Page 152 - Revista da Armada
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A Armada nas campanhas de África
JS! Parte
INTRODUÇÃO análise posterior, explicando mais o que constituiram o "Grupo de Patrulh,1s n 1",
Il
se fez e nâo tanto o que se deve fazer. que iria cumprir uma longa comissão de
erá muito difícil esgotar o lema da Este não é um problema exclusivo por- serviço na costa de Angola, assumindo o
acção da Armada durante as Cam- tuguês. No decorrer de um diálogo não Santiago o comando do Grupo.
S panhas de África, assim como, sem muito antigo entre dois altos responsáveis A Marinha restabeleceu, dois anos antes
dúvida, também o será para todas as QU- das maiores marinhas ocidentais, a dos dos graves acontecimentos de Março de
tras instituições ou grupos nacionais que Estados Unidos e a do Reino Unido, 1961 no Norte de Angola, a tradição inter-
viveram tão difícil período da nossa poderá extrair-se o seguinte desabafo: rompida por cerca de 40 anos, das
História: o Exército ou a Força Aérea, os "Estações Navais" em Angola ou, por
Comandantes então responsáveis pelas We sit iII war colleges and rmd Ma/mil alld pouco ma,is de 30 anos, da presença perió-
decisões centrais ou pela condução da C/ausewitz, hui we /mve 1101 dl'Uf!lOped a Imy dica em Africa da "Divisão Naval Colo-
acção político-militar provincial, as indi- to trallslate Iluz! iI/to decisioll makil/g (1). nial" (3). Neste interregno realizaram-se
vidualidades da diplomacia nacional, as visitas frequentes de unidades navais, mas
forças policiais e de segurança, ou ainda o Na verdade, poderá admitir-se que não tinham permanecido nas principais
conjunto de centenas de milhares de an6-- havia em Portugal, quando se aproxima- Províncias apenas os navios atribuídos aos
nimos civis que suportaram tão diversas va a crise ultramarina, um documento trabalhos científicos de oceanografia,
condições extremas e dos quais a história estratégico forma l, redigido segundo hidrografia e geografia, que tiveram, aliás,
ainda não guarda registo suficiente. modelo proposto como doutrina pelos papel notável no período inicial das cam-
Com estes dois pequenos artigos pre- Institutos, e que agora poderiamos evo- panhas.
tende-se apenas corresponder ao esforço car, nesta análise destinada a informar as Esta decisão de retomar a presença
que a Revism da Armada vem desenvol- gerações que já não viveram os aconteci- naval permanente em África marcou tam-
vendo. no sentido de reunir e divulgar mentos. bém uma mudança notável de estratégia,
alguns testemunhos desse período, certa- Existia, no entanto, um pensamento pois a Marinha tinha estado quase exclusi-
mente o mais grave e exigente que a Ar- estmtégico que foi firme e coerentemente vamente virada para a sua actualização
mada enfrentou , neste século. Serão desenvolvido e do qual irei salientar ape- em relação ã tecnologia e aos conceitos
ligeiramente abordados os seguintes nas alguns pontos. operacionais que a Guerra tinha forçado e
aspectos: Porém, antes de o fazer, não posso que o estatuto de neutralidade nos havia
a) A profunda mudança de orientação deixar de prestar sincera homenagem ao negado. O nosso pessD<1l frequentava os
estratégica da l\1arinha, que sem nunca ter Almirante Armando Júlio de Roboredo e mais variados cursos no estrangeiro e as
abandonado a Africa estava virada para o Silva. Unidades Nava is participaram nas
Atlântico Norte e que, rapidamente, sem O Almirante Roboredo já nos anos 50 primeiras manobras da NATO no Norte
abandonar o Atlântico, se dedicou priori- escrevia regularmente uma Crónica do da Irlanda eem Portland, em 1952 e 1953.
tariamente à Arnca. Ultramar na antiga revista Anais de O Almirante Roboredo descreveu a
b) As acções precautórias que a Marinha Marinha e, em 1956, sendo capitão-de-fra- situação do seguinte mooo:
tomou, por sua iniciativa, em relação ao gata, publicou um artigo com o título Até 1960 a Armada Nacional trabalhava
problema africano. "Subsídios para Definir uma Política denooadamente, é facto, mas a sua activi-
c) A profunda reestruturação que então Naval Portuguesa" (2) que, evidente- dade operacional cingia-se quase unic,,-
a Marinha encetou, notável e entusiastica- mente, era apenas um artigo de opinião. mente a uma intensa preparação no
mente aceite, porque a sua utilidade Não se tinham iniciado ainda as campo da luta anti-submarina.
nacional era sentida. Campanhas de África quando o co- Sendo tarefas desta rndole e comple-
d) Por fim, algumas acções desenvolvi- modoro, depois contra-almirante Ro- mentarmente as da guerra de minas, que
das que, pela sua natureza, Se poderão boredo foi nomeado Subchefe do Estado- dentro dos conceitos de defesa da NATO
afastar do empenhamento coordenado, -Maior da Armada. No longo e crucial estavam atribuídos Às nossas forças
conjunto e igualmente assumido por tooos período de 1963 a 1970, desempenhou o navais, a Marinha esforçava-se por se
OS ramos das Forças Armadas. alto cargo de Chefe do Estado-Maior da manter treinada nesta matéria e con-
Armada, dando então execução ao pensa- seguia, apesar da idade avançada das
EVOLUÇÃO DA SITUAÇÃO , mento estratégico naval que há muito unidades oceânicas anti-submarinas de
E DO PENSAMENTO ESTRATEGICO vinha estudando e adaptando à râpida que dispunha, ser considerada, pelos
evolução dos acontecimentos políticos Comandos Navais Superiores da NATO
Ao meditar sobre o tema, a primeira internos e internacionais. O Almirante uma Marinha que conhecia a táctica AIS e
reacção foi de considerar que a Estratégia Roboredo definiu os objectivos de política a aplicava com eficiéncia.
Nacional e, particulam,ente, a Estratégia naval com inteligência e pragmatismo, Vivia-se em plena euforia quanto à
Naval, como documento resultante de escolheu uma estratégia que os aconteci- preparação para a guerra anti-submarina e
uma actividade de planeamento, tomado mentos provaram ser a ,1dequada, soube os jovens oficiais dedicavam-se afanosa-
público das acções e desenvolver pelo motivar os seus subordinados e imprimir mente ao seu estudo.
menos a médio prazo na prossecução de um dinamismo à Marinha que bem serviu Entretanto a evolução política do
objectivos previamente estabelecidos, era e os interesses da Nação. Continente Africano aconselha-nos a
é algo que não tem tido concretização, No dia 28 de Abril de 1959 largou do admitir complicações nas nossas
uma preocupação que não tem atingido a Tejo o Patrulha "Santiago", ao qual se jun- Províncias Ultramarinas e a iniciar alguns
administração do Estado. A Estratégia, ou tou, já ao largo da Guiné, o Patrulha passos para organizar a Marinha Militar
a sua evolução, tem sido objectivo de "Madeira". Estes dois pequenos navios no Ultramar, onde praticamente só exis-
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