Page 79 - Revista da Armada
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Num recente número da revista   reformulada seria aprovada no ano  contrapartidas nacionais que o contrato
          Naval Forces (3/1999), numa entrevista  2000 e que novos recursos financeiros  de aquisição contempla. Por outro lado,
          ao Chefe da Marinha da Federação  seriam atribuídos à indústria naval mili-  os meios adquiridos mantêm-se opera-
          Russa, uma das respostas veio na  tar russa, pois que a Russia só se tinha  cionais por dezenas de anos. Não há
          sequência da seguinte afirmação: As  tornado superpotência depois de se ter  processo de aquisição de unidades
          Marinhas sempre estiveram orientadas  transformado numa potência naval.  navais de razoável dimensão que não
          internacionalmente. Não só hoje, mas tam-  Será mais provável que o actual Chefe  demore pelo menos dez anos a con-
          bém no futuro elas serão chamadas para a  de Estado o tente, mas as dúvidas quan-  cretizar e os submarinos ou as fragatas
          realização de missões de manutenção da paz  to à capacidade de realização deste pro-  têm uma vida operacional que anda
          e de imposição da paz (p.17). Por outro la-  pósito ainda são muitas.  pelos 30 anos.
          do, o Presidente leltsin fez reunir o  A modernização da capacidade sub-
          Conselho de Segurança da Federação  marina envolve sempre quantias ele-
          Russa no dia 24 de Novembro de 1999,  vadas, mas a despesa é dividida por          António Emílio Sacchetti
          ficando decidido que a doutrina naval  largo número de anos e são grandes as                     VALM




          APONTAMENTO


                           O regresso do príncipe
                           O regresso do príncipe



                            ao campo de batalha
                            ao campo de batalha



             anúncio da substituição do general  dos respectivos estados-maiores não estão  uma carreira nesta área. Desta forma,
         OWesley Clark no cargo de coman-   preparados para lidar com esta nova reali-  conferir-se-ia um papel social acrescido
         dante supremo aliado na Europa, efectua-  dade. Com efeito, nas democracias oci-  ao ensino superior militar e promover-se-
         do poucas semanas depois de ter liderado  dentais o decisor político define a missão  -ia uma instrução avançada e rigorosa,
         a vitória aliada no Kosovo, é o prenuncio  e aprova uma modalidade de acção, entre  essencial para dotar civis e militares com
         de uma crise de relacionamento político-  as várias apresentadas pelo comandante  a sofisticação metodológica e os conheci-
         -militar. Na génese desta decisão estará o  operacional para alcançar o objectivo  mentos necessários do desenvolvimento e
         fascínio do general pela obtenção de  visado. Neste quadro, o comandante  operacionalização da política de defesa
         sucessos “clausewitzianos”, conseguidos  operacional articula os meios colocados à  nacional.
         à custa do esmagamento físico das forças  sua disposição, num dado meio geográfi-
         contrárias, o que motivou o exercício de  co e tempo, de forma a alcançar aquele  Relativamente à estrutura de apoio à
         grandes pressões sobre os seus superiores  objectivo. Por isso, a interferência do  decisão estratégica importa notar que o
         para obter mais recursos, decisões mais  decisor político nas competências do  Estado actua num ambiente internacional
         rápidas e autorização para acções mais  comandante operacional, seleccionando  onde existem continuamente complicadas
         directas. Desta forma, desafiou as orien-  os alvos a atacar e os meios a empregar  disputas de interesses, cujo acompanha-
         tações políticas e militares determinadas  em cada acção, tal como se verificou no  mento sobrecarrega o normal funciona-
         por Washington e ultrapassou claramente  Kosovo, ao alterar o padrão do relaciona-  mento dos gabinetes ministeriais. Por isso,
         os limites da autonomia de decisão de um  mento político-militar, gerou uma crise  é muito arriscado aguardar que uma delas
         comandante de teatro estratégico. Apesar  que afecta indistintamente todos os alia-  se torne problemática para criar grupos ad
         de errada, a atitude do general Clark não  dos. A nível nacional a solução desta  hoc destinados à sua gestão, tal como
         teve como objectivo criar dificuldades  crise implicará a adopção de medidas nas  aconteceu no passado. Esses riscos pode-
         aos seus superiores nacionais e NATO.  áreas da formação especializada em defe-  rão ser evitados constituindo núcleos per-
         Estou convicto que não se apercebera do  sa nacional e da estrutura de apoio à  manentes de apoio à decisão estratégica
         abrupto “regresso do príncipe ao campo  decisão estratégica de mais alto escalão  junto dos gabinetes do Primeiro-Ministro,
         de batalha”, depois de dois séculos de  do Estado.                    do Ministro da Defesa e do Ministro dos
         ausência.                            Quanto à formação especializada deve-  Negócios Estrangeiros, e dotando-os com
           Desde as campanhas napoleónicas,  ria ser estabelecido um programa  especialistas qualificados. Para garantir o
         altura em que a guerra se mundializou,  nacional de estudos de pós graduação em  adequado funcionamento e interacção
         que a diversidade de teatros e as longas  defesa, multidisciplinar e centrado nas  destes núcleos com o comando operacio-
         distâncias entre a sede dos poderes em  áreas tradicionais das preocupações de  nal das Forças Armadas, é necessário
         conflito e os respectivos exércitos, dificul-  segurança portuguesas. Este programa, a  rever e validar a doutrina e os procedi-
         tavam a presença dos decisores políticos  ser coordenado pelo Instituto de Defesa  mentos de decisão estratégica, o que im-
         nos teatros de operações. A tecnologia  Nacional, integraria módulos de cursos  plicará o desenvolvimento de programas
         dos meios de comando e controlo permi-  ministrados nas universidades e nos insti-  nacionais de treino em gestão de crises,
         tiu ultrapassar esta limitação física e os  tutos superiores militares, e seria estrutu-  onde se exercitem as diversas vertentes
         efeitos catastróficos das armas modernas  rado de forma a satisfazer os requisitos  das relações político-militares.
         impuseram a micro gestão política do uso  funcionais, quer dos especialistas já
         da força militar. Os decisores políticos, os  envolvidos no apoio à decisão estratégi-  António Silva Ribeiro
         comandantes operacionais e os membros  ca, quer dos jovens que desejam iniciar                       CFR
                                                                                       REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2000  5
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