Page 270 - Revista da Armada
P. 270

A minha situação, em Angedi-  das 1200 às 1600 de 13-12-55 com
            va, prestava-se a conjecturas várias,   o  navio  4cBombaYII  da Marinha da
            com  a  aproximação  do  p<t.trulha   União Indiana:
            M-197, dado que o fundeadouro do      Às 1340 foi avistado um navio
            «João  dI::  Lisboa»,  incontestavel·  que se reconheceu ser de guerra e
            mente em águas nacionais,  se si·   se  verificou  tratar-se  dum  draga-
            tuava a  menos de duas milhas da  -minas que mais  tarde se identifi-
            costa daquele País.               cou  pelo nome  de  «BombaYII.  Foi
                Por isso preparei o  navio para   avistado por cerca de 350 graus. A
            qualquer eventualidade, mas sem   nossa posiçAo aproximada era en-
            mostrar atitude agressiva, ordenan·   tão Y -1551 N L-73 28 E. O r.avio
            do mesmo que o salva-vidas se con-  seguia para o Norte, a distância di-  CALM António Rocha  Calhor·
            servasse amarrado ao pau, e o ritmo   minuia ligeiramente e  a  marcação   da.  na altura 1 TEN:
            da vida a bordo se mantivesse sem   também abria lentamente.            Em 4  de Outubro  de 1954, por
            alteração.                            Às  1504,  nossa  posição Y _ 16  consideração  e  amizade  pelo  co-
                Cuando, às 1810, o navio de no-  08  N  L - 73  18  E,  aquele  navio   mandante do navio, então CFR Ra-
            vo surgiu por detrás da ponta NW  estando a cerca de 9' meteu a proa   mos PereiIa, e em cumprimento de
            da  ilha,  navegando em  postos de   para  W  e  às  1518,  depois  de  ter   combinação já de alguns anos, pas-
            faina , a  velocidade reduzida,  com  começado  a  chamar  por  nós,   sei  da fragata  «Nuno  TristãO)),  de
            rumo à costa da União Indiana, che-  aproou ao nosso navio, tendo trans-  que  era  imediato,  para  o  aviso
            guei a  admitir que viesse fundear   mitido o primeiro sinal "What shiplI   uJoão de Lisboall ondEi iria desem-
            não  longe  do  44João  de  Lisboa»,  o   às 1515. Às 1520 tendo-se-lhe res-  penhar  as  funções  de  chefe  do
            que  me  obrigari'l.,  na  manhã  se-  pondido «Please identify yourselfll   serviço de comunicações. Em acu-
            guinte, a dar cumprimento ao ceri·   mudou novamente de rumo, por W,   mulação iria também desempenhar
            monial  marítimo,  pois  a  bandeira   metendo a  um  rumo  de cerca  de   as de «chefe do serviço do cinemall,
            acabara de ser arriada.            WNW  que manteve até ao fim  do   como lhe chamávamos e  que con-
                Momentos  depois, às  1815.  já   quarto.                        sistiam em obter filmes por compra,
            com o  tempo a  escurecer, surgem     As  1525  o  navio  transmitiu:  troca  ou empréstimo, pronJover a
            sobre  nós  os  relâmpagos  do  seu   ccWar  ship  «BombaYII  going  sua projecção e publicar os respec-
            projector de sinais. Estava sentado   BombaYII.                      tivos  programas.
            na tolda, conversando com alguns      As  1530  fez  o  seguinte  sinal,   A comissão na índia foi bastan-
            oficiais e, embora, no íntimo, admi-  quando nos íamos identificar:   te  interessante  (temos  tendência
            tisse  várias  hipóteses,  fiz  este   KAre  you  coming  with  us  to  para esquecer os maus momentos
            comentário: vão ver que o coman-   Bombayu.  Às  1540  transmitiu-se-  e só relembrar os bons) mas não se
            dante do navio nos vai endereçar as   -lhe:                          prestando a  grandes histórias;  to-
            suas saudações.                       cIHere Portuguese Warship João   davia, recordarei alguns episódios
                De  facto,  felizmente,  não  me   de Lisboa bound to KarachiJI.   que me parecem curiosos.
            enganeL.II                            As 1600, o navio transmitiu o si-
                           *                   nal: «Intend to carry out some small             *
                                              calibre pratice firing to seaward to
                Passou  um ano.  Inúmeros cru-  about 1700. My speed eleven knots   Logo ao largar da bóia surge a
            zeiros a  Damão e Diu, com visitas   course 34511.                   primeira peripécia. Ao iniciar-se a
            ocasionais a Karachi para abasteci-   À&  1605  transmitiu-se-Ihe:   operaçêo de meter o virador dentro,
            mento,  haviam já calejada a  guar-  CISOrry but do not intend to alter my   a respectiva canãozinhaJJ encapelou
            nição  nas  lides  daqueles  mares.   courseJl, As  1 f:07  o  navio transmi-  no arganéu da bóia e  nada a  fazia
                Transportaram-se centenas de   tiu:  ccName  pIeasen.            soltar. O gasolina estava, evidente-
            pessoas,  toneladas  de  carga  e     As  1610  disse-se-lhe:  tcl  say   mente içado e no castelo não havia
            conheciam-se já com familiaridade,   again  name  of  my  ship  João  de   um machado ou facallião a jeito, o
            aquelas águas.                     Lisboall. As  1623  transmitiu:  «We   comandante dizia da ponta que cor-
                Algumas  vezes  avistavam-se   have canceled our firing practicell.   tassem  o  cabo  e  o  Comandante-
            navios indianos, que passavam ao   Às 1627 foi-lhe transmitido: «Sorry   -Geral  da Armada, VALM  Pereira
            largo sem novidade. Nada aconte-   for  disturbing  you».  Não  houve   da  Fonseca,  que  fora  a  bardo
            cia, para além da rotina dos cruzei-  mais sinais e  o  nosso  navio pros-  despedir-se, aguardava na sua em-
            ros  e  do  transporte  de  pessoal e   seguiu no seu  rumo,  que era 334   barcação que o navio largasse. Le-
            material.                         grausII.                           vei  mais  tempo  a  descrever  a
                Em Dezembro de 1955, ocorreu      Este incidente já não revelava   situação que  o  levado  pela praça
            outro incidente com  um  navio  de   cortesia, mas sim um início da pro-  que foi ao paiol bu scar o machado
            guerra.                           vocação,  que com  o  tempo se foi   para cortar o  virador.
               Tonho uma cópia do relato es-  acentuando,  até  culminar,  anos
            crito pelo oficial de quarto, (que era   depOis, com a  invasão de Goa.             *
            o  então  1 TEN  Rocha  Calhorda),  a
            quem passo a  palavra:                                                  Os filmes  que levámos  de Lis-
                _Incidente  ocorrido  no  quarto                                 boa eram poucos, creio que vinte e
                                                              *
            16
   265   266   267   268   269   270   271   272   273   274   275