Page 370 - Revista da Armada
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sabe alguma de v6sonde eu o ame e   Pescadores velhinhos, que tlm netos   fende o infinito de pupila acesa,
                                    [esconda?   nas lanchas e saveiros gondolados   melhor do que os navios, sem amarras ...
             Sejacomofor,                      eficam paralíticos, quietos,      Vive, crocita, grita entre asespumas,
             ouvindo em cada espuma ~m perfume de   olhos dtJ corda mar tão marejados   rasga os mortos que vão à flor das águas
                                        [flor,   A saudade das fainas da campanha   erra como um poeta, entre claustros de
             um murmúrio de reza e a dnsia de perdão   noalro mar, entre regougos d'ondas,                 [brumas
             quefaz de cada forma um sonho-    na treva cava ou quando o luarbanha   eama a  ouvira mar, órgão d'eternas
                                   [-coração ...   eos vossos mortos vão, llvidas rondas                 [mágoas ...
             Seja onde for, 6 ondas, ondas frias,   das tardes de preguiça e mar banzeiro   E um dia por fim que alguém te prenda e
             mas a ouvir-vos rezarave-marias   em queé docefazera ... lavoura do mar»                     [enjaule,
             ou a rugir como profetas, sonho vão,   edormitar depois à proa dosaveiro   morre de tédio e de desprezo e nostalgia,
             osonho de fazer da terra um coração ...   eouvir mesmo a dormira mar a   de desespero como afiar sem caule
                                                                    [chapinhar   e a almasem a irmã que a compreendia ...
                     VIDAS  00 MAR
             Marinheiros doentes: como evocam   É a saudade do mar que vos consome.   E eu, pobre criatura errando à toa,
             n'um catred'hospital em que sufocam!   Pior do que o náufrágio e que as noires   misto de marinheiro e concha e ave
             Vossa saudadeseguird as velas                            [comfome,                          [marinha,
             como as asas nas noites de procela,   na água em raiva, mortos de fadiga,   a vida faz-me mal, é uma lagoa,
             em turbilhões d'espuma, semi-mortas   sempre agrilar por Deus n'umafún'a   longe do grande mar que me adivinha.
             Vossa saudade hd-de bater-lhe às portas                 [mendiga ..   Queeu viva sempre e morra ao pé do mar!
             todas feitas de luz e d'infinito ..                                 É lá, meu pobre amor, que hás-de
             Mesmo junto da mãe de olhar bendito,   É oque faz mais rugas q/J,e aos rochedos ...        [adorar-me.
             as mãos nas mãos da noiva, asoluçar,   É o morrer sem olhara quem vos deu   É lá que te eu hei-de ir transfigurar
             como quem pensa em Deus, a naufragar,                       [saúde   se um dia, por a morte, fores trocar-me.
             v6s pensareis no vosso deus, no mar ..   e  alegria e dare pãoe vida rude.   Tenho sede do mar como do corpo teu,
                                               Agora é só ficar, como destroços,   dá-me angelus de sonho e criadoras
             Pobres conchas saudosas, n'uma sala,                     [quedas.                           [lristezas,
             sobre um m6vel inerte que secala,                                   toda a minha alegria ele m'a deu,
             sem ouvidos p' ra angústia que vos mina:   Urio d'areia, espuma milagrosa   a mim queosei olhar de lágrimas represas.
             A música do mar toda em surdina   que Deus talhou emflor n 'uma hora triste,
             ressoa sempre em v6s: vinde escutar,   flor que ama aquela Flor tão dolorosa   A adoraçãO do mar reza-m'a nas artérias
             poetas-magos que sabeis a sina    a perfumara duna em que sorriste ..   o sangue que hei-de dar a um filho nosso ...
             de tudo o que nasceu para chorar.   Florque ela tanta vez foi de mansinho   Vai n'e/ea imensa dorde tudo o que eu
                                               pdlida de remorso, assassinar,                            [não posso
             Um coração fiel como esse vosso   que ela malou por mim, devagarinho,   criar a olhar o mar em [lorações etéreas ..
             conchas do mar, que ele escutou, a rir,   a li, Urio do mar, para me dar ..
             élodoosonhoporqueem vão me esforço,   Flor mártir que nas dunas desoladas
             um coração em queeu me fosse ouvir ...   perdidamente branca, ouves o mar,
             Um coração em que palavras minhas   sem ele as luas horas estão con/adas,
             ressoassem em meigas ladainhas    mesmo nas suas mãos hás-de murchar ..
             como vozes de adeus na bruma fria ..   E o teu perfume irreal de moribunda
             Um docecoraçãad'ave mario         é um grito de saudade que lancina
             por meu destino e por minha sede   ese sente a vibrar na noite funda ...
             de errar, de amare de deitar a rede   É o soluço d' amor da corola argentina.   De .Ouano»
             do meu olhar, à vista de mistério   O corvo, águia marinha, ave de presa   António Patricio- Obrll$ Completas
             vista através d' um outro olhar etéreo ...   com quimeras sangrentas entre as garras,   Livraria Sam Carlos - LüboD - /974




             Livro das Armadas (11)




                Texto actualizado do  códice reproduzido na  contra-  D. João da Silveira, para capitão de Cananor;
             capa:                                                    Álvaro Barreto, para a China;
                              No  ano  de  515                        Francisco~de Távora, para a China;
                                                                      D. Álvaro de Menezes, capitão-mordomar;
                Partiu para a índia a sete de Abril Lopo Soares de Al-  D. Guterres  de  Monroy,  castelhano,  por  capitão
             bergaria, por capitão geral e governador, com uma arma-     de Goa;
             da de quinze velas com estes capitães:                   Cristóvão de Távora, para capitão de Sofala;
                                                                      Álvaro de Teles Barreto, por capitão de Malaca.
                   AntÓnio Lobv Falcão;
                   Diogo Gomes de  Vasconcelos, por capitão da Fei-
                     toria de Cochim;
                   Lopo Soares;
                  Jorge Mascarenhas;
                  Jorge' de  Brito,  copeiro-mor, para capitão de  Ma-
                     laca;
                   Simão de Oliveira;
                   Fernão Peres de Andrade;
                   Simão de Alcáçova, para a China;             ••••••••••••••••••••••••••••••

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