Page 155 - Revista da Armada
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d'água nos trabalhos de rescaldo, Ãlém de   E mostrou-lhe 11//1 impresso 1/0 qual se   ser cachorro -  o  outro fUl/cioll/iria  res·
        wn owro com queimadllras leves, a única   es/ipulava que os passageiros teriam de pa-  pondel/, agastado: - Você disse que ele se
        vítima fora o marinheiro atingido pela ex-  gar lU/I  acréscimo 1/0 preço da  passagem.   parece  mais com  III" cachorro.  Eu  disse
        plosão, queeu vira no corredor.    em escala crescente, p(lfa carregar consigo   que ele podiu ir como cachorro 011  como
           A  CHUVA  havia  passado e  o  céu se   aves, galOs e cachorros.   gato, tanto faz-asemelhallçaéamesma.
        encheu de estrelas,  Em pouco  Nova  lor-  - Macaco é a primeira I'ez que ocorre,   - Ou como U\'e - acrescentou a dona
        qlle surgia ao longe e ia crescendo aos I/OS-  por isso até hoje lião foi incluído I/a tabela.   110 macaco.
        sos olhos.  Vários  helicópteros sobrevoa-  Mas  não se  preocl/pe:  ele  poderá  viajar   - Niio: como ave também não.
        vam o navio.  Um deles pousou 1/0 IOmba-  como cachorro.                Outro passageiro, qlle aguardava a I'ez
        di/ho,  trazendo jornalistas.  O capitão,  ir-  O que significalla llue ela teria de pugar   de  extrair  sua  passagem,  resoll'ell  entrar
        ritado,  dizia  qlle  não fora  nada.  Infeliz-  o preço mais alIO da tabela pela viagem do   1/(/ COllversa:
        meme ninguém se lembrou de me elllrevis-  macaquinho.                  - Me permitem lima sugestão?
        taro                                 - Como cachorro? - proteslOu: - E   Todos  se  vol/arall/  pilra  ele,  imeres-
           Como  teoricamente  já  estivéssemos   por que não como gato?     sados.
        fora dos  Estados Unidos ficamos 1II0rlll/-  - Porque a inc/uí-Io em alguma cate-  - A seguir esse critério de semelhança,
        do  1/0 navio alguns dias,  até qlle ele fosse   goria,  me parece que a mais aproximada   vocês  não  chegam  a  resuftado  nenhum.
        reparado e pudéssemos reiniciara viagem.   seja a dos cachorros.     A ve  é  uve,  gato ê  galO,  cachorro  é  ca-
           Que transcorreu  desta  vez sem incên-  - Porqllê?                chorro.
        dios nem tempestades.  Passamos pelo Ca-  -  Porque elltre I/m macaco e um ca-  - Macaco é macaco. E dal?
        ribe  em  brancas  n/lvens.  Foram  quinze   chorro ..                 -  Daí que os  sel/hores  têm  de  criar
        dias de mar calmo.  Não lendo o que fazer   - Não  ~'ejo semelhallça nel/hu/l/u en-  lJUra  ele ullla categoria  /lova,  eis lUdo -
        a bordo, distra{-me ajudando os marinhei-  tre um macaco e 11111 cachorro.   encerrou o homem.
        ros.  Cheguei a deixar crescera barba.   O funcionário COÇOlI  a cabeça,  no que   - Então vai IlUgar mais ainda qlle ca-
                                           foi logo imitado pelo macaqllil/ho,  preso   chorro.
                                           11/1 sua gaiola:                    - Absolutamel/te.  Macaco  é  o  bicho
             «A  COMPANHEIRA                 - Bem , mas também lião acho que ele   qlle  mais  se  asumelha  ao  homem.  ESle
                                           se pareça com Ull! gato.          macaqui/,lro  podia  perfeitamente  viajar
                DE  VIA GEM»                 - Eu não disse que ele se parece com   como filho dela, por exemplo.
           A  moça vai para a Europa de navio e   III/I gato - insistill ela: - SÓ/lão I·ejo por   - Como fil/lO  mell? - protestoll ell/,
        um amigo que fá se ellCOlllra lbe encomen-  que hei de pagar por ele segundo a tabela   iI/dignada: - Tem cabimento o se/lhor I'ir
        dou  ... um macaco.  Para que ele qller um   mais cara.  Para mim ele podia ir até como   dizer uma coisa dessas?  Ele pode parecer
        macaco.  não cheguei  a  ficar  sabendo,  e   ave. Já lião está milita gaiola?   é com o senhor, e com toda a SIj(/ família,
        creio qlle nem ela mesmo.  Em IOdo caso,   O homem começou a rir:    nãocomi8°'
        COI/lO sI/a viagem será de lIavio,  comprou   -  Quer dizer que basta  meter dentro   - Perdão - I'oltou·se o homem, mui-
        o  macaco,  conforme  a  encomenda:  11m   de  uma gaiola  que é  III/ta  ave?  Ave tem   to  delicado:  - Não q/lis  ofendê-la.  Uma
                                           duas pemas, macaco tem quatro.    criancinha do tamanlzo deste macaco II/io
        macaquinho  desses  pequenos,  quase  11m
        sagui,  de  rabo  comprido,  que  coçam  a   - Quer dizer que eu  SO/I  ave,  porque   pl/guria /lado,  viajaria de graça.  Era lá que
                                           tambb~1 tenho duas pemas- retrucolI ela.   eu queria chegar.
        barriga  e imitam a geme.  MeteI/-O  IIWIIQ
        gaiola e lá se foi para legalizar a situação   - E lima questão de tamanho ... - va-  A  essa  alll/ra  resolveram  cOllsultar  o
        doseu companheiro de viagem.       cilaI/ ele.                       gereme do compal/hia.  Ele ouvill com si·
           Não precisou propriamen/e de um pas·   -  De  tamanho?  E  a  diferença  elllre   lencioso imeresse a explanação llue IIle fez
        saporte para  ele:  precisou (ie  atestado  de   uma avestruz e 11m beija·flor?   o fUllciol/ário,  olhou para o macaquinho,
        salÍde,  de vacina.  disso e doquilo - além   Os outros funciO/lários  se  aproxima-  para a dona dele, para oscirC/ll/s/antes.
        do compeleme vislO em cado 1/1/1  dos COII'   ram, imeressados /Ia controvérsia.   - Vai como gato - deciditl peremplO-
        sulados dos países qlle prtetellde percorrer   - Na mi/lha opinião ele pode ir perfei-  riamellte. encerrando a discl/ssão.
        até  dlegar  ao  seu  destino.  Depois foi  à   tamellte  como gato  - sugeriu  IIII!  deles,   Não  sem  alltes  acrescemar,  em  tom
        companhia de navegação da qual será pas-  conquistando logo um sorriso agradecido   mais discreto:
        sageira. cuidar da licel/ça para ter o bichi-  da liona do macaco: - Gato sobe em ár-  - Aliás, devo dizer, a bem da verdade,
        nho COI/sigo a bordo.              vore, macaco também ...           que não se trata  de um  II/acuco,  mas de
           O funcionário que a atendeu, sem que-  -  Gato  mia  - tomou  o  homem:   uma macaca.
        rer criar difiCl/ldades,  fez-lhe  ver qlle até   MaC/lcomiu?
        elllão  não eSlava previsto o  trllllspor/e de   - Não mia nem late, essa é boa.
        macacos jl/mo com os passageiros lias na-  - AI!, é? Basta larir para ser cachorro?   (DI':  _A Companllia de  Viagt'm~
        vios daquela frota.                Elltrlo  ou! ati! au!  Agora eu SOII  11m  ca·   «A  Inglesa  Dl'slllmbrada.
           - A  senhora não leve a mal, mas olhe   charro.                           -O Gato Sou  Eu»,
        aqui.                                - Eu não disse que bastava latir para   Editora  Record - Rio dI' ltmeiro.)
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        António  Patrício ou  uma biografia incompleta



           É uma satisfação, infelizmente rara nos quatro anos que já   jura da sua Quinta de Barreiros, em terras bracarenses de Tebo-
        leva esta secção da Revista, receber observações ao que escreve-  sa, não levava a ajuda mais longe, pesquizando no Arquivo Ge-
        mos: elas são sinal de coisa viva, mesmo apesar dos erros e lacu-  raI da Marinha as circunstâncias cm  que o poeta de .. Oceano»
        nas (ou por isso mesmo).                            deixou  a Armada, depois de ter frequentado a Escola Naval,
           Foi o que sucedeu com a grossa omissâo que comelemos nas   facto que eu omitia.
        notas biográficas de António Patrício, publicadas no n.0182 da   Cabe  aqui,  antes do  mais,  um segundo a.sradecimento  do
        Revista, correspondente a Novembro de  1986.  Omissão tanlo   autor da  Antologia: ao  comandante José Agostinho  de  Sousa
        mais grave quanto se tratava precisamente da parle que à Mari·   Mendes, que pessoalmente localizou no Arquivo Geral da Mari-
        nha diz respeito.  O almirante  António Caires da  Silva  Braga,   nha o requerimento em que, a 3 de Dezembro dc 1897, o aspi-
        sempre atento e meticuloso como nos tempos em que coincidi-  rante António Patrlcio, freq uentando o 1.0 ano da Escola Naval,
        mos na Comissâo de  Redacção dos Anais, não deixou de notar   e «lendo cm considcração a justiça que ao supplicantc assiste»,
        a falha, com uma amável carta ma deu a conhecer; esó pela lon-  pede  a Sua  Majestade  para  ser classificado à direita dos  que
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