Page 273 - Revista da Armada
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ROia e ultrapassada a linha de deverá ter feito um bordo para terra, mente demonstrada a Superioridade
bloqueio inimiga , João da Nova, pro- acabando por fundear, ao pôr do Sol, da artilharia e dos navios portugueses
vavelmente, terá continuado a nave· nas proximidades do Monte Deli, que sobre os seus congéneres indianos,
gar para o largo a fim de não perder fica cerca de quinze milhas a norte de sofreram os inimigos mais de quatro-
barlavento em relação a Cananor, Cananor. Durante todo esse dia con- centos mortos, além dos feridos que
onde tinha que tornar antes de poder tinuou a ser perseguido pelas naus, devem ter sido em número muito ele-
iniciar a lorna-viagem. Por volla do paraus e zambucos de Calecute tendo vado. Dos nossos, apenas uma deze-
meio dia, caindo o vento e ficando as conseguido afundar três das primei- na sofreu ferimentos ligeiros.
naus imobilizadas, é natural que os ras e mais sete dos segundos e tercei- De regresso a Cananor, a nossa
paraus e zambucos tenham intensifi- ros. armada capturou ainda uma ~nau de
cado os seus ataques que continua- Ao outro dia de manhã, 2 de Ja- Meca .. a que, depois de saqueada,
ram a ser repelidos pelo fogo da nossa neiro, estando a armada portuguesa João da Nova mandou lançar fogo
• artilharia. Vinda a viração, é de supor francamente a barlavento de Cana- com todos os tripulantesdentro.
que João da Nova, pela razão já refe- nor e tendo os Portugueses perdido Já de regresso a Portugal, por al-
rida, tenha posto a proa a nordeste, todo e qualquer receio do inimigo turas do Monte Deli , caiu-lhe nas
continuando a batalha a desenrolar- que, afinal, se revelara um «tigre de mãos uma segunda «nau de Meca»
-se nos moldes anteriores: arremes- papel», é natural que João da Nova que leve o mesmo destino da pri-
sos de nechas e tentativas de aborda- tenha decidido voltar para trás e co- meira.
gem, por parte dos navios de Caleeu- meçar a perseguir aqueles que até en- A armada de João da Nova, que
te; descargas cerradas de artilharia, tão o tinham estado a perseguir. Nes- chegou sem novidade a Lisboa em Se-
por parte dos Portugueses. Ao pôr do ta fase da batalha foram afundadas tembro de 1502 foi uma das poucas
Sol, tornando a cair o vento, as duas mais duas naus e três paraus ou zam- armadas da Índia que conseguiu ir e
armadas fundearam perto da costa. bucos de Calecute. vollar com os navios todos juntos e
Nos combates desse dia haviam Ê possível que tenha sido nesta al- sem perder nenhum.
sido afundados dois paraus de Cale- tura que o inimigo tentou pôr cobro Para terminar, diremos também
cute e avariados muitos outros. à chacina de que estava sendo alvo, que foi esta armada que, na torna-
Durante a noite, em queos Portu- mostrando por diversas vezes uma -viagem, descobriu a ilha de Santa
gueses tiveram de estar sempre de ar- bandeira branca, conforme refere Helena, no Atlântico Sul, que, mais
mas na mão, os mala bares tentaram Castanheda. O que não oferece dúvi- tarde, se haveria de transformar num
por diversas vezes pegar fogo às nos- das é que a armada de Calecute, com ponto de escala fundamental para a
sas naus, levando para junto delas al- muitos navios avariados e cheios de viagem de regresso da Índia.
madias (espécie de pirogas) carrega- mortos e feridos, completamente
das com materiais inflamáveis. Mas, desbaratada, já não pensava senão Satllrnino Monteiro,
de todas as vezes, foram pressentidos em escapar-se. Com as suas guarni- cap.-m.-g.
e escorraçados. ções exaustas por três dias de comba-
O dia I de Janeiro foi , pratica- tes e duas noites de constantes so- Bibliogf(lfia: _Descobrimento e Conquista
mente, uma repetição do dia ante- bressaltos, João da Nova abandonou do India pelo! POTfugueses~ de Fernão Lopes
rior. De manhã, com o terreal, João a perseguição e dirigiu-se, de novo, a de Cru/anhedo. ~ D«adas~ de Jodo de Barros.
«Crónica do Descobrimenlo e P,imeirlU Con·
da Nova deverá ter feito um bordo Cananor.
quis/Os da /ndio pelos Portugueses_ de an6ni-
para o mar e, à tarde, com a viração, Nesta batalha, em que ficou clara- mo.
NOS 500 ANOS DAS DESCOBERTAS
Bandeiras navais portuguesas
•
nosso distinto colaborador e grande amigo pintor morações que ora decorrem dos 500 anos dos Descobri-
Alberto Cutileiro autorizou a .. Revista da Arma- mentos.
O da,. a reproduzir uma série de 15 cartões, perten- Da ~Nota Explicativa .. que acompanhou a edição
centes ao Centro de Coleccionadores .. Casa do Cavaleiro transcrevemos:
à Porta,., com as bandeiras navais usadas desde o reinado O uso de bandeiras distincti vas da nacionalidade dos
de D. João II até 1888. 1/avios é relativamente moderno. Em principios do XV se-
A edição destes cartões é exactamente desta data e foi cu/o, os navios porlUgu.ezes distinguiam-se dos de outras
feita durante as comemorações do 4.° centenário da des- nações pela f6rma do casco e do appare/ho e pela cruz da
coberta do caminho marítimo para a índia. A edição foi ordem de Chris/o que /razimn pintada nas velas. É certo
de 100 exemplares a cores, sendo poucas as colecções que os lIavios de combate arvoravam algumas vezes ban-
existentes. deiras reais e, mais frequelllemellle, os guiões e bandeiras
Vamos reproduzir essas bandeiras, na contracapa, em de seus capitães; mas náo se ligava a toes insignias oUlra
números sucessivos, na intenção de homenagearmos os idéa que não fosse a de propriedade e de commando.
nossos navegadores, contribuindo também para as come- Abrimos esta collecção no reinado de D.ioãoll, p01
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