Page 343 - Revista da Armada
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os fidalgos e os soldados e confonando Raro era o dia em que não enviava 11 ros turcos, é, indubitavelmente a mais
os feridos. nossa armada uma fusta carregada com importante de toda a História da Mari-
Ao outro dia de manhã. ainda o Sol carneiros, galinhas. ovos, laranjas. nha Portuguesa e uma das mais impor-
não era nascido. aproximou-se da limões, hortaliças, etc. Aos fidalgos. tantes da História Naval Universal.
annada uma fusta com bandeira branca oferecia ricos presemes. Mas D. Fran- Sob o ponto de vista táctico. foi uma
trazendo a rendição incondicional de cisca de Almeida nada aceitou para si, batalha de aniquilamento que só encontra
Meliqueaz e com ela a entrega de Diu. nem mesmo um colar de pérolas e uma paralelo em Lepanto (157 1), Aboukir
Recebida a mensagem, D. Francisco de peça de brocado que Meliqueaz lhe deu (1798), Trafalgar (1805) ou Tsuchima
Almeida exigiu, como condição pr~via para sua filha e que ele enviou para a (1905). Sob O ponto de vista estratégico,
para qualquer negociação, a entrega ime- rainha. não terá sido menos importante do que
diata dos prisioneiros de Chaul. Uma Em troca dos favores de Meliqueaz. qualquer destas, antes pelo contrário,
hora depois. os prisioneiros davam foram-lhe devolvidas as duas naus que porquanto: assegurou aos Portugueses,
entrada na sua nau. ao som das trombe- lhe haviam sido tomadas na batalha. Os durante quase um século, o domfnio
tas e dos tambores, e, com lágrimas de galeões turcos ~ provável que tivessem absoluto do oceano índico; abateu
alegria a escorrerem-lhes pelas Faces. sido vendidos. sendo o prodUlO da venda consideravelmente o poder e O prestígio
cafam nos braços dos seus companhei- distribuído pelas guarnições dos nossos dos Turcos. que eram então o terror da
ros. Vinham vestidos de seda e cada um navios. As duas naus terão ficado em Diu Europa; marca o inicío dum longo
deles trazia cinquenta xerafins de ouro a carregar mantimentos com destino a período de domfnio da Ásia pelos Euro-
que Meliqueaz lhes mandara dar! Cochim. As quatro galeotas foram quei- peus que só tenninou com a entrada do
A conclusão dum tratado de paz (que madas. As duas galés capturadas pelo Japão na Segunda Guerra Mundial; cons-
foi escrito numa folha de ouro) não ofe- comendador Rui Soares é natural que titui um marco da guerra naval. na
receu qualquer dificuldade. D. Francisco tenham sido levadas para Cochim como medida em que consagra a nau como
de Almeida declinou o oFerecimento da troféus. principal navio de combate, em substi-
cidade de Diu que, no seu emender, seria Entre os depojos da batalha, figura- tuição da galé.
muito custosa de mamer, limitando-se a vam três bandeiras reais do suhão do Se os Portugueses não fossem um
deixar nela uma feitoria. Exigiu a entrega Cairo que foram mandadas para Portu- povo que pouca atenção presta 11 sua His-
das quatro galeotas de Mir-Hocem, dos gal e ficaram expostas no convento de tória Marítima, é provável que sentis·
turcos que tinham conseguido fugir para Cristo em Tomar. sem, em relação à batalha naval de Diu
terra e da anilharia das naus afundadas. Em relação aos cativos turcos, um sentimento semelhante ao que nutrem
além duma indemnização de trezentos D. Francisco de Almeida foi inclemente os Espanhóis por Lepanto, os Ingleses
mil xerafins a pagar pelos comerciantes mandando enforcar, queimar vivos ou pelo Nilo (Aboukir) ou Trafalgar e os
.. mouros_ que tinham financiado o despedaçar amarrando-os à boca das Japoneses por Tsuchima .
reequipamento da armada dos Rumes, bombardas a maior parte deles.
dos quais cem mil foram distribuídos Vingada a morte de seu filho, arru- Satumino Monteiro.
pelas guarnições dos nossos navios. mados os assuntos de Diu e despachadas Mp.·m.·g.
Meliqueaz aceitou tudo, conseguin- duas naus com mantimentos para Soco-
do, no entanto, substituir a entrega dos torá, D. Francisco de Almeida, a 12 de lJibliogrojitJ: ~cnWca do Durobrinlmlo I! Pri·
turcos pela sua expulsão dos seus domí- Fevereiro, iniciou com o resto da annada mi!iras Conquistas da India JH!Ws PonugUi!5t!S_ di!
nios. Tendo conseguido evitar aquilo que o regresso triunfa! a Cochim. anónimo; .,Di!stobrimi!nIO i! Conqu/slfI do Ind/o
pi!/05 PonugUi!5U_ di! Ft!r7l40 Lopu de Cas·
mais temia, que era o saque e o incên- A batalha de Diu. apesar de ensom-
tanht!da: _DIcad6s .. de JoiIo di! Borros: .LtndoJ
dio da cidade, eStava satisFeitíssimo e brada pelo tratamento cruel dado por da lrufia" de Gospor Corrria: _Cronico do Ft!li·
cumulava os portugueses de gentilezas. D. Francisco de Almeida aos prisionei- dssi"", Rtf D. Monui!/" dI! DanrilJQ dt G6is.
Voz da Abita
CARTAS AO DIRECTOR
Dos nossos leitores e amigos ( ... ) Como funcionária civil nas
recebemos a seguinte correspon- Forças Armadas todos os meses me
dência: é dado O grato prazer de convosco
.. convive". - deixai passar a expres-
De D. Maria Emflla de Rezende, são - através da vossa -Revista da
Tomar, a carta que gostosamente Armada-, que muito aprecio.
transcrevemos. felicitando-a pelos O artigo .. Mortos da Marinha nas
sentimentos que revela nos seus Guerras do Ultramar-, do número
versos que -escreveu ao correr da deste mês corrente[n. o 202IAgosto
pena_: 88), calou fundo em meu coraçSo
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