Page 42 - Revista da Armada
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PONTO AO MEIO-DIA





                                     Submarinos






                 aquisição de submarinos para a  navais inimigas: a defesa directa relaciona-  muito avançadas é possível a sua
                 Armada é um assunto da maior  -se com a capacidade para tomar a iniciati-  detecção, ataque e destruição. No entanto,
          A importância para o país, razão   va da guerra no mar e de negar, pela força,  como a tecnologia dos submarinos tem
          pela qual, nesta ocasião em que surgem  a consecução de objectivos; o risco de  evoluído qualitativamente mais que a dos
          vozes divergentes sobre as prioridades da  escalada é reduzido pelos efeitos de os  sensores e armas empregues pelos navios
          programação militar, me pareceu indis-  seus ataques poderem tornar os custos de  de superfície na detecção e ataque,
          pensável emitir uma opinião técnica, tanto  uma acção inimiga superior aos ganhos;  podem, sem grande dificuldade, pertur-
          quanto possível fundamentada na razão e  para a capacidade de resposta contribuem  bar significativamente a navegação maríti-
          não na emoção inerente às tradicionais  não só as características operacionais ante-  ma, contribuindo de forma decisiva para
          disputas orçamentais relacionadas com a  riormente referidas, mas também aquelas  o controlo do mar. O segundo grupo de
          renovação dos meios  combatentes. Para  que estão relacionadas com o meio em que  problemas relaciona-se com o facto de a
          esse efeito, procurei sintetizar neste texto  operam e com o poder naval dos potenci-  maioria dos Estados ribeirinhos serem
          os aspectos mais relevantes da sua utili-  ais antagonistas.         incapazes de responder pronta e eficaz-
          dade, já que é inquestionável a existência  No âmbito do desempenho militar con-  mente contra ameaças submarinas, o que
          de recursos financeiros para adquirir e  vém referir que o submarino, por si só,  torna possível a continuação de ataques
          sustentar os submarinos, de recursos téc-  não permite alcançar o controlo do mar  com elevado nível de atrição, que
          nicos para os manter e de recursos  nem, em consequência, obter a decisão da  reduzem a vontade de combater ou resis-
          humanos para os operar.            guerra, excepto em casos de flagrante  tir do inimigo. O terceiro grupo de proble-
            A utilidade dos submarinos está asso-  fraqueza global do inimigo. Contudo, a  mas depende do facto de os submarinos
          ciada à necessidade do Estado exercer a  sua faculdade de ocultação, grande  permitirem que uma potência mais fraca
          soberania e garantir a dissuasão através  autonomia, capacidade para actuar isola-  perturbe profundamente a economia de
          de um adequado desempenho militar,  do e para colaborar com forças de superfí-  outra mais forte, sem necessitar de con-
          requisitos que consubstanciam, em ultima  cie e subsuperfície, permitem rentabilizar  quistar ou manter o controlo do mar.
          análise, a capacidade de defesa do inte-  a configuração geográfica do território  Neste contexto convirá salientar que os
          resse nacional .                   nacional (Continente, Açores e Madeira) e  submarinos, ao contrário dos navios de
            O exercício da soberania é efectuado  representam um considerável potencial  superfície, podem atacar terra a partir de
          através da presença naval e da fiscalização  de combate. Com efeito, a sua discrição  áreas onde o seu país não possui o contro-
          preventiva e correctiva dos espaços marí-  acústica, complementada com o conheci-  lo do mar. Este efeito poderá ser consegui-
          timos, actividades em que o submarino se  mento e utilização dos parâmetros hidro-  do empregando os submarinos na flage-
          revela eficaz por poder actuar dissimula-  oceanográficos e a capacidade de lançar  lação da navegação inimiga, preservando,
          do com o meio, exercendo, desta forma,  mísseis, proporcionam condições opera-  por um lado, os meios próprios e, por
          uma profícua vigilância do espaço maríti-  cionais e tácticas favoráveis para atacar  outro lado, desgastando o adversário pela
          mo interterritorial, para  a qual é indispen-  com sucesso, não só as forças navais de  redução do seu potencial mássico e
          sável a sua capacidade de operar durante  superfície mas, também, outros submari-  dinâmico.
          largos períodos longe das bases de apoio.   nos e objectivos estratégicos em terra. Por  O que anteriormente foi dito é válido
            Para dissuadir é fundamental, entre ou-  esta razão, num teatro de operações emi-  para o emprego de submarinos em qual-
          tros aspectos, dispor de sistemas de armas  nentemente naval,  um submarino con-  quer espaço marítimo, nacional ou inter-
          e forças com qualidade e em quantidade,  vencional moderno pode exercer, seja  nacional, no desempenho de tarefas rela-
          que poderão consumir recursos essenciais  qual for a situação táctica ou o requisito  cionadas com a defesa dos múltiplos
          a outros sectores da vida nacional. Contu-  estratégico, uma influência e um efeito  interesses nacionais, que se confundem
          do, os submarinos convencionais possibili-  muito superior à sua dimensão física.  crescentemente com os das organizações
          tam determinados níveis de dissuasão re-  Basta haver a suspeita da sua presença na  internacionais de carácter político, eco-
          lativamente a acções militares de eventuais  área de conflito, para as forças inimigas  nómico e militar a que o país pertence.
          antagonistas, com um empenhamento  terem de despender um esforço muito  Por isso, Portugal deve dispor de meios
          mínimo de recursos. Este facto decorre da  maior na protecção das suas unidades  militares para assumir com dignidade e
          flexibilidade das missões e das capaci-  principais e dos seus alvos estratégicos.   credibilidade as suas responsabilidades
          dades de sobrevivência, de prontidão, de  Ainda no âmbito do desempenho,  no seio dessas organizações, defendendo
          resistência e de destruição dos submari-  parece conveniente salientar que o  interesses comuns, de modo a preservar
          nos, que permitem não só negar o uso do  emprego de submarinos coloca a um pos-  os seus interesses vitais. A actualidade e
          mar, mas também atacar alvos estratégi-  sível opositor  três grupos de problemas,  relevância deste requisito de defesa nacio-
          cos, explorando sempre o factor surpresa.  que resultam do facto de serem uma arma  nal, reforça ainda mais a utilidade dos
          Por tudo isto, pode afirmar-se  que os sub-  assimétrica. O primeiro grupo de proble-  submarinos.
          marinos viabilizam a defesa directa,  mas está associado à importância da tec-
          reduzem o risco de escalada e consubstan-  nologia para ganhar a guerra. Por serem
          ciam a principal capacidade de resposta  combatidos num meio em certa medida                Silva Ribeiro
          das pequenas potências contra forças  opaco, só com o emprego de tecnologias                      CFR


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