Page 408 - Revista da Armada
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construir vários quadrantes usan·
            do este tipo de nónio, mas acerca
            destes  instrumentos  Delambre
            diz-nos que aquele famoso astró-
            nomo  cedo  os  abandonou,  o  que
            não teria feito se os erros não fos-
            sem superiores a 1 ou 2 minutos (4).
               Meio século mais tarde, Jacob
            Curtia e  depois Cristóvão Clávio,
            este  no  livro  "Opera Mathemati-
            cu, publicado  em  1611,  tentam,
            utilizando a ideia de Pedro Nunes,
            encontrar  uma  solução  prática
            para este importante problema da
            subdivisão das escalas circulares
            dos instrumentos de medida, mas
            pouco adiantaram. Rómulo de Car-
            valho  descreve-nos,  com  grande
            detalhe, esta fase do problema em
            uPosição Histórica da Invenção do
            Nónio de Pedro Nunes» (5), que é a
            obra mais importante que se dedi-
            ca a este assunto.
               Viria a ser o francês Pierre Ver-
            nier a  ficaI  na história,  propondo
            na obra  «Des  Parties  de  l'Instru-
            ment,  &  des  Divisions  d'Iceluy,
            Lors qu'il a  un Pied de Demy Dia-
            metrel!, publicada em 1631, a utili-
            zação de um cursor móvel que foi
            apelidada  de  Vemier  apesar  de.
            em alguns pa!ses ser usado o ter-
            mo  nÓnio,  como  homenagem  ao
            criador da ideia originaL  Foi este
            dispositivo  que  dotou  as  escalas
             de muitos instrumentos e, em es-
             pecial,  dos  oitantes  e  sextantes
             durante dois  séculos,  até à  intro-
             dução do tambor micrométrico que
             facilitou extraordinariamente alei-
             tura.                               ·Para o efeito terá de se procurar   Quadrante dela tio, d6grand6$ dimenJl66s,
                Para  os  menos  familiarizados   a graduação do nónio que coincide   usado por 1'ycbo-Brahe,  onde esUlo repre-
                                                                                 sentadas algumas das escalas do a6Dlo de
             indicamos o funcionamento deste   (ou  fica  mais  próxima) duma gra-
                                                                                 PedroNUnfl!l.
             n60io. Para o  efeito utiliza-se um  duação da escala AB. Neste caso é
             cursor graduado de modo a que n   a  sexta divisão  e  assim a  medida   que respeita à paternidade do 06-
             divisões  da escala corresponda a   de X é  exactamente 2.6. De facto,   nio_ O leitor poderá também, com
             n- l ou n+l divisões do cursor, ten-  as 8 divisões da escala AB  corres-  os  elementos  que  lhe  deixamos,
             do os  primeiros  a  designação  de  pondem à soma do comprimento X   participar nesta apaixonante dis-
             OÓDi08 retrógrados e os segundos  com  as  6  divisões  do  nóruo  que,   cussão. No entanto, apesar de ter
             de  n60i08  directos.  Como exem-  como vimos, valem 9110 daquelas.   sido  longo  o  caminho  percorrido
             plo,  escolhemos um  nónio da se-  Assim,                           entre a concepção teórica de Pedro
             gunda espécie, onde é fácil de ver         8= 6 x 9/10+X            Nunes  e  a  realização  prática  de
             que cada divisão do 06nio CD cor-  ou seja,                         Pierre Vernier, o que não resta dú-
             responde  a  9/10  das  divisões  da       X=8-5.4=2.6              vida é que a ideia original se deve
             escala AB, e com a qual pretende-    Tem havido através dos sécu-   ao nosso famoso cosmógrafo. Foi
             mos medir o comprimento X.        los  uma calorosa controvérsia no   esse,  na realidade,  o  grande mo-
              A                                                              8   mento de génio.
             ..                     ,   •    ,    6   ,    •    ,  ,         ,                 A. Estácio dos Reis,
                                    I
             I  I  I
                                                       I
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                 "  "  "  "
             I  I  I  I  I  I                I  I  I  I  I                    I     (4)  AUrOaoml. du  Moy.a-.g.,  Paris.
                                                                  l        •     1818,páq. 406 .
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                                                                 o
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