Page 276 - Revista da Armada
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Crónica de Timor
                   Crónica de Timor



                                                       4ª Parte

                            Visita do Primeiro Ministro de Portugal





         QUARTA ESTADIA EM TIMOR            cados" durante os três dias da visita. O  esculpida da Senhora do Mar, oferta do
         (19-30 DE ABRIL)                   navio embandeirou em arco e montou a  serviço de Assistência Religiosa, que pas-
                                            iluminação de gala (assim se mantendo  sará, a partir de agora, a ficar em perma-
              razendo a bordo o Capelão (gradº  durante toda a estadia), tendo estado  nente exposição num nicho iluminado
              em CTEN) Gomes Beltrão, enviado  aberto a visitas no período entre as 1530  colocado em lugar de destaque na praça
         T pelo Serviço de Assistência      e as 1700. Nesse dia a guarnição foi con-  de armas do navio.
         Religiosa para passar com a guarnição a  vidada para um churrasco no Comando  Como os movimentos portuários,
         quadra pascal, largámos de Darwin com-  do Sector, organizado pelo Contingente  porém, não respeitam sequer os dias san-
         pletamente "atestados" de ferramentas e  Brasileiro em comemoração dos 500 anos  tos e o porto de Dili é pequeno para o
         materiais de construção para a "Obra",  da Descoberta do Brasil, um evento muito  intenso tráfego que por ele passa, foi
         assim como de ajuda humanitária (consti-  animado onde não faltou o samba e a  necessário, à tarde, efectuar uma faina
         tuída essencialmente por mantimentos)  "batucada".                    para mudar a posição do navio no cais.
         destinado a Liquiçá e algum material de  No dia 23, Domingo de Páscoa, foi  Aproveitando o "balanço" e na sequência
         apoio ao Contingente Nacional (do qual  celebrada uma missa no parque de RAS a  do pedido efectuado pela Capitania, pro-
         se evidenciam dois enormes contentores  vante, o que constituiu um verdadeiro  cedeu-se à baldeação da muralha a todo
         de água, cujo cinzento de tipo "naval"  "bálsamo" para quem durante três meses  o comprimento do navio (as agulhetas e
         altera drasticamente a silhueta do navio,  se ressentira da falta de assistência espiri-  as mangueiras do serviço de limitação de
         acrescentando-lhe um par de domos a  tual. Sem que se pretenda pôr em causa o  avarias são uma mais-valia nestas
         vante).                            carácter laico do Estado Português, é  ocasiões), o que, estendendo os efeitos da
           No dia da chegada (20 de Abril), seguiu  inegável que a presença a bordo do Sr.  baldeação já efectuada no dia da chega-
         com a equipa de terra uma comissão de  Capelão foi um verdadeiro conforto para  da, deu a todo o cais um aspecto de
         organização de um concurso de desenho  toda a guarnição e mesmo os não crentes  limpeza que nele há muito não se via.
         infantil subordinado ao tema "A Marinha  ou aqueles mais desligados das "coisas do  Diga-se, contudo, que o Capitão do
         Portuguesa em Liquiçá", que teve uma  espírito" (até os que, porventura, profes-  Porto, o Comandante Pité (timorense, dis-
         entusiástica adesão (87 participações). Os  sassem outra fé – o que ninguém  mani-  tinto oficial da nossa Marinha Mercante),
         prémios, constituídos por bonés, t-shirts e  festou – não se teriam, decerto, sentido  merece toda a nossa colaboração, ou não
         fatos de treino do navio, assim como a  ofendidos com esta simpática presença)  tivesse por ele passado a pronta disponi-
         distribuição de cadernos e caixas de lápis  nele se habituaram a ver um amigo, um  bilização de um local de atracação e o
         de cor (além do já habitual "festim" de  conselheiro e um confidente (mais do que  transparecer do sentimento de que somos
         rebuçados) a todos os participantes fizeram  um confessor) nestas horas em que o des-  bem-vindos a estas paragens.
         as delícias da pequenada.          gaste provocado por uma missão prolon-  Na manhã do dia 24, cerca das 0700, a
           No dia 21 teve lugar a nossa segunda  gada começa a "vir à tona". Como teste-  guarnição estendeu em postos de honras
         atracação em Dili, desta vez para uma  munho desta sua passagem ficou-nos uma  militares para receber o Primeiro Ministro,
         estadia mais alargada (5 dias), de modo a  pequena e singela mas belíssima imagem  que se deslocou ao navio para dirigir
         cobrir o fim-de-semana da Páscoa e a
         visita do Primeiro Ministro de Portugal. O
         primeiro dia foi inteiramente dedicado à
         descarga e transporte de material para
         Liquiçá (entre o qual se encontravam
         várias camas, macas, berços e tripés hos-
         pitalares oferecidos pelo Darwin Royal
         Hospital para equipamento do hospital). É
         de referir que, de modo a não "perder"
         cinco dias inteiros de trabalho (não
         obstante a azáfama que nunca deixou de
         reinar a bordo, como adiante se verá) se
         efectuaram, nos dias 22 e 24, deslocações
         de voluntários à "Obra", elementos da
         guarnição que não hesitaram em sacri-
         ficar parte do seu precioso tempo de des-
         canso para que fosse mantido o anda-
         mento dos trabalhos.
           Dia 22, de manhã, chegaram a bordo o
         Ministro da Defesa Nacional e os
         Generais CEMFA e CEME (em acom-
         panhamento da visita do Primeiro
         Ministro), que iriam permanecer "embar-  Guarnição em postos de honras militares à chegada do Primeiro-Ministro.

         22 AGOSTO 2000 • REVISTA DA ARMADA
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