Page 151 - Revista da Armada
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REFLECTINDO… X
prosseguir a política de potenciação
dos recursos humanos, como garan-
te do fortalecimento da capacidade PODER DO CONHECIMENTO
estratégica da Marinha. Para tal, ele-
gem-se como vectores de actuação as otência é um termo que aparece frequentemente em alternativa ao con-
áreas da liderança, da motivação, do ceito de Estado, para designar a sede de um poder soberano reconheci-
desempenho, da coesão e da qualifi- Pdo internacionalmente. Recorremos também ao termo potência quando
cação. Objectivamente, no campo da queremos estabelecer uma hierarquia de Estados, baseada na sua capacidade
motivação reconhece-se a necessida- de influenciar as relações internacionais de uma maneira previsível e de acor-
de de distinguir a especificidade do do com a sua vontade.
pessoal embarcado e daquele que de- Poderemos optar por uma classificação de potências com pouca definição,
sempenha funções na primeira linha grandes, médias e pequenas potências, ou seguir uma avaliação um pouco mais
de exigência operacional, de forma a elaborada, com escalões de 1.ª a 5.ª grandeza. A partir do momento em que se
tornar a permanência em unidades multiplicaram os Estados exíguos (conceito do Prof. Adriano Moreira) ou des-
operacionais mais atractiva. de que a ONU definiu os least-developed countries (LLDC), mais frágeis do que
Relativamente ao material é esta- os há muito designados less-developed countries (LDC), poderemos admitir um
belecido que a renovação e regene- novo grupo de potências de 6.ª grandeza.
ração da esquadra (entendida como Porém, o que se pretende agora salientar é que estas classificações se baseiam
o conjunto de unidades navais, de na avaliação, e na quantificação, de vários factores de poder nacional.
fuzileiros e de mergulhadores e es- Sempre a “geografia e a população” foram factores importantes na defi-
trutura operativa da Direcção-Geral nição da grandeza das potências; a geopolitóloga brasileira Therezinha de
da Autoridade Marítima), deverá ter Castro chamava-lhe “factor presença”. Desde muito cedo que a produção
em atenção que: as unidades opera- agro-pecuária era sinal da riqueza dos povos e quando se formaram as pri-
cionais são a essência da Marinha; a meiras sociedades comerciais da antiguidade o comércio apareceu como novo
utilidade da Marinha para o País só factor de poder.
será uma realidade se a organização A partir da revolução industrial foram surgindo, a bom ritmo, novos factores
se afirmar enquanto conjunto sinér- para acrescentar à lista dos elementos de avaliação das potências: a posse de
gico; as restrições orçamentais im- recursos naturais e entre estes os recursos energéticos, a capacidade industrial,
põem um adequado balanceamento a capacidade de projectar poder ou de defender interesses próprios em áreas
das capacidades próprias e um es- distantes, o desenvolvimento científico e tecnológico.
forço acrescido para assegurar e não Neste aspecto vivemos hoje uma nova revolução.
perder a interoperabilidade com os Em tempos não muito recuados, as descobertas científicas surgiam de “longe
países aliados. a longe” e era lenta a sua divulgação. Hoje o desenvolvimento científico está
Importa agora desenvolver o planea- a processar-se com enorme aceleração, quase sempre superior à velocidade de
mento, que transformará os desafios apreensão da inovação; e a sua divulgação é imediata.
estratégicos que emanam da visão es- Mais importante ainda e ao contrário do que anteriormente sucedia, pra-
tratégica, dos objectivos e das linhas ticamente toda a descoberta científica tem hoje em dia uma grande multipli-
de acção de comando e administração cidade de aplicações tecnológicas, com influência decisiva na vida das socie-
superior determinadas na Directiva dades. Muitas vezes, as novas tecnologias não nascem nos países que têm a
de Política Naval, em programas, pro- liderança científica (as tecnologias de aplicação militar são uma excepção; são
jectos, subprojectos e acções tangíveis objecto de especiais medidas de segurança, mas também da mais sofisticada
e concretizáveis, que permitam opera- espionagem).
cionalizar as decisões. Para esse efeito, O conhecimento é já um importantíssimo factor do poder nacional dos Esta-
serão homologadas, no corrente mês, dos, com capacidade de influenciar os mais diversos ramos da actividade na-
as Directivas Sectoriais dos titulares cional e com bastante peso nas relações internacionais. Além disso, o poder
do OCAD e equivalentes, que enqua- do conhecimento deverá ser, entre todos os factores que atrás se referiram, o
drarão superiormente o planeamento mais independente do “factor presença”, que foi sempre dominante, com a sua
de todos os organismos na sua depen- componente geográfica permanente e a demografia de difícil controlo.
dência, e que, desta forma, garantirão Os EUA são, de longe, o país onde o poder do conhecimento tem maior ex-
a conformidade com a Directiva de pressão. Receiam porém que dois aspectos possam reduzir o avanço que usu-
Política Naval. fruem: primeiro, a pronta circulação da informação e do conhecimento tende
É uma tarefa onde todos estamos a permitir algum nivelamento; segundo, as grandes limitações ao movimento
activamente empenhados, a bem da de milhares de estudantes estrangeiros nas suas universidades e à circulação
eficiência, da eficácia, da qualidade e de “cérebros”, tudo consequência das medidas de segurança em vigor após os
do prestígio interno e externo, não só ataques de 11.09.01.
porque temos esperança e confiança Quanto a nós, a introdução das novas tecnologias nas escolas e o grande au-
no futuro, mas também para que os mento agora anunciado das verbas para investigação e desenvolvimento não
portugueses possam continuar a ter são só medidas para a modernização da sociedade mas também uma forma de
um grande orgulho na sua Marinha. engrandecer o nosso poder nacional. O factor imaterial do conhecimento tem
Z enorme valor, e é mais acessível do que os factores materiais que nos faltam.
Victor M. B. Lopo Cajarabille Z
VALM António Emílio Sacchetti
VALM
REVISTA DA ARMADA U MAIO 2006 5