Page 122 - Revista da Armada
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o rio T /'jo. fragata e «cacilheirQ~ que firam/' os miradouros donde I'/! o Irwls/.'U'IIe lisboelu essa panorâmica murm,i1hosu?



           Uma janela para o rio








           S    e  o  porto  de  Lisboa,  como  acontece  com  quase   oulras actividades de ganho menos fáci l, mas perdurável,
                                                               isto conjugado com a pouca e pobre gente que então éra-
                tudo , tem balançado com o  rondar das eras pelos
                                                               mos -à volta de um milhão- de capitais a maior parte
                altos e baixos duma espécie de montanha russa de
           registos económicos, não [ai  por isso que alguma vez se   deles obtidos por empréstimos, levou os navios, nossos e
           lhe apagou a beleza nem o fascínio que os grandes espaços   alheios, a rarearem nas águas calmas do Tejo. Poderia ter
           vivosoferecem.                                      havido o discernimento de produzir, portas dentro, aque-
              O desvendar da passagem sul entre o Atlãntico e o Ín-  les  produtos que serviam de troca aos importados; mas
           dico,  o  revelar de  extensas  lerras no subcontinente  do   não.  Compravam-se tecidos em Marrocos para os trocar
           pau-brasil, os carretos de riquezas aí conseguidas, trans-  por ouro, marfim, escravos, que de seguida vendíamos-
           portadas em naus de arqueação crescente (praticamente   como diríamos hoje- sem valor acrescentado.  Lucro na
           até à rotura), e depois comerciadas, fizeram de  Lisboa e   venda, que  se dissipava qual  manteiga em nariz de cão.
           do seu porto um centro de tráfego enorme para onde toda   Enquanto  países,  como  a  Holanda , desenvolviam  uma
           a  Europa convergia  (pena que o  bestunto  lusitano nâo   agricultura intensiva, diversas indústrias e capitalizavam
           tenha dado  para conseguir obra  mais  sólida, de  lavar e   o comércio, foi o nosso Portugal de seiscentos ficando es-
           perdurar).                                          tagnado numa ruralidade medieval de que hoje, ainda, se
              Nas suas águas houve História, com páginas honrosas   não desenvencilhou de lodo. Enfim, a época áurea deste
           de  brilho e de valor, por nós e por outros ali  escritas.  A   magnífico estuário virava de página.
           tomada de Lisboa, na génese da configuração geográfica   Remanso de águas, aragonesas na origem, avoluma-
           do  território continental.  a defesa da cidade contra  pre-  -se  no  trânsito do planalto castelhano, e, já  menos. em
           tensões castelhanas, na instituição da dinastia de Avis, a   Portugal, onde, todavia,  é cantado por poetas, que o li-
           partida do Gama para a Índia, a partida de Gago Couti-  gam muitas vezes com as sete colinas da capital, sobre ele
           nhoe Sacadura Cabral para o Brasil - isto para citar ape-  debruçadas. Porém, da poesia nem os poetas sobrevivem.
           nas algumas.                                       O Tejo, no princípio deste século, não possuía nem docas.
              A  decadência do comércio com terras da  Ásia  e  da   nem oficinas de reparaçiío de navios com  mais de dez pés
           América, por uma intemperança de exclusivismo mercan-  de calado. O lodo mostrava-se ainda à luz do dia, durante
           til  e lucro imediato, cujos horizontes se não abriam para   a  maré baixa, em  extensa  faixa  marginal,  praticamente

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