Page 235 - Revista da Armada
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No ano de 1455 (segundo Damião Peres), saiu de  La-
         gos uma  pequena caravela cujo capitão cra Vicente Dias            ANGEDIV A -1498
         e que levava como passageiro o veneziano Luís Cada mos-
          la a quem se deve a descrição do ocorrido na viagem.
            Teria essa caravela 45 tonéis, o que é o mesmo que di-                       POS lçóES F  MOVIMI;N"I'OS
          zer que  teria capacidade para levar 45  tonéis de 40 a 50                      'MOVAV" $  OAS OUAS
                                                                                              AMMAOAS
                                                                                          ~--_ ... ..-._ ..
         almudes no porão, debaixo do convés.  De  notar que já                           -
          nessa época as caravelas portuguesas eram armadas com     o
         peças de  artilharia  para se  defenderem  dos ataques dos   •                J   A'''''''''''_''''''''F''''''<'-'
                                                                                          A"' .. "'· .... "' .......... "..,..,~
         corsários e dos indígenas.
                                                                                          A.1I<" ... '''''''' .......
             Estando a caravela  de Vicente Dias fundeada no rio
         Senegal. juntaram-se-Ihe duas ou Iras que linham saído de                        AataI>Ib""" ____ ... ... _"
                                                                                          -'*_ ....... <~
                                                                                          -,-
          Lagos algum  tempo depois dela.  E, todas juntas, conti-                     7_ F __ ... ..-."""_
         nuaram a viagem para sul até chegarem ao rio Gâmbia no
         qual entraram e começaram a subir.                                            I _  F ........ ....,.
            Nessa altura foram atacadas por quinze grandes alma-     ~ .
         dias em que iam cerca de 150 negros armados com lanças,   ... ,."",.
         escudos, arcos e flechas. Trataram logo as caravelas de se
         aprontar para combate colocando paveses na borda, isto
         é, escudos ou pranchas de madeira, e  reforçando os tol-
         dos, a fim de proteger as guarnições contra os arremessos
         das nechas envenenadas dos atacantes.
            As almadias rodearam uma das caravelas que ia  mais
         adiantada e, depois de alguns minutos de observação, co-
         meçaram a atacá-Ia com flechas.  Responderam os da ca-
         ravela disparando a artilharia O que, obviamente, causou
         grande assombro nos atacantes. Mas, pelos vistos, não os
         atemorizou, pois que continuaram a aproximar-se e a lan-
         çar flechas. Já mais perto, começaram também a sofrer o
         tiradas bestas, além dos disparos dos canhões.
            Entretanto, as outras duas caravelas aproximaram-se
         e juntaram o seu fogo ao da companheira que estava seól-
         do atacada. Tendo já numerosos mortos e feridos, as [.1-                    .~.
         madias cessaram os seus ataques e afastaram-se para fora
         do alcance doscanhões.
                                                              e já enfadado com as dilaçe't:" e os embustes do Samorim,
            Tentaram então os portugueses chegar à fala com os
                                                              Vasco da  Gama mandou  razer fogo sobre três  almadias
         negros para os convencer a negociar mas nada consegui-
         ram . Mais tarde, tendo o vento refrescado, procuraram   em que estavam emissários seus e, seguidamente, aban-
                                                              donou Calicute, levando consigo alguns malabares como
         as caravelas ir fundear mais perto deles. Mas, logo que se
                                                              reféns.
         aperceberam desse movimento, as almadias meteram-se
         pelos meandros do rio e desapareceram .                 Ficou o Samorim sumamente irritado com este proce-
                                                              dimento e  procurou arranjar forma de  capturar ou des-
                                                              truir Vasco da Gama para tirar aos portugueses a possibi-
                                                              lidade de  virem  a saber que o caminho marítimo para a
         ANGEDlVA (Selembro de 1498)                          Índia fora descoberto e , portanto, de lá voltarem.
                                                                Deve dizer-se que sendo Calicute a cidade  mais im-
            As tentativas de Vasco da Gama para fazer amizade   portante da costa do Malabar, por cujo porto passavam
         com o  Samorim  de  Calicute e  para deixar uma  feitoria   por ano mais de seiscentas  naus, não teria sido dirícil ao
         nessa cidade  não foram bem sucedidas. Por um  lado, os   Samorim  organizar  uma  armada  suficientemente  forte
         comerciantes  islamizados (os  « mouros~ como lhes cha-  para criar sérios embaraços a Vasco da Gama se este, por
         mavam os portugueses de então) não se cansavam de te-  um  feliz acaso, não tivesse chegado à Índia durante o pe-
         cer intrigas contra Vasco da  Gama e de subornar os fun-  ríodo da «monção» em que chove torrencialmente e o mar
         cionários do Samorim para lhe criar dificuldades; por ou-  se torna allerosoo que, nesse tempo, obrigava a desarmar
         tro lado, Vasco da Gama não ia prevenido com o dinheiro   ou  pôr em seco todos os navios até  à  chegada do «bom
         e os presentes necessários para abrir caminho num centro   tempo~ (Setembro).
         comercial tão rico como era Calicute, dado que quando   Nas circunstâncias em que se encontrava, o Samorim
         partira de Lisboa ainda eram  muito mal conhecidos em   apenas pôde enviar em perseguição da armada portugue-
         Portugal os processos de comerciar no Oriente. Por tudo   sa cerca de setenta embarcações guarnecidas com  gente
         isso, Vasco da Gama não conseguiu vender toda a merca-  de  armas,  na  esperança  de a  poderem  tomar à  aborda-
         doria que levava  nem comprar a quantidade de especia-  gem.
         rias que desejava para carregar completamente os seus   Alguns  dias  mais  tarde,  encontrando-se  Vasco  da
         navios.                                             Gama um pouco a sul de Calicute , com os seus navios en-
            Em fins de Agosto, com a monção prestes a terminar   calmados,  foi  atacado  pelas  embarcações do Samorim.

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