Page 366 - Revista da Armada
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A SAÚDE EM CAUSA



               Vírus e viroses






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                    vulgar a pergunta feita ao médico: - O que é um   que é  muito pouco para explorar um vírus mas, mesmo
                    vírus e qual O seu comportamento?             o microscópio electrónico não descobre a molécula (um
              E  Esta  curiosidade,  apresentada  ao  biologista   conjunto  de  átomos).  O  vírus  possui  uma  «linhagem»
               francês prof.  Lepine,  leve a  seguinte resposta:  /I est un   molecular mui to específica ...
               virus, et c'est toul (É um vírus, e é tudo). Do seu compor·   Em todo o  caso,  foi uma extraordinária conquista  a
              lamento disse ainda: parasitisme surtout (sobretudo para-  revelação de algumas centenas de «angstrõms» (o «angs-
              sitismo).                                           tr6m» é a mais pequena medida no horizonte da micros-
                 A  resposta não foi primária, até porque não está segu-  copia, a medida do átomo de hidrogénio, a medida mais
              ra qual a sua verdadeira classificação, se anir-lal se vege-  ínfima do universo astral e dasamplidões intermundos).
              taI. Sabe-se que é uma existência provocadora de doenças
              infecciosas; que é difícil de detectar pela instrumentação
              óptica actual e que não se consegue conhecimento de va-
              lia devido à  sua  pequenez e comportamento específico.   É  ocasião  de  refer-enciar  o  padrão  das  grandezas  a
              Dificilmente  se  deixa  cultivar  no  laboratório,  e  assim   partir do milímetro, formalmente visível com uma lupa.
              mesmo, a cultura apenas se pode tentar dentro da célula   Segue-se o mícron (mil vezes mais pequeno que o milíme-
              humana.                                             tro); o  milimícron  (mil  vezes menor que o  micron) e  o
                 Mas a descrição do agente virai não é empreendimen-  «angstrõm» (dez vezes inferior ao milimicron).
              to  difícil,  porque ele,  visto  na  microscopia electrónica,   O microscópio óptico aumenta apenas mil vezes e per-
              não vai além de um complexo de moléculas e de um com-  mite observar os objectos da ordem do mícron. O electró-
              posto de ácido ribonucleico, o que  lhe dá possibilidades   nico  aumenta  até  às  seiscentas  mil  vezes,  permitindo
              de reprodução. Dada esta aparente simplicidade, é ainda   «ver» as grandes moléculas.
              agente patogénico que não segrega toxinas, não provoca   Estas  repetições  admitem-se  em  atenção ao  que  se
              toxémias ou erupções. Enfim, fora da célula, o vírus é ino-  segue.
              fensivo, porém, espera que a pequena «vivenda» lhe sirva   Permite  ao  leitor  deixar  correr  a  imaginação,  por
              de guarida. O caso apresenta já outra faceta quando força   enquanto no domínio do fantástico e idealizar um micros-
              e atravessa a membrana parede celular. Então, assimilan-  cópio  electrónico  que  aumente  dez  milhões  de  vezes!
              do a geleia da vítima, começa a sua acção de parasitismo   Imaginemos  agora  um  glóbulo  vermelho  sangufneo
              infiel, reproduzindo-se às centenas. Aproveitando o meio   colocaçio na platina dum microscópio vulgar. Esse glóbu-
              húmido. destrói a acção metabólica da presa e mata a hos-  lo  medirá sete  milímetros de diâmetro,  mas,  visto pelo
              pedeira. Em seguida espalha a sua grei, à procura de no-  «dez milhões_ mediria três metros e meio e nestas circuns-
              vas vítimas.                                        tâncias, o indivíduo possuidor desse glóbulo mediria, Can-
                                                                  tasticamente, dois  quilómetros!. ..  Continuando com  as
                                                                  medições  paralelas,  uma  célula  animal,  «ver-se-ia  com
                 Doenças provocadas por vírus são, entre Outras: a gri-  dois  metros»;  um  vírus  mostrava-se  com  um  metro  de
              pe, o  sarampo (parotidite epidémica), os herpes  (espe-  altura;  uma  molécula ,  com  um  centímetro;  um  átomo
              cialmente oculares), a paralisia infantil , a raiva, e a histó-  (um «angstrõm), mediria um milfmetro, e uma pulga, de
              rica e terrível varíola, dizimadora de povos, mas creditada   seu tamanho natural, um mílitro, mostrava-se com a am-
              já pela  O.M.S., como  erradicada,  mercê  da  profilaxia   plidão de Lisboa!
              pela vacinação antivariólica.                          Evidentemente,  estamos cogitando irrealidades que
                 O diagnóstico duma virose não é fácil por duas razões:   mais se parecem com r-etlexões absurdas, sem nexo, mas,
              a  investigação  laborial  dos  anticorpos  e  a  microscopia   biologistas  de  boa  craveira,  dão-lhes  atenção.  Deste
              electrónica.                                        modo  constroem  «escalas  de  referência»  comparando
                 Com a pesquisa de anticorpos já se conseguiu classifi-  milímetros com «angstrõms», em logaritmação.
              car algumas dezenas de vírus,  mas esta variabilidade de   Poderá  construir-se  um  microscópio  electrónico  de
              comportamento é bastante grave, pois a imunidade alcan-  dez milhões de ampliação? Não sabemos, ninguém sabe,
              çada só aparece numa determinada espécie- acção infe-  mas  todos  nos  lembramos das inventivas destes últimos
              liz, porque deste modo é quase impossível fabricar uma   anos:  novas  tecnologias  na  computarização,  novos
              determinada vacina específica. Foi o grande problema da   vídeos, energia nuclear, raios Laser, satélites de informa-
              r.aiva e o grande valor de Pasteur.                 ção espacial, as  sondas, o  desembaraço dos fusos horá-
               .  Para  revelar  uma  virose,  a  microscopia  electrónica   rios, a evolução físico-química , etc., etc.
              está apta a denunciar o agente. A ampliação microscópica
              vai até às seiscentas mil vezes de grandeza! O microscópio
              ópti~ alcança o mícron (mil  partes de um milímetro), o

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