Page 272 - Revista da Armada
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isto nos é contado nos livros
                                                                                         de Maurício onde curiosa-
                                                                                         mente os navios é que são os
                                                                                         verdadeiros heróis. Os co-
                                                                                         mandantes e a restante guar-
                                                                                         nição são actores de 2ª or-
                                                                                         dem que entram e saem de
                                                                                         cena episodicamente. Ser-
                                                                                         vem apenas para enriquecer
                                                                                         a narração com episódios
                                                                                         interessantes que tornam a
                                                                                         leitura dos seus livros ali-
                                                                                         ciante. Um deles, por exem-
                                                                                         plo, refere-se à entrada em
                                                                                         Batávia do cruzador "Vasco
                                                                                         da Gama" em 6 de Outubro
                                                                                         de 1910. Embora se tivesse
                                                                                         confeccionado a bordo uma
                                                                                         bandeira da República o na-
                                                                                         vio hasteou sempre a ban-
                                                                                         deira da monarquia porque a
         No "reduto" do "Diário de Lisboa" com os jornalistas do corpo redactorial (Maurício de Oliveira é o terceiro a contar da direita).  Holanda ainda não tinha
                                                                                         reconhecido o novo regime e
         mentos sobre a História da Marinha"  da Armada, nunca mais deixou de lutar  o carvão embarcado foi pago a pronto
         para o qual  já tinha aliciado o artista  por uma Marinha maior e melhor. E fê-  porque os fornecedores assim o exigi-
         Telmo Gomes para fazer os desenhos  -lo, como escrevi em singelas palavras  ram, com as economias de toda a
         dos navios. A morte surpreendeu-o  de saudade nos "Anais do Clube Militar  guarnição, "desde o comandante até ao
         muito mais cedo do que pensava e só  Naval", logo após o seu falecimento, por  último marinheiro".
         restaram os desenhos e os livros avulsos  devoção, espontaneamente, sem qualquer  Na segunda metade da década de 30
         de que falamos. Os desenhos foram  compensação, talvez antes com uma ou  eclodiu a guerra civil de Espanha e
         apresentados pela primeira vez no  outra desilusão…"                  Maurício de Oliveira escreve quatro li-
         Palácio Foz numa exposição "O Navio e  Mas voltemos aos anos 30. Maurício  vros: "A tragédia espanhola no mar",
         o Mar", referida na Revista de Marinha  faz o seu baptismo do mar no torpedeiro  "As duas Espanhas no mar", "Marinhei-
         de 30 de Março de 1973 onde se home-  "Ave" cujo comando pertencia ao seu  ros de Espanha em guerra" e "Águas de
         nageava conjuntamente Maurício de  amigo, 1º Tenente José Rodrigues Cos-  Espanha". Os livros estão completa-
         Oliveira. A exposição abria com as se-  me que o acompanhou também na co-  mente esgotados, e as autoridades es-
         guintes palavras da sua autoria: "As coi-  missão de propaganda da Armada. Para  panholas devem tê-los apreciado pois,
         sas da Marinha sempre me têm mereci-  além deste eram tam-
         do, através da minha vida de jornalista,  bém seus amigos Bo-
         uma especial e cuidada atenção… traba-  telho de Sousa, Perei-
         lhando há anos, modesta mas persisten-  ra da Silva, Almeida
         temente, no sentido de arrancar a opi-  Henriques, Pires de
         nião pública à indiferença… de a ensi-  Matos, Carlos da Maia,
         nar a querer à Marinha, a venerá-la."  Nunes Ribeiro e Leote
           Na portada do catálogo da exposição  do Rego, só para no-
         o Almirante Armando Roboredo escre-  mear alguns.
         veu: "Maurício de Oliveira não dava  O "Ave" era um dos
         trégua ao seu repouso, batendo-se sis-  6 torpedeiros costei-
         tematicamente pela Armada de Portu-  ros ex-austríacos que
         gal, pretendendo para ela o lugar que  nos tinham sido entre-
         lhe competia na defesa e segurança  gues em 1921 como
         deste país ribeirinho que pouco ou nada  indemnizações de
         será sem o uso garantido do mar.   guerra. Constituíram
           Conferencista apreciadíssimo, cronista  um notável avanço
         de viagens de rara sensibilidade - lem-  tecnológico na nossa
         bro as suas andanças por mar, designa-  Marinha pois eram os
         damente embarcado em navios de guer-  primeiros navios de
         ra que não têm paralelo em Portugal -  guerra portugueses a
         até entrevistas com personalidades de  utilizarem combustí-
         primeiro plano internacional, tudo  vel líquido. Tinham
         Maurício realizou, sempre com grande  250 toneladas e da-
         brilho e particular elegância.     vam 30 nós. Para traz
           A Nação deve muito a este homem,  ficavam os restantes
         mas a Marinha de Guerra jamais saldará  navios da esquadra
         a dívida que tem para com ele, porque  portuguesa cujas cal-
         desde a década de  30, ainda pouco mais  deiras eram aquecidas
         que adolescente, em que foi um dos fun-  a carvão e que tinham
         dadores e secretário-geral da comissão  velocidades muito  Maurício de Oliveira, após uma imersão do submarino "Hidra", acompanhado
         que então se formou para a propaganda  mais reduzidas. Tudo  pelo comandante e oficiais do navio.

         18 AGOSTO 2000 • REVISTA DA ARMADA
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