Page 272 - Revista da Armada
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o trato das especiarias com os reis da S. Brás, próximo do cabo da Boa Es- merciantes <,mouros» (muçulmanos)
costa do Malabar, D. Manuel , no ano perança, foi encontrada, dentro dum não tinha conseguido arranjar a pi-
de 1501 , limitou-se a enviar à Índia sapato pendurado numa árvore, uma menta suficiente para carregar com-
uma armada de quatro naus, das carta em que um dos capitães da frota pletamente as suas naus. Por isso, de-
quais três eram de particulares. Leva- de Cabral dava conta da situação em pois de ter embarcado a pimenta que
va essa armada cerca de trezentos e que ficara a Índia. Por ela concluiu havia na nossa feitoria de Cochim, re-
cinquenta homens dos quais apenas João da Nova, com alguma apreen- solveu voltar a Cananor. Aí chegado,
oitenta eram homens de armas, já são, que afinal as coisas não estavam foi muito bem recebido pelo rei que
que ia para comerciar e não para tão risonhas como se supunha quan- o autorizou a instalar uma feitoria e
combater. Para seu capitão-mar fora do partira de Lisboa. E resolveu levar providenciou para que lhe fossem
escolhido João da Nova. as quatro naus consigo em vez de dei- fornecidas as quantidades de pimenta
De notar que, nesta altura, ainda xar uma em Sofala conforme estipu- e gengibre de que necessitava para
prevalecia na corte de Lisboa a ideia lava oseu regimento. completar a carga dos seus navios.
de que era possível e desejável esta- Depois de ter feito escala em Quí- Estando esta praticamente con-
belecer relações comerciais pacíficas loa, Melinde, Angediva e Cananor, cluída, preparava-se João da Nova
com a Índia. chegou a Cochim onde constatou que para iniciar a torna-viagem quando, a
Chegada a armada à enseada de o feitor, devido à obstrução dos co- 30 de Dezembro, apareceu à vista de
Cananor uma armada que o Samorim
de Calecute organizara com o propó-
sito de destruir os Portugueses, com-
CANANOR posta por cerca de quarenta naus e
cerca de cento e oitenta parause zam-
1501
bucos (embarcações de remo e vela
mais pequenas que as fustas) em que
" '
iam embarcados para cima de sete mil
homens.
, , , , Vendo João da Nova com tão
, poucos navios e tão pouca gente face
à imensa armada do Samorim , o rei
" \ de Cananor aconselhou-o a abando-
, nar as naus e a fortificar-se em terra
onde, com a sua ajuda, se poderia de-
,
, , fender melhor.
, "
, , Como seria de esperar, João da
, , , Nova não aceitou o alvitre e, depois
, de se ter reunido em conselho com os
capitães das outras naus, resolveu
\ sai r para omar, onde melhor poderia
tirar partido da superioridade da sua
,
" artilharia e da melhor qualidade dos
" seus navios. Mas não o pôde fazer
"
nesse dia por já ter começado a so-
prar a viração (brisa do mar).
, Ao amanhecer do dia 31 de De-
zembro, apareceu a baía de Cananor
" completamente bloqueada pela ar-
mada de Calecute. Aproveitando o
terreal (brisa da terra), a armada por-
perwrso provtJveI das
duas armadas durante tuguesa suspendeu e foi ao encontro
8 batalha do inimigo, disposta a libertar-se do
anel de naus e paraus em que se en-
contrava encerrada. Travou-se então
uma furiosa peleja em que os navios
de Calecute lançavam sobre os nossos
nuvens de flechas ao mesmo tempo
que os procuravam abordar. Mas,
/ de andar muito juntos, não só se em-
,ii como eram muitose , por isso, tinham
baraçavam uns aos outros, como
constituíam um alvo fáci l para os nos-
5 '
, sos bombardeiros (artilheiros), es-
pingardeiros e besteiros que não per-
, diam um tiro!
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