Page 9 - Revista da Armada
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Vem-nos levar à conquista final                                      Queosol, sem mancha, o cristal sereno
        Da luz, do Bem, doce clarão irreal.                                  Volatilize, aoseu doce calor.
        Olhai! Parece o Cruzeiro do Sul!                                     A fria e exangue liquescéncia ..
                                                                             Um hálito! Não embaciará de veneno.
                                                                             Indecisa, incolor,
                       II                                                    Da areia o brilho e a viva transparência.
        Vem conduziras naus, ascaravelas,                                    Recortes vivoS das areias,
        Outra vez, pela noite, na ardentia,                                  Tomai meu corpo e abride-lheas veias ..
        A vivada das quilhas.  Dir-se-ia                                     O meusangue entornai-o,
        Irmos arando em um montão de estrelas.                               Difundi·o, sob o rútilosol,
                                                                             Na areia branca como em um lençol,
        OUlra vez vamos! Côncavas as velas,                                  Aosol triunfame sob o qual desmaio!
        C/lja brancllra, rútila de dia,
        O luar dulcifica ... Feeria                                                         11/
        Do luar não mais deixes de envolvê-las!
                                                                             Crislalizações salinas,
        Vem guiar-nos, Arcanjo, à nebulosa                                   Mirrai na areia o plasma vivaz.
        Que do além vapora, luminosa,                                        Não se desenvolvam as ptomaínas ..
        E à noite lactescendo, onde, quietas,                                Que adocicado! Que obsessão de cheiro!
                                                                              Putrescilla: - Flor de li/ás.
        Fulgem as velhas almas namoradas ..                                  Cadaverina: - Branca flor do espinheiro!
        -Almas tristes, severas, resignadas,
        De guerreiros, de somos, de poetas.
                                                                             Só o meu crânio, fique,
                                                                             Rolando, insepulto, noarea/,
                                                                             Ao abandono e ao acaso dosimum
                                                                             Queoso! e osal o purifique.

        A flor da vaga, oseu cabelo verde,                                         CANç..iO DA  P.4RTIDA
         Que o torvelinho enreda e desenreda ...
                                           !'..m  Hong-Kong,  /895, com Venceslau ae MO-
         O cheiro a come que nos embebeda!                                   Ao meu coração um peso de ferro
                                           raes(depj).
         Em qlle desvios a razão se perde!                                   Eu hei-de prender na volta do mar.
                                                                             Ao meu coração um peso de ferro.
         Plítrido o ventre, azul e aglutinoso,                                     Lançá-lo ao mar.
         Que a onda, crassa, num balanço a/aga,   Queeu, desdeapartida,
         E reflui (um olfacto que se embriaga)   Nãoseiondevou.              Quem vai embarcar, que vai degredado,
         Como em um sorvo, múrmurade gozo.   Roteiroda vida,                 As penas doamor não queira levar ..
                                           Queméqueotraçou?                   Marujos, erguei o cofre pesado,
         o seu esboço, na marinha turva ..                                         Lançai-o ao mar.
         De pé flulua, levemente curva;    Nalguma rocha ignota
         Ficam-lheospésatrás, como voando   Se vai despedaçar, com violento fragor   E hei-de mercar  um fecho de prata.
                                           Mareante, deixa ascartas da derrota.   O meu coração éo cofre se/ado.
         E asondas lutam, como feras mugem,   Maquinista, dá maisforça no vapor.   A sete chaves: tem dentro uma carta ..
         A lia em que a desfazem disputando,                                 - A última, de all/es do teu noivado.
         E arrastando-se na areia, coa salsugem.   Nem sei de onde venho.
                                           Queazar me fadou!?.                A se/e chaves-a carla encantada!
                                           Das mágoas que tenho,              E um lenço bordado ... Esse hei-de o levar,
                        II                 Osaisporqueosdou                   Que é para o molhar na água salgada
                                                                              No dia em que enfim deixar de chorar.
         Singra o IIQvio. Sob a água clara   Ou siga, maldito,
         Vê-se o fundo do mar, de areia fina ..   Com a bandeira amare/a ..     Variante às estrofes finais, encontra-
         - Impecável figura peregrina,                                       das à margem do manuscrito do autor, e
         A distância sem fim que nos separa!   Pomares, chalés, mercados, cidades ...   abandonada poreste.
                                           A olhar da amurada,
         Seixinlws da mais alva porcelana,   Que triste que estou!            Umfecho de prata
         Conchinhas tenuemente cor-de-rosa,   Miragens do nada,               Quisera-o mercar ..
         Na fria /rallSparência luminosa   Dizei-me quem sou ..               O meu coração,
         Repousam, fundos, sob a água plana.                                  Depois de fechado,
                                                                              Quisera-o selar.
         E a vista sonda, reconstrui, compara.            II                  Tem den.tro uma carta,
         Tantos naufrágios, perdições, destroços!                             Não posso esquecê-la ..
         6 fúlgida visão, linda mentira!   Nesgas agudasdoareal               Sepullo-a no mar.
                                           E gaivotas que voais em redor do navio,
         Róseas unhinhas que a maré partira  ...   Tomais o meu cérebro mole,   E um lenço bordado,
         Denlinhos que o vaivém desengastara   - Esmeralda viva do Canal      Queeu hei-de levar.
         Conchas, pedrinhas, pedacinhos de   E desertos inundados de sol!-    Cartin.ha encantada,
                                  [ossos ..   Meu pobre cérebro inconsequente e   Repousa no mar.
                                                                    [doentio!   Porém o lencinho,
                                                                              A água salgada
                ROTEIRO DA  "'IDA          No qual uma rede se desenha,       Queohá-demolhar,
                                           C0'rlplicada, de sofrimentos irregu/ares ...   Esó do meu pranto,
         Enfim, levantou ferro.            -Aguasque filtrais na areia!-      Nãoéodomar.
         Com os lenços adeus, vai partira navio.   Antes que o crepúsculo venha.
         Longe das pedras más do meu desterro;   O crepúsculo e as larvas tumulares.     (" C/I'psidra I' 0U/r05 Poemas*
         Ondas do azul oceano, submergi-o.   A impureza inútil dissolvei-a.           - Edições Álica. Colt'cção Poesia)

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