Page 271 - Revista da Armada
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há memória de um só jornalista, quase
         um adolescente como mais tarde lhe
         chamou o Almirante Roboredo após a
         sua morte, ter dedicado tanto entusias-
         mo, tanto do seu trabalho à renovação
         da Marinha que se veio a processar na
         década de 30.
           Em Janeiro de 1930, Maurício de Oli-
         veira resolve propor ao Comandante Pe-
         reira da Silva, antigo ministro da Ma-
         rinha e na altura Sub-Chefe do Estado
         Maior, a criação de uma Comissão de
         Propaganda da Armada. Essa comissão
         foi pouco depois constituída tendo como
         presidente o próprio Comandante Pe-
         reira da Silva que trabalhara activa-
         mente num plano de renovação da frota
         naval e tendo como secretário Maurício
         de Oliveira. Gago Coutinho seria presi-
         dente honorário. Passados poucos dias o
         Clube Militar Naval, criou também com
         os mesmos fins, uma comissão de pro-
         paganda o que de resto se inseria nos
         seus fins institucionais. Pereira da Silva
         demitiu-se de sócio do CMN, abando-
         nou a comissão e Maurício seguiu-lhe as
         pisadas. O incidente foi sanado porque o
         CMN em assembleia geral resolveu con-  Pereira da Silva com Maurício de Oliveira, durante a grande campanha de propaganda do nosso ressurgimento naval.
         vidar Pereira da Silva para presidente
         da comissão executiva e este, por sua  de hidroaviões. Por decisão interna foi  nunca se cansou de divulgar em todas
         vez, convidou Maurício. Mas Maurício  decidido atrasar a construção do trans-  as publicações que fez sobre a nossa Ma-
         de Oliveira pouco tempo se aguentou  porte de hidroaviões substituindo-o por  rinha até à data da sua morte. A não
         nas sua novas funções. Passados poucos  mais um contratorpedeiro e mais um  conclusão do plano deve-se no nosso
         meses alegava compromissos importan-  submarino. O transporte de hidroaviões  entender a vários factores nos quais não
         tes da sua profissão principal de jorna-  que nunca chegou a ser construído, esta-  são de desprezar a guerra civil de
         lista para se afastar delicadamente. Não  va previsto deslocar 5.100 toneladas, ter  Espanha, a revolta dos navios, o eclodir
         sabemos o que se passou, o nosso herói  124 metros de comprimento, uma  da 2ª Grande Guerra que obrigava a
         não o explica, mas pressentimos que  velocidade máxima de 22 nós e capaci-  rever o plano e talvez a inveja do outro
         Maurício embora só tivesse 20 anos não  dade para transportar 14 hidros. Como  ramo das forças armadas que se achava
         era homem para se sujeitar a outras pes-  se sabe, deste plano relativamente ambi-  desprezado por Salazar.
         soas que não fossem as que admirava.  cioso, só foi executado o primeiro perío-  Em 1936 Maurício de Oliveira editou
           Enfim após todo este esforço de pro-  do, facto que Maurício de Oliveira  o livro "Armada Gloriosa" que vinha
         paganda que atingiu pratica-                                                    publicando em fascículos. É
         mente todas as camadas da                                                       um livro muito interessante
         população que lia jornais e                                                     que nos conta o período da
         que teve como principal                                                         nossa Armada de 1900 a
         responsável Maurício de                                                         1936 e que portanto já tem os
         Oliveira, foi elaborado um                                                      navios novos do plano de
         novo programa de recons-                                                        Magalhães Corrêa. Mais tar-
         trução naval e que previa a                                                     de, na década de 60, princí-
         construção dos seguintes                                                        pios da de 70 e aproveitando
         navios novos: 2 cruzadores                                                      elementos que compilara
         ligeiros, 4 avisos de 1ª classe,                                                para a "Armada Gloriosa",
         8 avisos de 2ª classe, 12 con-                                                  escreveu três livros: "Os Cru-
         tratorpedeiros, 8 submer-                                                       zadores na Marinha Portu-
         síveis, 1 transporte de hidro-                                                  guesa" (1966), "Os Submari-
         aviões, 1 navio mãe de sub-                                                     nos na Marinha Portugue-
         marinos e 4 canhoneiras.                                                        sa"(1970) e "Os Torpedeiros
           Pelo Decreto Lei 18 633 o                                                     na Marinha Portuguesa"
         Governo mandava executar                                                        (1971). Estes livros são escri-
         o plano em 10 anos, dividido                                                    tos numa linguagem muito
         em 3 fases, sendo a primeira                                                    mais técnica do que o primi-
         dividida em dois períodos.                                                      tivo e constituíam uma
         Para o primeiro período foi                                                     ampliação e uma continua-
         aberto de imediato crédito                                                      ção dos assuntos tratados na
         para a construção de 2 avisos                                                   "Armada Gloriosa". Faziam
         de 1ª classe, 2 avisos de 2ª                                                    também parte dum plano
         classe, 4 contratorpedeiros, 2                                                  mais ambicioso de escrever
         submarinos e um transporte  Maurício de Oliveira conversando com o Almirante J. Mendes Cabeçadas Júnior.  um livro intitulado "Aponta- ✎
                                                                                     REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2000  17
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