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PONTO AO MEIO-DIA
Submarinos
aquisição de submarinos para a navais inimigas: a defesa directa relaciona- muito avançadas é possível a sua
Armada é um assunto da maior -se com a capacidade para tomar a iniciati- detecção, ataque e destruição. No entanto,
A importância para o país, razão va da guerra no mar e de negar, pela força, como a tecnologia dos submarinos tem
pela qual, nesta ocasião em que surgem a consecução de objectivos; o risco de evoluído qualitativamente mais que a dos
vozes divergentes sobre as prioridades da escalada é reduzido pelos efeitos de os sensores e armas empregues pelos navios
programação militar, me pareceu indis- seus ataques poderem tornar os custos de de superfície na detecção e ataque,
pensável emitir uma opinião técnica, tanto uma acção inimiga superior aos ganhos; podem, sem grande dificuldade, pertur-
quanto possível fundamentada na razão e para a capacidade de resposta contribuem bar significativamente a navegação maríti-
não na emoção inerente às tradicionais não só as características operacionais ante- ma, contribuindo de forma decisiva para
disputas orçamentais relacionadas com a riormente referidas, mas também aquelas o controlo do mar. O segundo grupo de
renovação dos meios combatentes. Para que estão relacionadas com o meio em que problemas relaciona-se com o facto de a
esse efeito, procurei sintetizar neste texto operam e com o poder naval dos potenci- maioria dos Estados ribeirinhos serem
os aspectos mais relevantes da sua utili- ais antagonistas. incapazes de responder pronta e eficaz-
dade, já que é inquestionável a existência No âmbito do desempenho militar con- mente contra ameaças submarinas, o que
de recursos financeiros para adquirir e vém referir que o submarino, por si só, torna possível a continuação de ataques
sustentar os submarinos, de recursos téc- não permite alcançar o controlo do mar com elevado nível de atrição, que
nicos para os manter e de recursos nem, em consequência, obter a decisão da reduzem a vontade de combater ou resis-
humanos para os operar. guerra, excepto em casos de flagrante tir do inimigo. O terceiro grupo de proble-
A utilidade dos submarinos está asso- fraqueza global do inimigo. Contudo, a mas depende do facto de os submarinos
ciada à necessidade do Estado exercer a sua faculdade de ocultação, grande permitirem que uma potência mais fraca
soberania e garantir a dissuasão através autonomia, capacidade para actuar isola- perturbe profundamente a economia de
de um adequado desempenho militar, do e para colaborar com forças de superfí- outra mais forte, sem necessitar de con-
requisitos que consubstanciam, em ultima cie e subsuperfície, permitem rentabilizar quistar ou manter o controlo do mar.
análise, a capacidade de defesa do inte- a configuração geográfica do território Neste contexto convirá salientar que os
resse nacional . nacional (Continente, Açores e Madeira) e submarinos, ao contrário dos navios de
O exercício da soberania é efectuado representam um considerável potencial superfície, podem atacar terra a partir de
através da presença naval e da fiscalização de combate. Com efeito, a sua discrição áreas onde o seu país não possui o contro-
preventiva e correctiva dos espaços marí- acústica, complementada com o conheci- lo do mar. Este efeito poderá ser consegui-
timos, actividades em que o submarino se mento e utilização dos parâmetros hidro- do empregando os submarinos na flage-
revela eficaz por poder actuar dissimula- oceanográficos e a capacidade de lançar lação da navegação inimiga, preservando,
do com o meio, exercendo, desta forma, mísseis, proporcionam condições opera- por um lado, os meios próprios e, por
uma profícua vigilância do espaço maríti- cionais e tácticas favoráveis para atacar outro lado, desgastando o adversário pela
mo interterritorial, para a qual é indispen- com sucesso, não só as forças navais de redução do seu potencial mássico e
sável a sua capacidade de operar durante superfície mas, também, outros submari- dinâmico.
largos períodos longe das bases de apoio. nos e objectivos estratégicos em terra. Por O que anteriormente foi dito é válido
Para dissuadir é fundamental, entre ou- esta razão, num teatro de operações emi- para o emprego de submarinos em qual-
tros aspectos, dispor de sistemas de armas nentemente naval, um submarino con- quer espaço marítimo, nacional ou inter-
e forças com qualidade e em quantidade, vencional moderno pode exercer, seja nacional, no desempenho de tarefas rela-
que poderão consumir recursos essenciais qual for a situação táctica ou o requisito cionadas com a defesa dos múltiplos
a outros sectores da vida nacional. Contu- estratégico, uma influência e um efeito interesses nacionais, que se confundem
do, os submarinos convencionais possibili- muito superior à sua dimensão física. crescentemente com os das organizações
tam determinados níveis de dissuasão re- Basta haver a suspeita da sua presença na internacionais de carácter político, eco-
lativamente a acções militares de eventuais área de conflito, para as forças inimigas nómico e militar a que o país pertence.
antagonistas, com um empenhamento terem de despender um esforço muito Por isso, Portugal deve dispor de meios
mínimo de recursos. Este facto decorre da maior na protecção das suas unidades militares para assumir com dignidade e
flexibilidade das missões e das capaci- principais e dos seus alvos estratégicos. credibilidade as suas responsabilidades
dades de sobrevivência, de prontidão, de Ainda no âmbito do desempenho, no seio dessas organizações, defendendo
resistência e de destruição dos submari- parece conveniente salientar que o interesses comuns, de modo a preservar
nos, que permitem não só negar o uso do emprego de submarinos coloca a um pos- os seus interesses vitais. A actualidade e
mar, mas também atacar alvos estratégi- sível opositor três grupos de problemas, relevância deste requisito de defesa nacio-
cos, explorando sempre o factor surpresa. que resultam do facto de serem uma arma nal, reforça ainda mais a utilidade dos
Por tudo isto, pode afirmar-se que os sub- assimétrica. O primeiro grupo de proble- submarinos.
marinos viabilizam a defesa directa, mas está associado à importância da tec-
reduzem o risco de escalada e consubstan- nologia para ganhar a guerra. Por serem
ciam a principal capacidade de resposta combatidos num meio em certa medida Silva Ribeiro
das pequenas potências contra forças opaco, só com o emprego de tecnologias CFR
4 FEVEREIRO 2000 • REVISTA DA ARMADA