Page 345 - Revista da Armada
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A «FroI de la Mar»
S jornais têm dado notrcia de que foram encontrados
os reslOs da nau .. Frol de la Mar .. , o navio de Afonso
Ode Albuquerque, que se perdeu em Janeiro de 1512,
nuns baixos da costa de Samatra. aCluallndonésia. salvando-
-se, a custo, aquele grande ponuguês. O navio transportava
então muita artilharia e diversas preciosidades obtidas no saque
de Malaca, incluindo seis grandes leões de bronze que Albu-
querque reservava para ornato do seu túmulo.
O interesse desta descoberta é incalculável e não estamos
a pensar apenas na enorme fortuna que a .. Frol de la Mar»
transportava. O que queremos fazer realçar é que, no aspecto
arqueológico. este navio poderá conduzir à decifração de um
grande número de enigmas que se mantêm sem resposta,
especialmente. nos domfnios da conslTução naval e da
navegação.
Como é sabido. não existem elementos respeitantes à cons-
U'Ução naval do século XV e grande pane do seguinte. pois
as fontes mais antigas devem-se a Fernando de Oliveira (depois
de 1570). J. Baptista Lavanha (primeiros anos do século XVII)
e Manuel Fernandes co seu .. Livro de Traças de Carpintaria,.,
de 1616.
No sector da navegação terá um enorme valor o que vier
a ser encontrado num navio como a .. Frol de la Mar,.. A pos-
sibilidade de trazer à superfície instrumentos de navegação
usados pelos Ponugueses nos primeiros anos do século XVI,
pode vir a mostrar a forma de um astrolábio náutico. trinta
ou quarenta anos antes do mais antigo de que há notícia
- datado de 1540 - mas que desapareceu do Museu Nacional
de Palermo. na Sicnia, onde se enCOntrava. durante a última
Grande Guerra.
Torna-se, p'>nanto, indispensável que o grupo que está a
preparar-se para efectuar o salvamento da carga. não se limite
exclusivamente à caça do tesouro que, compreendemos, terá
O maior interesse para tornar a operação rentável. mas que
se preocupe também no aspecto arqueológico, em retirar da
.. Frol de la Mar:> toda a informação possível.
A Academia de Marinha, talvez a mais vocacionada insti-
tuição no nosso país para salvaguardar O património histórico-
-naval, já expôs o assunto superiormente para que se tomem Af_ dt Afbuqutrqut, stIJundo 61t(} apoSIO /lO Musru dr Man/lho, rm
Lisboa.
medidas cautelares. não só a nível nacional, mas a nível
mundial, o que pode ser feito com a panicipação da UNESCO.
A informação que possuímos, como começámos por dizer, guês. assim como será também portuguesa alguma parte da
limita-se, por enquanto, a notícias de jornais, algumas delas carga. Compreende-se, assim, a urgência que há em tomar
resultado de entrevista feita ao padre Manuel Pintado, resi- providências, não SÓ, como já se disse, no aspecto de procurar
dente em Malaca há mais de quatro décadas. É curioso notar, obter o máximo de informação, durante as operações de
que este estudioso que se tem interessado pela história das salvamento, seguindo os modernos métodos de arqueologia
relações entre Ponugal e a Malásia, é membro da Academia científica. como lentando auferir uma percentagem da pane
de Marinha. que compete aos pafses de origem.
Parece que. actualmente, depois de ter sido localizado o
navio, resultado de uma busca de três anos, a principal difi- A. Esttfcio dos Reis,
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culdade reside em encontrar uma plataforma de entendimento
entre o grupo salvador, a Indonésia. em cujas águas estão os
restos da .. Frol de la Maflo, e os proprietários iniciais dos bens.
N. R. _ Vi·sr o /lomt dr"a 'laU rscriw ooml) .Frol tft la Mar. ou .Flflr
que são naturalmente a Malásia e Portugal.
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E se a Malásia, por razões óbvias, quererá habilitar-se a manusr:ri//)s da ~poca qur f'Ullrml)l CQttSulta,. .LWfO das Armadas_ . dt OUll)r
um grande quinhào, nào nos poderemús esquecer de que o
navio e o seu annamento (no sentido lato do termo) é portu- (/J F,ol - flor: tspumn da.r (1#Idar
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