos pra-  dros -  NC 1 -  desistiu por avaria na amaragem
             H ticados  pelos  portugueses  em  todos  os     em mar agitado. Os dois restantes -  NC 3 e  NC
             tempos - no passado, no presente a, assim espe-  4 - reabasteceram e descolaram alcançando a ci-
             ramos, no futuro.                                dade da Horta, ficando o  primeiro ali retido para
                Abordaremos  hoje apenas dois:  os Descobri-  revisão.  Prosseguiu o  NC  4,  sozinho,  até Ponta
             mentos, pelo que representaram. para o conheci-  Delgada, dali para Lisboa a, finalmente, para Ply-
             mento e progresso do Mundo e os voos dos pionei-  mouth onde amarou a 30.
             ros da aviação. pelo contributo que deram para o    O  comandante deste avião,  primeiro-tenanta
             espectacular desenvolvimento deste ramo da ac-   Read, e a sua tripulação (dois segundos-tenentes,
             tividade que, em pouco mais de meio século. tor-  um mecânico e um telegrafista) foram agraciados
             nou passivei a  exploração do espaço e  já levou o   pelo nosso Governo com a Ordem Militar da Torre
             homem à Lua.                                     e  Espada, grau de comendador, e  as tripulações
                Em  ambos  os  casos  ocupamos  um lugar de   que chegaram aos Açores com o grau de cavaleiro.
             honra, entre os melhores. Simbolizamos os Desco·    Porque era inédita a concessão desta condeco-
             brimentos na épica figura do almirante Vasco da   ração a estrangeiros, o nosso Governo quis realçar
             Gama e os pioneiros do ar nos heróicos aviadores   o seu apreço pelo feito desses herÓicos.aviadores.
             da Marinha, comandante SacadurB Cabral e almi-
             rante Gago Coutinho, sem esquecer os muitos que                         -Ir
             antecipadamente foram desbravando o  caminho
             com o sacriflcio muitas vezes da própria vida.       Três anos volvidos sobre este acontecimento,
                A  todos  rendemos  as  nossas  homenagens  e   mais precisamente no dia 30 de Maio de 1922, um
             manifestamos o nosso respeito e veneração.        hidroavião  transatlântico  teFaireYlI,  com o  nome
                                                               de  ICLusitâniall,  descolava do Tejo para tentar a
                                   -Ir                         primeira travessia aérea do  Atlântico Sul,  entre
                                                               Lisboa e o Rio de Janeiro, com escalas em Las Pal-
                Vem  isto  a  propósito de uma efeméride que   mas, Cabo Verde, Penedos de S.Pedro e  S.Paulo,
             este ano foi  comemorada,  reproduzindo-se,  com   Fernando  Noronha,  Recife,  Bafa,  Porto  Santo  e
             um  hidroavião  IlCatalinall,  a  primeira  travessia   Vitória.
             aérea  do  Atlântico  Norte,  realizada  em  1919    Não tinha aparelho de rádio, não tinha navios
             por um hidroavião IlCurtissll da Marinha norte-   a apoiá-lO no mar-uma canhoneira em Cabo Ver-
             -americana.                 .                     ao e o cruzador d{epública» nos Penedos ... Leva-
                O caso teve fraca repercussão em Lisboa, onde   va apenas, isso sim,  um grande piloto  e  um ex-
             apenas a Marinha se m&nÜestou recebendo os tri-   traordinário navegador, que iam utilizar métodos
             pulantes junto à  Torre de Belém, onde amarou o   de navegação comprovados em voo anterior entre
             hidro, e oferecendo-lhes uma recepção na Messe    Lisboa e  Funchal. O resto dependia do motor ... e
             de Cascais. Explicação? Talvez no que segue.      da sorte I
                                                                  O «Lusitânia II perdeu-se na amaragem em mar
                                   -Ir                         picado junto aos Penedos, continuando a viagem
                                                               noutro hidro, o  KPortugab, que também se afun-
                Na travessia dos americanos todas as precau-   dou, depois de uma amaragem forçada por para-
             ções tinham sido tomadas para que nada falhasse.   gem do motor.  Concluiu-a um te·rceiro,  o  IlSanta
             Os três aparelhos que a  iam tentar eram equipa-  CruZ)), em apoteose e perante o deUrio das popula-
             dos com rádios de longo alcance, havia navios de   ções dos dois povos irmãos.
             guerra  escalonados  ao  longo  do  percurso  para   Com esta magnífica aventura, como a  classifi-
             prestar assistência  e  balizar o  caminho, e  havia   cou o  jornalista Norberto Lopes, repórter de um
             um aparelho de reserva embarcado. Os navios in-   jornal a bordo do IlRepUblica», demonstrámos 80
             dicavam a sua posição durante a noite acendendo   Mundo que se podia navegar pelo ar com a mesma
             potentes llrojectores logo que se ouvia o barulho   certeza com que se navegava no mar.
             dos motores dos aviões .
               . A partida fez-se de Rocawey no dia 16 de Maio
             de 1919,  e  o  itinerário previsto era:  Terra Nova,
             Açores, Lisboa e Plymouth.
                Logo  na  amaragem, · junto  ao  destroyer  que



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