Page 16 - Revista da Armada
P. 16
NO CENTENÁRIO DE JÚLIO VERNE
NO CENTENÁRIO DE JÚLIO VERNE
o dia 20 de Julho de 1866, o navio Go- submarino Nautilus comandado pelo não me- Nantes a 8 de Fevereiro de 1828. Seu pai advo-
vernador Higginson, a cerca de cinco nos famoso capitão Nemo. gado de prestígio, sua mãe descendente de
Nmilhas a leste do litoral da Austrália, Depois, segue-se a viagem deste navio du- uma família com grande tradição marítima.
encontrou-se frente a frente com um estranho rante vinte mil léguas, pelas profundezas dos Nantes, era na época, um porto com intenso
objecto que esguichou para o ar dois jactos si- oceanos, seguramente uma viagem extrava- movimento, onde chegam e largam inúmeros
bilantes de água. Três dias depois, acon- três mastros, que fazem sonhar o jovem
tece facto idêntico com o navio Cristóvão Júlio com viagens pelo mundo fora.
Colombo. Passadas duas semanas, a mil Com onze anos, embarca num navio
léguas dali, o Helvécia e o Shannon, têm de longo curso, rumo às Índias, mas a
encontros semelhantes. Esse objecto ou notícia chega a tempo de fazer fracassar
monstro marinho vai intrigando os tri- a aventura.
pulantes dos navios que o avistam. A 13 Júlio vai para Paris afim de cursar Di-
de Abril de 1867, o Escócia, que navega- reito. Nessa bela cidade, convive com
va em 15º 12’ W e 45º 37´ N, sofre um Victor Hugo e Alexandre Dumas Filho.
choque que passaria sem consequências Interessa-se mais pelo teatro do que pelo
se não fosse o pessoal das caldeiras, su- direito. O pai corta-lhe a mesada e Júlio
bindo ao convés gritasse: “Vamos a pi- emprega-se na Bolsa. Em 1850 acaba o
que! Vamos a pique!”. seu curso de Direito e escreve a comédia
Em face da situação, os Estados Uni- Les Pailles Rompues e, mais tarde, Onze
dos tomam a iniciativa de enviar a fra- Jours de Siège. Entretanto Edgar Allan
gata velocíssima Abraão Lincoln, provi- Poe faz grande sucesso em Paris e Ver-
da de formidáveis aparelhos de pesca, ne torna-se seu admirador. Procura um
para procurar esclarecer tão intrigante novo caminho literário, que virá a ser
situação. Nela vai embarcado o cana- chamado ciência-ficção. Documenta-se.
diano Ned Land, rei dos arpoadores, Frequenta bibliotecas, estuda geologia,
certamente capaz de caçar, se tal for, engenharia e astronomia, ferramentas
um narval, por maior que seja. E, como que irão cimentar a sua fantástica ima-
convidado, o sábio professor Pierre ginação. Em 1851, escreve o seu primei-
Aronnax, do Museu de Paris, acompa- ro conto: “Uma viagem em balão”, que,
nhado por Conselho, seu inseparável e seguramente, o leva a apresentar, em
dedicado criado. 1863, Cinco Semanas em Balão, que foi um
Retrato de J.Verne.
Até que, nos fins de Julho, a menos de grande sucesso editorial.
200 milhas da costa do Japão, é avistado o cetá- gante, mas maravilhosa, que incluiu, entre múl- Um dia Júlio Verne conhece Pierre Jules
ceo tão procurado, o navio Abraão Lincoln ma- tiplas aventuras, uma visita à cidade submersa Hetzel, que será seu editor e conselheiro até ao
nobra, aproxima-se, procura a melhor posição. de Atlantis e a luta com um polvo gigante. En- fim da sua carreira. De facto, Hetzel, que tinha
Depois de várias tentativas, Ned Land arremes- fim, uma história que fez as delícias aos jovens trabalhado com Balzac e Geoge Sand, torna-se
sa o arpão. Mas duas enormes trombas de água de todas as idades, mas especialmente, aqueles um profícuo colaborador de Verne, pois lê cui-
varrem o navio que lançam ao mar o professor que abraçaram a profissão de andar no mar. dadosamente os seus manuscritos não hesitan-
Pierre Aronnax, o seu fiel criado e Ned Land. Estamos naturalmente a falar de Vinte Mil do em apresentar sugestões. De tal modo o faz
Em seguida, com a ajuda de uma soberba ima- Léguas Submarinas, uma das mais admiráveis que, ao ler “Paris no Século XX”, um dos últi-
ginação, estes três náufragos entram no famoso obras do francês Júlio Verne, que nasce em mos manuscritos de Verne, devolve-o com a
Colecção CALM Roque Martins
Primeiras edições em português.
14 JANEIRO 2006 U REVISTA DA ARMADA