Page 269 - Revista da Armada
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milhas e demorou 625 dias ... Dela, til e um ou outro incidente localiza· Algum tempo depois, em 7 de
volta ao Mundo, demos notícia do, criavam um clima de incerteza Dezembro, o «João de Lisboall foi
completa no n. o 59 da ccRevista da quanto ao que, a qualquer momen- enviado à ilha de Anged.iva, para fa-
Armada» de Agosto de 1976, pelo to, se poderia passar. zer a rendição do pessoal militar ali
Que nos dispensamos de a repetir Este ambiente manteve·se du- estacionado.
aqui. Aproveitamos, todavia, a rante toda a comissão, e foi o pano Após uma trabalhosa faina de
oportunidade para salientar que ano de fundo em Que se projectaram desembarque e embarque do pes-
tes do C!João de LisboaJ) nenhum ou· três episódios Que aqui vou re- soal e da sua volumosa carga, foi
tro navio de guerra português cordar. autorizada a ida para terra, nas uês
atravessara o Canal de Panamá Nenhum deles teve importân- embarcações arriadas, de um gru-
(11-7-942), acontecimento que en- cia, excepto para quem no momen- po de oficiais, sargentos e praças.
tendemos merecedor de registo e to os viveu, pois se sabia que O que se passou a sÊiguir é des·
cujo cinquentenário que se comple- qualquer incidente insignificante crito, com mais realismo por trans-
tará no dia 11-7-992 desejamos coo podia ser tomado como pretexto crição do relatório do comandante
memorar, Para o efeito se convidam para o desencadeamento de algo, Ramos Pereira:
todos os oficiais. sargentos e praças mais sério. Aliás, assim veio a acon- ((Às 1707 foi avistado um navio
Que restam da guarnição do "João tecer sete anos mais tarde: creio de guerra com rumo aproximado
de Lisboa», nessa altura, para um que a causa imediata invocada NE. Às 1708 foi, por ordem do co-
almoço-convfvio a realizar no Clube pela União Indiana para a inva· mandante, içado o chamamento
Militar Naval no dia 12 de Julho de são de Goa foi um incidente com geral para a parte da guarnição que
1942. Agradecemos que os interes- o navio I(SabarmatYII, na ilha de se encontrava em terra. Às 1720
sados nos contactem através da Angediva. todo o pessoal a bordo. Às 1730
ICRevista da Armada». do Clube Mi- escaleres içados e salva-vidas amar-
litar Naval ou para a nossa casa - * rado ao pau de surrioIa ·por ordem
Rua D. Francisco de Sousa Couti- do comandante. As 1738 toldos fer-
nho n. o 11 - 1700 Lisboa - tel. Em 12 de Novembro de 1954, o rados e arriadas as balaustradas de
8487121. ccJoão de Lisboau chegou à fndia, proa e popa, bateria desencapada.
fundeando em D. Paula. Sete dias Tempo gasto, 31 minutos. Na-
passados, recebeu ordem para ir a vio reconhecido: pauulha da União
Karachi, com escala por Damão Indiana M·197. Às 1750 patrulha
e Diu, a fim de conduzir àquela navegando muito próximo, enco-
cidade os deputados dr. Sócra- berto com a ilha de Angediva, vol-
tes da Costa e Monsenhor Casti- tando a aparecer a cerca de 3/4 de
lho, que seguiam de avião para milha, do lado N, às 1810. Às 1815
Lisboa. fez o chamamento, com projector,
No regresso, a 30 desse mês, de I!estação desconhecidan. Às
voltou a fundear em Damão. Perto 1815, dado o sinal de !!entendidoJI,
do fundeadouro, estava uma pe· foi recebida a seguinte mensagem:
Quena embarcação a motor, has- (!Good evening wish you merry
CFR Guilherme George Con- teando a bandeira da União Christmas and a happy new yearn.
ceição Silva, na altwa 2TEN: Indiana, com indivíduos uniformi- Às 1820, por ordem do comandan-
Conclu1da a especialização em zados a bordo, que aparentava an- te, foi transmitida a seguinte men-
artilharia, embarquei no "João de dar patrulhando as água fora do sagem: KThank Vou very much and
Lisboa" em Setembro de 1954. limite das três milhas defronte do also best wishs for Christmas and
O navio aprontava para uma nosso território. the new yearll.
longa comissão na índia, para on- O navio suspendeu e fez rumo Em seguida o patrulha desapa·
de largou sob o comando do de modo a aproximar-se daquela receu encoberto com a terra, pare-
capitão-de-fragata Ramos Pereira. É embarcação, mas esta, mal se aper- cendo Que, com rumo ao porto de
desnecessária Qualquer referência cebeu disso, aproou ao território da Karwar.
à personalidade de Ramos Pereira, União Indiana e afastou-se a toda Este episódio, que nos propor·
figura bem conhecida e lembrada a velocidade. Apurou-se depois que cionou, afinal, uma excelente opor-
com respeito por todos os que tive- trazia a bordo pessoal militar ar- tunidade para a realização dum
ram o privilégio de o conhecer, de- mado, e que era uma lancha dos exerclcio e nos deu a satisfação de
vido aos seus extraordinários dotes Serviços Aduaneiros Indianos, esta· ajuizarmos do grau de desembara-
de carácter, inteireza e sentido de cionada em Bulsarhani, que, tem- ço da guarnição do I!João de Lis·
dever. pos antes, se havia intrometido boa)) e do espirita que a anima, tal
Naquela época, as relaçOes en- com barcos de pesca de Damão. A a prontidão com que todas as mi-
tre Portugal e a União Indiana eram proximidade da costa e os fundos nhas ordens foram cumpridas, veio,
tensas, pressagiando os aconteci· muito baixos impediram Que a per- até certo ponto, revelar·nos que a
mentos que viriam a ocorrer alguns seguição à lancha continuasse, e o atitude da Marinha de Guerra da
anos mais tarde. O movimento (ISat- navio regressou a Goa. União Indiana para com os nossos
yaghra», frequentes violações de navios, respeita as velhas normas
fronteira, boatos, propaganda hós- da cortesia ...
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