Page 155 - Revista da Armada
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. PONrO AO MEIO-DIA
As CJTF na gestão de crises
urante a guerra fria o papel da NATO Reconhecemos que a instabilidade e nais integrem unid,ldes de países nJo-/'\ATO;
podia inserir-se no contexto clássico imprevisibilidade da conjuntura internacional - no desenvolvimento de procedimento)
D de contenção da potência continen- não iacilitam a identificação dos caminhos a que permitam desencadear rapidamente os
tal, numa situação em que as disputas se cen- seguir pela NATO para desenvolvimento mecanismos ele operacionalização das cm.
travam na Europa, onde os EUA mantinham daquelas forças. No entanto, julgamos pos$Í. especi.1lmenteos que se pieidet, , com J acti·
uma forte presença deslinada a dissuadir uma vel penetrar na complexidade desta proble- vação dos respectivos Quartéis Genefai~ e
eventual intervenção soviética e a conter o mática, desenvolvendo duas linhas de racio- com o emprego dos meios de mohilidade
protagonismo alemão. cínio distintas mas complemenlares, que ana· estratégica que só os EUA pos~uem em
A implosão da URSS transformou radical- lisem, respectivamente, os principais aspectos número adequado a operaçõe~ de consi-
mente uma conjuntura estável de quatro dêca- relacionados com o emprego das CJTF na derável dimensão.
das. consubstanciada num sistema bipolar, gestão de crises e com a organização neces- Para além destes aspectos cuia resoluç,\o
onde o comportamento dos principais actores sária a esse emprego. obriga a complcxas regociações a nível políti-
era previsível. Em consequência daquele Relativamente ao emprego de C/TF na ges- co, destinadas sobretudo a estabelecer equilí-
íacto, a NATO. depois de uma fase inicial ex- tão de crises, parece importante tomar como brios enlre os interesses das principai~ poIÊ'n-
pect.lnte em que procurou adaptar-se ii um referência fundamental a necessidade da das, existem outros de carâder mai\ técnico.
novo ambienle internacional, lidera agora um NATO prever a utilização de toda a gama de mas não menos importantes na ~nilclÇão
conjunto de processos polilico-estratégicos, instrumentos de iorça à sua disposição: JX)líti- necessária ao emprego de C/Tf na gestão de
que parecem ter em vista evitar o deseflvolvi. cos, económicos, psicológicos e militares. O crises, como são, por exemplo:
menta de riscos adicionais na Europa. Foi emprego concreto das C/TF num cenário de . a inionnação pública, o manuseamento
neste contexto que, na Cimeira de Janeiro de crise deverá ler em vista consubstanciar a de material classificado e a difus.'io de inl0r·
1994, surgiram fOl'TTl<llmente os conceitos de ameaça ou concretizar eíooivamente a passa- mações;
Parceria para ii Paz (Partnership for Peace- gern â situação de guerra, enquanto as movi· • os canais de comunicação que iacilitam as
-PiP) e de Forças T areía Conjuntas e Com· mentações daquelas forças devem procurar trocas ele informação entre OS deciSOfe5 politi.
binadas (Combined Joint Task Forces.(JTf). aumentar a credibilidade dos propósitos cos da NATO e dos PíP, cujas iorças integrem
A PiP fornece o enquadramento político anunciados pela Aliança. asCJTF:
para um novo relacionamento entre os anta- Estando previsto que as C/TF sejam constitu- - a ~ dos níveis de decis."lo ao menor
gonistas da guerra fria. Por isso, visa: estabele- fdas pc< fo<ças de ,*,ado sra" de pronlm, e número IXlssí\'el, por ionna a OCilitar a comuni-
cer e assegurar a estabilidade além fronteiras dotadas de excelentes meios de mobilidade cação e o cttUroIo pai ítico das acções milit."lteS
da NATO; apoiar o desenvolvimento de insti· estratêgica, parece evidente que os seus exer· lndepeodefllemerlte das evoluções de por.
tuições e de práticas democráticas nos países cícios, as demonstrações e concentrações de menor que possam vir a acontecer no Muro.
periiéricos da Aliança; e promover uma maior forças, os deslocamentos para adaptar os dis- parece-oos evidente que as cm serão deter·
cooperação internacional entre antigos adver· positivos a situações de gUEm e outras acções minantes no papel da Aliança nas questoo. de
s.írios. O conceito de pfp parece ser uma ten' relacionadas com a aptidão para combate, são defesa e segurança do pós-guerra iria. Por i~so.
tativa realista para promover O futuro da modalidades de acção adequadas ao seu e conforme referiu o Ministro da Deiesa
NATO, JX>rque concede aos seus 12 signatá· emprego na gestào de crises. No entanto, Nacional na Cimeira NATO de Scvilha.
rios . países do ex·Pacto de Varsóvia e alguns como a resposta à crise é sempre no âmbito "Ponugal tem mantido grande atenção ao
europeus neutrais - um estaluto dentro da da estratégia tOlal, as acções das CJTF não desenvolvimento deste conceito e julga Que o
Aliança, sem alaf83r a área desta até às íron· podem deixar de ser coordenadas de fOi'lTl<l ClNClBERlANT deve ser encarado como um
(eiras da Rússia, o que pOOeria ser enteodido muito estreita com as acções poI~icas globais participante acti\'o e poteocial~. 'este coote%'
por esta grande po!ência militar como um da Aliança, às quais servem de suporte. to, não podet,lOS deixar de salientar o paPl'l
desalio estratégico. E certo que nos podei, lOS Esta ligação deve ser assegurada a todo o deste Comando Subordinado '\ATO. decoro
interrogar sobre o grau de satisfação daqueles custo, já que a NATO, duranet as crises em rente não só da sua localização geograiica no
países acerca do estatuto pfp, visto que n.'io foi que estiver envolvida, nào pode correr o risco sudoeste europeu, mas também das capacida-
satisfeita a grande ambição da extensão das de se veriiicarem desvios às suas orientações des: de comando e controlo; de jnterljWlç~o
garantias do Artigo 5" . Defesa Colectiva; na JX)líticas, que favoreçam a intensificação do com os diíerentes níveis de decisão da NATO;
realidade, o passo visível mais significativo e conflito e a transição para uma situação de e para desenvolver o apoio Iogistico inlerope-
com e'(pressão prática,parece sef' a possibili· guerra não desejada. O cuidado acompanha· rativo que as acções militares e'(igem.
dade de realizarem exercícios e paniciparem mento das acções militares, a possibilidade de Ê inquestiona\el que o ClNClSERL .... '\T
em operações de paz integrados em iorças de se realizarem consultas directas entre o dispõe ainda, paril além dos mei~ decoro
comando NATO. comandante de teatro e os decisores JX)líticos, rentes das capacidades antes enumerildas.
Estas operações apresentam requisitos de e o rigoroso cumprimento das decisões do de áreas de exercicios, de uma doutrina
iorças substancialmenTe diíerentes dos impos- NAC tNorth Atlantic Council), revelam·se amplamente testada e de um eqado-maior
t05 pela pretérita ordem estratégica. Por isso, assim como princípios essenciais ao emprego bem treinado, íactores determinantes no
05 EUA no seu papel líder da Aliança, apre- daquelas iorças durante as crises. desempenho operacional. quer durante ,1
sentaram o conceito de CfTF . forças multina· Este aspecto coloca à Aliança novos desa· gestão das crises características da ,letu,ll
cionais de dimensão variável, que por serern fios no ãmbito da organização necessária ao conjuntura POlitico·estratégica mundial,
constituídas para actuar fora da área da emprego das CrrF, nomead,lmente: quer nas acções de defesa colectiva que
Aliança integrando países não-NATO, pare- . nas estruturas de comando politico e mili· contingencias iuturas poderão requerer. J,
cem pxIer vir a ser um instrumento preíeren· tar, que não podem deixar de prever a possi·
dai na gestão das crises regionais que se têm bilidade de incluir representantes PiP e UEO António 5il\,] Ribeiro
veriticado e que aiectam a segurança mundial. para situações em que as íorças multinacio- crE ...
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