Page 78 - Revista da Armada
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PONTO AO MEIO-DIA




                                             A Escola




                                de Submarinos






                  a altura em que está a ser lan-  de um só membro da guarnição pode  há registo de qualquer Marinha que
                  çado o programa para a substi-  depender, não só o sucesso da missão  tenha adquirido capacidade submarina
          N tuição dos nossos já velhos      como a sobrevivência de todos. Esta cir-  e a tenha posteriormente abandonado.
          submarinos, vem sendo necessário es-  cunstância poderá atingir grau igual ou  Por outro lado muitas se candidatam à
          clarecer a opinião pública sobre o inte-  superior apenas nos aviões. Mas  aquisição de submarinos. Na década de
          resse para Portugal em manter meios  enquanto que os aviões treinam tripu-  90 foram vendidos 41 submarinos,
          navais deste tipo. Tendo em atenção a  lações de uns dois a seis homens para  número que é importante. A Dinamar-
          evolução do ambiente internacional na  missões de poucas horas, os submarinos  ca, apesar das restrições financeiras
          última década, considerando o rápido  têm que treinar cerca de 30, todos eles  agora anunciadas, esclareceu que o pro-
          desenvolvimento das tecnologias apli-  preparados para cumprir mais do que  grama de submarinos, que ultrapassa as
          cadas à indústria de defesa e conhe-  uma função técnica a bordo, durante  nossas limitadas ambições, não sofrerá
          cendo as últimas concepções da utiliza-  dias consecutivos. O treino tem que ser  qualquer redução.
          ção operacional dos meios navais, facil-  intenso. A propósito, salienta-se que os  Outro tema a esclarecer é o da ameaça
          mente compreendemos o valor dos sub-  novos submarinos, apesar dos equipa-  e do ambiente internacional que esta-
          marinos para a defesa nacional de  mentos e armas serem mais e mais  mos a viver, neste início do ano 2000.
          Portugal. Alguns destes pontos já foram  sofisticados, terão uma guarnição infe-  Não se poderá definir qualquer amea-
          expostos na imprensa diária e em nú-  rior em 40% à dos actuais (50 para 30  ça militar externa e directa sobre Portu-
          meros anteriores da Revista da Armada.  homens), o que representa um maior es-  gal. A preocupação dominante, hoje em
            Uma das questões não debatida foi a  forço e uma grande economia anual.  dia, é a prevenção dos conflitos e, mais
          do interesse em manter a escola de sub-  Depois vem a exploração táctica e  importante ainda, a tentativa de substi-
          marinos. Na verdade, não é um dos  operacional da unidade, com a dupla  tuir a acção unilateral de um Estado a
          argumentos primeiros para a aquisição  vertente de actuação absolutamente iso-  favor de uma das partes em conflito,
          dos novos submarinos, como o são   lada ou integrada numa força. Tudo  como era habitual durante a Guerra
          muitas das razões que se deduzem dos  isto é a escola de submarinos que, há  Fria, por uma presença multinacional,
          considerandos acima indicados. Mas é  alguns anos, proporcionou cursos de  neutral, com preocupações de manter
          muito importante.                  especialização a oficiais da Marinha  ou de recuperar a paz.
            Nos tempos de hoje, em que algumas  espanhola. A família submarina nasce  Mas o que é facto, e tomando como
          forças navais e terrestres (espanholas e  na escola, numa tradição e numa expe-  referência os últimos conflitos ou os de
          americanas, por exemplo), ou mesmo as  riência acumulada que custaria perder.  hoje, é que a reacção internacional foi
          unidades navais que vão para as Re-  Nem a escola de draga-minas, que já  sempre tardia, tendo talvez como única
          giões Autónomas, querem ser rendidas  perdemos, tinha importância seme-  excepção a presença militar na Mace-
          ao fim de quatro meses, admira que haja  lhante. A actividade operacional de  dónia. E, enquanto a decisão de intervir
          quem não compreenda que é dura uma  dragagem de minas é perigosa, mas os  tardou, as forças navais avançaram
          comissão prolongada, com homens    draga-minas são navios de superfície  sempre. Enquanto as forças terrestres
          preparados para imersão por períodos  como quaisquer outras pequenas unida-  de intervenção aguardavam autoriza-
          que poderão chegar a mês e meio, em  des costeiras.                  ção para “estar”, as forças navais já “es-
          ambiente excepcionalmente confinado,  Os operadores dos sistemas antimíssil  tavam”, sem violar fronteiras e sem pre-
          em situação normal de risco, sem es-  de defesa territorial, que ultimamente  cisar de autorização. E muitas vezes
          paço, sem luz do dia nem mudança de  tanta vez tem sido referidos, tem ape-  realizaram desembarques, e sempre os
          caras. E não se trata apenas de uma  nas preparação técnica, como a exigida  submarinos estiveram presentes, em
          questão de estabilidade psicológica pré-  para um só sistema de armas de qual-  antecipação, colhendo informações de
          -confirmada em rigorosa inspecção mé-  quer navio, pois as responsabilidades  excepcional valor para o planeamento
          dica e selecção. É algo que também se  de decisão táctica e operacional com-  das acções seguintes. Mesmo hoje, em
          desenvolve, uma questão de treino cui-  petem a um escalão superior de coman-  Timor foi assim que a força naval inter-
          dado e aturado, de habituação e de  do, normalmente integrado.       nacional antecedeu a presença militar
          mentalização.                       Está largamente provado que a for-  no território e que a fragata portuguesa,
            A formação técnica, que é o que logo  mação inicial da componente submari-  apesar da demora em percorrer o meio
          vem à ideia quando se fala de escola, é  na de qualquer Marinha demora, no  mundo que nos separa, antecedeu qual-
          hoje comum a inúmeras actividades, mi-  mínimo, 20 anos para se consolidar e  quer outro tipo de cooperação nacional
          litares e não militares. Nos submarinos,  produzir resultados tácticos e opera-  com aquele Estado que tanto desejamos
          relaciona-se de forma particular com a  cionais que inspirem confiança. A perda  ajudar a formar. E já vai ser rendida por
          missão e com o risco de vida, da vida  da nossa escola de submarinos signifi-  outra, quando as forças terrestres se
          própria, e da de muitos outros. Do erro  caria o retrocesso a esta situação. Não  preparam para iniciar a sua comissão.


         4 MARÇO 2000 • REVISTA DA ARMADA
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