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PONTO AO MEIO-DIA
A Escola
de Submarinos
a altura em que está a ser lan- de um só membro da guarnição pode há registo de qualquer Marinha que
çado o programa para a substi- depender, não só o sucesso da missão tenha adquirido capacidade submarina
N tuição dos nossos já velhos como a sobrevivência de todos. Esta cir- e a tenha posteriormente abandonado.
submarinos, vem sendo necessário es- cunstância poderá atingir grau igual ou Por outro lado muitas se candidatam à
clarecer a opinião pública sobre o inte- superior apenas nos aviões. Mas aquisição de submarinos. Na década de
resse para Portugal em manter meios enquanto que os aviões treinam tripu- 90 foram vendidos 41 submarinos,
navais deste tipo. Tendo em atenção a lações de uns dois a seis homens para número que é importante. A Dinamar-
evolução do ambiente internacional na missões de poucas horas, os submarinos ca, apesar das restrições financeiras
última década, considerando o rápido têm que treinar cerca de 30, todos eles agora anunciadas, esclareceu que o pro-
desenvolvimento das tecnologias apli- preparados para cumprir mais do que grama de submarinos, que ultrapassa as
cadas à indústria de defesa e conhe- uma função técnica a bordo, durante nossas limitadas ambições, não sofrerá
cendo as últimas concepções da utiliza- dias consecutivos. O treino tem que ser qualquer redução.
ção operacional dos meios navais, facil- intenso. A propósito, salienta-se que os Outro tema a esclarecer é o da ameaça
mente compreendemos o valor dos sub- novos submarinos, apesar dos equipa- e do ambiente internacional que esta-
marinos para a defesa nacional de mentos e armas serem mais e mais mos a viver, neste início do ano 2000.
Portugal. Alguns destes pontos já foram sofisticados, terão uma guarnição infe- Não se poderá definir qualquer amea-
expostos na imprensa diária e em nú- rior em 40% à dos actuais (50 para 30 ça militar externa e directa sobre Portu-
meros anteriores da Revista da Armada. homens), o que representa um maior es- gal. A preocupação dominante, hoje em
Uma das questões não debatida foi a forço e uma grande economia anual. dia, é a prevenção dos conflitos e, mais
do interesse em manter a escola de sub- Depois vem a exploração táctica e importante ainda, a tentativa de substi-
marinos. Na verdade, não é um dos operacional da unidade, com a dupla tuir a acção unilateral de um Estado a
argumentos primeiros para a aquisição vertente de actuação absolutamente iso- favor de uma das partes em conflito,
dos novos submarinos, como o são lada ou integrada numa força. Tudo como era habitual durante a Guerra
muitas das razões que se deduzem dos isto é a escola de submarinos que, há Fria, por uma presença multinacional,
considerandos acima indicados. Mas é alguns anos, proporcionou cursos de neutral, com preocupações de manter
muito importante. especialização a oficiais da Marinha ou de recuperar a paz.
Nos tempos de hoje, em que algumas espanhola. A família submarina nasce Mas o que é facto, e tomando como
forças navais e terrestres (espanholas e na escola, numa tradição e numa expe- referência os últimos conflitos ou os de
americanas, por exemplo), ou mesmo as riência acumulada que custaria perder. hoje, é que a reacção internacional foi
unidades navais que vão para as Re- Nem a escola de draga-minas, que já sempre tardia, tendo talvez como única
giões Autónomas, querem ser rendidas perdemos, tinha importância seme- excepção a presença militar na Mace-
ao fim de quatro meses, admira que haja lhante. A actividade operacional de dónia. E, enquanto a decisão de intervir
quem não compreenda que é dura uma dragagem de minas é perigosa, mas os tardou, as forças navais avançaram
comissão prolongada, com homens draga-minas são navios de superfície sempre. Enquanto as forças terrestres
preparados para imersão por períodos como quaisquer outras pequenas unida- de intervenção aguardavam autoriza-
que poderão chegar a mês e meio, em des costeiras. ção para “estar”, as forças navais já “es-
ambiente excepcionalmente confinado, Os operadores dos sistemas antimíssil tavam”, sem violar fronteiras e sem pre-
em situação normal de risco, sem es- de defesa territorial, que ultimamente cisar de autorização. E muitas vezes
paço, sem luz do dia nem mudança de tanta vez tem sido referidos, tem ape- realizaram desembarques, e sempre os
caras. E não se trata apenas de uma nas preparação técnica, como a exigida submarinos estiveram presentes, em
questão de estabilidade psicológica pré- para um só sistema de armas de qual- antecipação, colhendo informações de
-confirmada em rigorosa inspecção mé- quer navio, pois as responsabilidades excepcional valor para o planeamento
dica e selecção. É algo que também se de decisão táctica e operacional com- das acções seguintes. Mesmo hoje, em
desenvolve, uma questão de treino cui- petem a um escalão superior de coman- Timor foi assim que a força naval inter-
dado e aturado, de habituação e de do, normalmente integrado. nacional antecedeu a presença militar
mentalização. Está largamente provado que a for- no território e que a fragata portuguesa,
A formação técnica, que é o que logo mação inicial da componente submari- apesar da demora em percorrer o meio
vem à ideia quando se fala de escola, é na de qualquer Marinha demora, no mundo que nos separa, antecedeu qual-
hoje comum a inúmeras actividades, mi- mínimo, 20 anos para se consolidar e quer outro tipo de cooperação nacional
litares e não militares. Nos submarinos, produzir resultados tácticos e opera- com aquele Estado que tanto desejamos
relaciona-se de forma particular com a cionais que inspirem confiança. A perda ajudar a formar. E já vai ser rendida por
missão e com o risco de vida, da vida da nossa escola de submarinos signifi- outra, quando as forças terrestres se
própria, e da de muitos outros. Do erro caria o retrocesso a esta situação. Não preparam para iniciar a sua comissão.
4 MARÇO 2000 • REVISTA DA ARMADA