Page 10 - Revista da Armada
P. 10

RETROSPECTIVA (5)



              Quando a Marinha tinhas asas ...





                             A h~tóri.a da Marinha Dão é leU. só de
                             batalhas navais, viagens, encalbes,
                             naufrágios ... H,ill tambémde pequenas
                             roisas, como estas.

                   iz o povo que o que rem  de ser tem muita força ...
                   Se não acredita, peço-lhe que medite sobre o caso
             D que  vamos  relatar  e  depois  diga  se  ele  tem  ou
             nào razão!
                Estávamos no dia 22 de Outubro de 1943, em  plena
             II  Grande  Guerra,  e  em  perspectivas  de  uma  invasão
             da Península pela Alemanha Nazi. então ainda cheia de
             força.
                                                                 Umaviilobimolo,.BtQUfighu, •.
                No aeroporto internacional da Portela de Sacavém es-
             tavam instaladas, a título precário, duas esquadrilhas de
             aviação: uma de caça, da Aviação Militar, e outra de ca-  como constava do quadro de ardósia. Com ele mudaram
             ças-bombardeiros, da Aviação Naval.  Vivendo  paredes   também o mecânico e o telegrafista.
             meias e  na  melhor das harmonias,  preparavam-se para   Tudo em ordem, vamos então fixar a atenção no n.03
             enfrentar, com os limitados meios de que dispunham , a   por ser aquele que viria a ser a vedeta deste trágico voo.
              poderosíssima  Lurtwaffe,  o  que  felizmente  não  veio  a   Quando me preparava para trepar para o meu lugar,
              acontecer.                                         o tenente Lobo resolveu que o melhor era ir ele, porque
                                                                 sabia  bem  as  experiências  que  queria  realizar  entre  o
                                  000                            avião e o camião, em terra. E, para não atrasar ainda mais
                                                                 o voo, vestiu o meu próprio equipamento e subiu para o
                08.30 horas da manhã luminosa desse dia, temperatu-  avião.
              ra  amena,  céu  azul  e  transparente ...  apetecia  mesmo   Ainda me demorei por ali o tempo suficiente para as-
             voar.                                               sistir à descolagem dôs três,-que se juntaram em grupo no
                Começava a azáfama diária nas duas esquadrilhas.   ar, e seguiram rumo ao Norte.
                Junto ao limite Leste do relvado do campo, local que   No avião n.03, iam pois: O primeiro-tenente Félix Al-
             era  destinado  aos  aviões  da  Marinha,  três  bimotores   berto Mateus Fernandes Lobo (32 anos), o segundo-sar-
              «Beaufighter~ aqueciam motores e faziam os testes finais   gento mecânico José Antunes Nogueira (40) e o primeiro-
             para o voo. Dois deles tinham já as tripulações completas;   -marinheiro telegrafista António Luís Pacheco (25).
              no terceiro faltava apenas o piloto.                  De notar que, à série de trocas de piloto deste avião,
                Segundo constava no quadro de ardósia existente no   há que juntar que o sargento Nogueira não estava escala-
              barracão - sede da esquadrilha - o n. ° I seria comanda-  do para este voo mas, como precisava fazer horas, pediu
             do pelo primeiro-tenente Tela  Pacheco, o  n.02 pelo se-  ao camarada a quem competia, para o deixar ir no seu lu-
             gundo-tenente Costa Santos e o n.03 pelo subtenente da   gar, o que foi autorizado superiormente.
              Reserva Naval Torre do Vale.
                Eram  já quase 09.00  horas -  hora marcada para a
             descolagem - e o subtenente T. do Vale ainda não tinha
             chegado.                                               Teria passado meia-hora, depois que os aviões desco-
                O primeiro-tenente F. Lobo, segundo comandante e   laram, quando foi dado O alarme. Dois dos aviões comu-
             encarregado de marcar os voos, mandou-me chamar, di-  nicaram, por fonia, que o  terceiro se tinha despenhado,
             zendo que eu substituiria o T. do Vale. E, pegando na es-  e estava em chamas, nos areais da costa, perto de Ovar.
             ponja, apagou O T no quadro e escreveu um M.           Não interessa descrever aqui as causas do acidente-
                Enquanto me equipava, explicou que estava a  fazer   que teve origem numa grave deficiência de um motor -
             experiências de radioajudas, montadas num camião, para   nem a forma como tudo se passou, JX>r não ser O objectivo
             orientar os aviões  na aterragem, com má visibilidade e,   desta retrospectiva.  Pretendemos apenas realçar a série
             para não  perdermos tempo, ia completando as explica-  de factores imponderáveis que se verificaram, e haviam
             ções do que devia fazer o  meu avião, enquanto nos diri-  de levar à morte o tenente Lobo e o sargento Nogueira.
             gíamos ambos para a pista.                             Senão vejam: o subtenente T. do Vale, que era muito
                Chegados junto ao avião n .°3, que era o que me estava   assíduo e pontual, faltou. Foi designado para ocupar o seu
             destinado, reparou que o tenente Costa Santos, por enga-  lugar o primeiro-tenente M. do Vale. O segundo-tenente
             no,  estava  aos  comandos,  e  mandou-o  passar  ao n.02,   Costa Santos que já estava aos comandos do aparelho aci-

             8
   5   6   7   8   9   10   11   12   13   14   15