Page 348 - Revista da Armada
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Pensei que talvez fizesse anos e quisesse comemorá-los desta para dentro e ele a comandá-los. de sobrecasaca. dragonas.
fonna, que lhe saísse algum dinheiro na lotaria ... que fosse medalhas. Ialim n. o I e espada desembainhada. completamente
promovido ... a verdade é que nunca o tinha visto tão satis- feliz e orgulhoso de si e dos seus rapazes ...
feito e afável! Atingimos uma tal perfeição no manejo de armas que já
A certa altura, pegou numa guitarra que ali tinha sempre fazíamos todos os movimentos sem vozes. Quem nos via quase
à mão, que tocava maravilhosamente. e. com voz roufenha. não acreditava como era possfvel! Parecíamos autómatos!
mas bem timbrada. trauteou um fado. quanto a mim. o mais Claro que havia uma pequenina batOta ... Para passar de um
belo que jamais se cantou em Lisboa. e o que mais se identifi- movimenlo a outro, contávamos todos em surdina um ... dois ...
ca com a cidade e as suas tradições: três ... quatro ... "up». Apesar disso, e para não falhar, segu(a-
"Há festa na Mouraria I É dia da procissão I Da Senhora mos o «up_ de um camarada que estava no meio da fonn3lura .
da Saúde I ( ... ) I Alé a Rosa )(.faria / Da Rua do Capelão I Nesse lempo. tínhamos todos bom ouvido ...
Parece que tem virtude I ( ... ) .• Fizemos uma dessas exibições no Coliseu dos Recreios,
numa festa militar que ali se realizou e foi um sucesso. Desde
* então passámos a ser conhecidos no meio naval pelas girls do
Fonü.
o que eie fez de n6s, na maior parte unspaisalltJes vindos O comandante ' Fortée, olhos azuis, cabelo e bigode
das berças! Na velha Sala do Risco, do antigo Arsenal da aloirados. baixo, atarracado e gingão, é um oficial que
Marinha, regado o chão para se não levantar pó. obrigava- lembrarei sempre com saudade e respeito, porque, em grande
-nos a repetir os exercfcios de infantaria tantas vezes quantas pane, foi com ele que aprendi a amar a Marinha ...
as necessárias para saírem como ele queria.
• &lou a ver o Corpo de Alunos fonnado, aspirantes impe- M. do Vale,
cáveis nos seus bonitos unifonnes. peito para fora e barriga c/o/"..
Marinheiros no lago Niassa
m 1954 o Governo inglês, após acordo com o necessidade de fazer uma triangulação geodésica prin-
nosso Governo, reconheceu finalmente a Portu- cipal de cerca de 220 quilómetros de comprimento e
E galo direito a metade das águas do lago Niassa uma suplementar apoiada nesta para suporte de nume-
no local onde Moçambique fazia fronteira. Ate então, o roslssimos pontos na margem donde se partiu para a
domlnio das águas do lago pertencera em absoluto ao sinalização hidrográfica. Foi tudo obra de dois a três
Império Britânico como potência colonial dos territórios oficiais, cinco praças e cerca de 100 a 150 trabalhadores
da Federação das Rodésias e Niassalândia e também negros e dois capatazes, também negros, que abriram
do Tanganhica. Contavam-se até histórias de almadias picadas. construlram sinais e mantiveram acesa uma
destruídas na nossa margem para que os Indlgenas sinalização luminosa nos marcos geodésicos duranle
moçambicanos não pudessem utilizar as águas do lago meses. Foi um Irabalho árduo que só se podia levar a
para navegar. cabo nos seis meses da estação seca, pois durante as
Depois do acordo, logo no ano seguinte, uma equipa chuvas as picadas ficavam intransitáveis e muitas
dos Caminhos de Ferro de Moçambique deslocou-se ao pontes desapareciam sendo reconstruldas no ano
lago Niassa onde navegou numa embarcação de boca seguinte. Mas foi também um trabalho interessantlssimo
aberta para escolher, num levantamento expedito. o numa zona virgem onde o homem branco há muito não
local onde se implantaria o futuro porto da linha de aparecia, onde as mulheres se acocoravam à nossa
caminho de ferro até Nacala. passagem como sinal de respeito, cumprimento que
Era tal a ãnsia de afirmação da soberania sobre as nunca viramos nem nunca mais lornámos a ver em
águas do lago que o engenheiro-chefe da equipa que África.
visitou o Niassa disse no relatório que -no diário de Todos foram importantes nestes djflceis levanta-
bordo ordenara que do nascer até ao pôr do Sol se mentos hidrográficos mas, hoje, vou falar apenas das
deveria içar a bandeira nacional ... como se a embarca- praças europeias que com muita dedicação, preserve-
ção tivesse diário náutico ou até pau de bandeira. rança e vontade de cumprir da melhor maneira, torna-
ram passivei o Irabalho de equipa e levaram a bom
lermo a nossa missão.
II
No ano seguinte coube à Missão Hidrográfica de III
Moçambique fazer o levantamento hidrográfico do lago.
dos seus vários portos e ancoradouros e dar. Igual- Mas, para situar melhor o leilor, voltemos ao Nlassa.
mente, um parecer sobre o porto, testa do caminho de Quando se fala dum lago tem-se, sem querer, a noção
ferro do Indico ao Niassa. Levou-se quatro anos nesla de uma extensão de água relativamente limitada nas
tarefa pois foi necessário partir quase do zero. Houve suas dimensões e, normalmente, de águas muilo
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