Page 11 - Revista da Armada
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PATRONO DO NOVO CURSO DA ESCOLA NAVAL
Vice-Almirante
Vice-Almirante
Alfredo Botelho de Sousa
Alfredo Botelho de Sousa
lfredo Botelho de Sousa nasceu na ilha de S. Miguel a 1 de embarcar como comandante do vapor “Almirante Paço de
Dezembro de 1880, frequentando o Liceu de Ponta Delgada, Arcos”, a transportar tropas de Lisboa para a Flandres. Nestas
Aonde concluiu os estudos secundários com especial bri- funções foi agraciado com o grau de cavaleiro da Ordem Militar
lhantismo. Em 1896 veio para Lisboa onde ingressou na Escola da Torre e Espada.
Politécnica, mas dois anos depois transitou para a Escola Naval, cujo A Guerra terminaria com a capitulação total da Alemanha, a 11
curso terminou em 1901. Embarcou no cruzador “D. Carlos” e nas de Novembro de 1918, e as negociações de Versalhes começam em
canhoneiras “Sado”, “D. Luís” e “Tâmega”, em pequenas comissões Janeiro do ano seguinte, com a presença na delegação portuguesa
de serviço que o levaram aos mares da sua terra natal e às ilhas de do Capitão-Tenente Alfredo Botelho de Sousa, no cargo de relator
Cabo Verde. Em 1903, parte para o Índico, prestando serviço na Índia da Marinha. Regressou a Lisboa em 1921, terminada a comissão no
e em Moçambique e apercebendo-se Ministério dos Negócios Estrangeiros
da natureza física e dos problemas que e obtendo a nomeação definitiva co-
afectaram o espaço marítimo domina- mo lente da cadeira de Arte Militar
do pelos portugueses durante o século Marítima, na Escola Naval (11ª ca-
XVI. Poucos anos antes desta comissão, deira) e de Material e Operações
o Almirante americano Alfred Thayer Navais (36ª cadeira) na Escola Militar.
Mahan publicava um conjunto de Porém, estes cargos não o impediram
sucessivas obras que viriam a marcar de acumular múltiplas outras funções,
todo o pensamento estratégico do quer de índole operacional, quer de
princípio do século XX, nalguns casos estudo e planeamento: em 1922 per-
até à actualidade. Essas obras foram tence à comissão encarregada do pro-
estudadas com entusiasmo por Botelho jecto de organização do Ministério da
de Sousa, que a elas se refere com fre- Marinha; em 1923 é vogal da
quência em múltiplas publicações que Comissão de História Militar; em 1926
começa a escrever desde muito cedo. e 27 é comandante do contra-tor-
Mahan não tem uma obra sistemática e pedeiro “Tâmega”; ainda em 1927 é
bem definida, mas tem ideias chave professor do Curso Naval de Guerra;
que se tornaram claras e concisas, fáceis de 1934 a 36 é comandante do contra-
de apreender e, sobretudo, encerrando -torpedeiro “Lima” e acumula com as
um conceito de domínio do mar que funções de comandante da respectiva
vinha ao encontro das ambições dos esquadrilha; em 1936 e 37 é Chefe de
Estados Unidos no complexo político Gabinete do Major General da Ar-
internacional emergente no princípio mada; no mesmo ano de 1936, integra
do século XX. Botelho de Sousa enten- a Comissão Organizadora do Museu
deu-as muito bem e com elas sentiu de de Marinha; em 1939 é Chefe do
forma ainda mais aguda a angústia da Estado Maior Naval e, no ano seguin-
decadência imperial portuguesa no te, é o Major General da Armada.
Oriente, com um poder naval que Deixou uma obra escrita que se
nunca fora cuidado e que, naquela conta por mais de quinhentas crónicas
altura, atingia níveis de incúria que no Diário dos Açores; umas largas cen-
ameaçavam levá-lo ao desaparecimen- tenas de artigos no jornal O Século,
to total. Para o então 2º tenente – que testemunhara a humilhação do nos Anais do Clube Militar Naval e noutras publicações periódicas;
ultimatum, e que vivera de forma esfusiante e patriótica as sucessivas trabalhos de grande vulto relacionados com a Marinha e a Defesa
comemorações do quarto centenário das grandes navegações por- Nacional, como Os factores imponderáveis da Guerra (compilação de
tuguesas – a visão do Índico de Vasco da Gama, associada ao caos lições ministradas do Curso Naval de Guerra), As operações contra a
em que sentia a Marinha, feriam-lhe a alma, mas motivavam-no para costa e as expedições combinadas; e trabalhos de História Naval de
um pertinaz e sistemático estudo em busca das soluções que permi- qualidade ímpar, como são Os Primeiros cem anos da Escola Naval;
tissem inverter a marcha descendente dos acontecimentos. Subsídios para a história das guerras da restauração no mar e no além-mar;
Regressou doente à Metrópole em 1908 e a implantação da República O período da restauração na Índia; O período da restauração nos mares da
vai encontrá-lo como Capitão do Porto de Ponta Delgada. Foi eleito Metrópole, no Brasil e em Angola; e principalmente Subsídios para a
deputado à Assembleia Constituinte de 1911 e foi um dos senadores história militar marítima da Índia: 1585-1669, etc.
que aprovaram a Constituição, mas não mais deixara de pensar nos Notável na análise da situação internacional, especialmente em
problemas próprios da sua Marinha, levando ao prelo, em 1912, uma tudo o que se relacionasse com o mar e com o poder marítimo, teve
obra de cariz doutrinário (onde sobressai o fundo mahanista), intitu- um papel determinante na definição das linhas mestras da Marinha
lada Marinha e Defesa Nacional. Portuguesa ao longo do século XX, gozando de elevado prestígio
Em 1916, quando Portugal entrou na Primeira Grande Guerra, internacional.
Botelho de Sousa era chefe do Observatório Meteorológico de
Ponta Delgada, mas pediu de imediato a exoneração do cargo, para (Colaboração de J. Semedo de Matos, CFR FZ)
REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2003 9