Page 165 - Revista da Armada
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escadaria berrava, autorizando Ali se comia e ali se passavam extrememente gratificantes, não só
pressuroso a nossa passagem: as horas de folga, conversando, jo- pela importância da missão do na·
- Abl Messieurs les Coman· gando às cartas, às damas, etc. Não via. mas também pela honra que ti-
dantsl Passez! Passezl Vitel Vitel havia bebedowos com água fresca, ve em comandar oficiais, sargentos.
Só que a lanterna agora baloiça· nem frigoríficos para bebidas. praças e assalariados guineenses a
va com amplitude maior, como em Os sargentos, cujos razoáveis cuja profissionalismo, espírito de
mar de vaga cavada, alojamentos eram situados a meio sacrifício, dedicação e tenacidade
Pelos vistos, o nosso d>iógenes!) navio tinham camarotes para dois, se ficou a dever o enorme trabalho
tinha bom gosto e apreciava o sala de refeições e câmara de con· produzido.
vinho do Porto, até mesmo quan· vivia. Os oficiais, tinham os seus De Novembro de 63 a Abril de
do do mais baratinho, como era o camarotes individuais, à popa, e o 69, realizaram·se 6 campanhas hi·
caso. imediato e o comandante no con- drográficas, cinco com 7 meses de
vés. Pode afinnar·se que estavam duração média e uma de 3 meses.
bem alojados. Com excepção das 1. ' e 3.', dedi·
Para terminar, presto a minha cadas apenas à Guiné, nas restan·
sincera homenagem a todos os ele· tes o tempo foi distribuído pela
mentos da guarnição -, desde o Guiné e Cabo Verde.
comandante ao grumete mais mar· O facto de estarmos em guerra
reta - os quais. habitando o espa· na Guiné e do agravamento das re·
ço restrito de um navio de guerra, lações com a República do Senegal.
foram capazes de criar um ambien· obrigou, por vezes, ao emprego do
te de sã camaradagem que contri· navio em operações militares, düi·
buiu decisivamente para o bom cultou enormemente os trabalhos
êxito da missão do navio e nos faz hidrográficos, em zonas perigosas
1 TEN SG José Maria Pereira, hoje recordar com muita saudade e originou a impossibilidade de fa·
na altura 2MAR CM: os 31 meses que passámos longe zer fabricas e docagens em Dakar,
Falar do ~~Pedro Nunes)) e da de casa, da família, dos amigos e de tendo que vir fazê· los a Lisboa.
maravilhosa comissão que nele fiz tudo o mais que tinhamos deixado É justo que preste aqui as mi·
no Extremo Oriente, é para mim em Portugal! nhas homenagens a este velho na-
uma alegria porque foi, talvez, o vio que. após cerca de 20 anos de
período da minha vida de Marinha altos serviços prestados ao País
- 43 anos de serviço - mais feliz como aviso de 2.' classe, ainda teve
e interessante, fOlego para ser utilizado como na·
A banheira como a gíria naval via hidrográfico por mais 211 Foi o
depreciativamente designava o na· primeiro navio da velha esquadra
via, portou·se sempre à altura das nova a entrar ao serviço e o último
circunstâncias, vencendo alguns a ser abatidol Forte e feio, portanto.
temporais com valentia e ostentan· Sob o meu comando teve uma
do orgulhosamente a bandeira das utilização de 64 % (1265 dias fora de
quinas por portos e mares dis· Lisboa num total de 1984) o que é
tantes. de registarl
Cerca de 70% das praças ti· VALM João Paulo Bustodf Uma ideia do esforço dispendi·
nham menos de 30 anos de idade; Guerra, na altura CFR, comandan· do na hidrografia da Guiné pode ser
nos sargentos e oficiais havia al· te do «Pedro Nunes», já na versão avaliada pelos seguintes dados
guns mais velhos mas o relaciona· de navio· hidrográfico. estatísticos: distância percorrida
menta entre todos era bastante Em matéria de navios este era em sondagens (em embarcações)
agradáveL Reinava a compreensão o menino bonito da Guiné. Herdara - 10352 milhas; tempo de sonda·
e a camaradagem que superavam este amoroso título da t~Mandovi!), gens respectivo - 1758 horas; àrea
r todas as dificuldades resultantes da atribuída à Missão Geo·Hidrográ· sondada - 6913 km • E note·se
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vida em comum de pessoas com fica daquela nossa ex·Província que muitas vezes trabalhava·se de
mentalidades e origens muito dife· Ultramarina e único navio da Arma· sextante na mâo e metralhadora ao
rentes. As condições de alojamen· da que durante muitos anos ali se ombro ..
to não eram famosas, nada que se manteve permanentemente. permi· Na época, apenas o KFedro Nu-
parecesse com as dos navios de tindo um relacionamento muito nes» dispunha ainda de artilharia
agora. Na minha coberta, para 35 estreito e amigável entre as suas de 120 mm a qual mostrou bem a
homens, havia apenas beliches guarnições e as populações locais, sua eficiencia na destruição de ba·
para 15, os restantes dormiam no em especial a de Bissau. Aliás, uma terias inimigas que flagelavam as
chão. Quando qualquer um tinha percentagem considerável das pra· nossas lanchas à entrada do rio
que se levantar de noite, para en· ças era constituída por contratados Cacine. e em diversos bombardea·
trar de quarto por exemplo, passa· guineenses. mentos que fez. a longa distância.
va, pé aqui, pé ali, para não pisar Exerci o comando do "Pedro Para terminar, e porque este de-
e acordar os que estavam estendi· Nunes)) desde Novembro de 1963 poimento tem que ser breve, que·
dos no châo! até Fevereiro de 69. cerca de 5 anos ro deixar bem claro que a vida a
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