Page 371 - Revista da Armada

PATRONO DO NOVO CURSO DA ESCOLA NAVAL

Comandante Álvaro Nunes Ribeiro
Comandante Álvaro Nunes Ribeiro

ascido na freguesia de S. Pedro de Alcântara a 29 de Março de África (1961 a 1974). À sua capacidade de chefia, liderança e
de 1878, Álvaro Augusto Manuel Nunes Ribeiro ingressa organização também se deve a criação da Escola de Radiotele-
Nna Escola Naval em Outubro de 1898. grafia e Comunicações de Monsanto, que desde 1928 passou ali
Em 1902, já guarda-marinha desde o ano anterior, parte para Mo- a funcionar e aí se manteve até 1937, formando largas centenas
çambique onde vai integrar uma coluna de operações cujo objectivo de telegrafistas que guarneceram os navios e integraram os qua-
é a ocupação e a pacificação da região do Barué, tendo sido então dros técnicos da Marinha.
condecorado com a Medalha de Prata “Rainha D. Amélia”. Em pouco tempo o Capitão-tenente Nunes Ribeiro, fora promo-
A partir de 1903 presta serviço, durante dois anos, a bordo do vido a este posto em Abril de 1918, criou, ergueu e desenvolveu
transporte “Álvaro de Caminha”, da Di- todo um sistema de comunicações navais,
visão Naval do Índico, tendo desempe- que passava pela adopção plena da Tele-
nhado um papel exemplar, revelando fir- grafia Sem Fios (TSF) e acompanhava as
meza e determinação quando, por ocasião grandes transformações técnicas e cientí-
de uma explosão que ocorre na Fortaleza ficas que atravessavam o seu tempo. Este
de S. Sebastião, na ilha de Moçambique, trabalho organizativo vai ter continui-
participa no apoio prestado pela Marinha dade nos anos seguintes, como Director
à população local. dos Serviços de Electricidade e Comuni-
Com o regresso a Lisboa o 2º tenente cações; Director de Posto Radiotelegráfi-
Nunes Ribeiro, entretanto promovido, co de Monsanto e Director de Ensino do
conclui o período ultramarino, tradicio- mesmo Posto, o seu último cargo a partir
nal para a geração de oficiais da Marinha de Dezembro de 1932.
da época. Em Novembro de 1925,no Congres-
Frequenta, em 1906, o curso de espe- so da “União Científica Internacional de
cialização em Oficial Torpedeiro, na Es- Astronomia, Geodesia e Telegrafia Sem
cola Prática de Torpedos e Electricidade Fios”, reunida em Greenwich, o Coman-
(EPTE), em Vale de Zebro, o que lhe per- dante Nunes Ribeiro é eleito encarregado
mite desenvolver os conhecimentos so- da Secção Astronómica da Hora e Secre-
bre a Electricidade e posteriormente em tário Permanente da Secção Portuguesa.
Electrónica e Rádiocomunicações, maté- Contudo, as Comunicações Rádionavais
rias em que será mais tarde uma notável serão sempre o seu grande desígnio. O
referência a nível nacional. impulso que deu à radiotelegrafia em
Após concluído o curso exerce funções Portugal, foi, registe-se, inclusivamente
de instrutor na EPTE até 1910, ano em que enaltecido pelo próprio Marconi, em 1929,
é nomeado Comandante do Torpedeiro n.º 4, cargo que desem- quando de visita a Portugal elogiou o trabalho do Comandante
penhava quando da instauração da República. nesta área técnica.
Nunes Ribeiro possuía ideias muito firmes sobre o que deveria Reconhecido como um eminente inovador, o seu labor no cam-
ser a política naval portuguesa, considerando indiscutível a ne- po das radiocomunicações terá proporcionado um avanço ao país
cessidade do país se dotar duma esquadra que ombreasse com as e à Marinha de cerca de três décadas em relação à época em que
outras potências navais europeias, nomeadamente a Espanha. O viveu. É de sublinhar que, desde a criação do Serviço Radiotele-
objectivo era óbvio: forças navais que reforçassem o papel atlânti- gráfico na Marinha em 1923, na dependência da Majoria da Ar-
co e ultramarino de Portugal. Esta vai ser a questão de princípio mada, uma das atribuições do Comandante Nunes Ribeiro foi
que determinará a sua acção futura como Secretário da Comissão estudar a Radiotelegrafia, através de observações e experiências
de Organização dos Serviços da Armada, constituída pelo Go- de ensaios e análises práticas. Por essa altura, a implantação de
verno Provisório da República em 1911. Nesse ano é eleito de- uma “Rede Telegráfica de Rádio” na Armada, teve como princi-
putado à Assembleia Constituinte, cumprindo a legislatura por pal objectivo o equipamento dos navios e a montagem e constru-
inteiro até 1914, data em que é promovido a primeiro-tenente. É ção de estações-rádio em terra; no propósito de tornar exequível
de assinalar que, como deputado, foi o relator da proposta que uma rede de comunicações formada pelas estações costeiras do
criou a Missão Hidrográfica da Costa de Portugal. espaço europeu e por aquelas que passariam a estar dissemina-
Porém, como atrás referido, foi nas radiocomunicações que das pelo Ultramar.
Nunes Ribeiro essencialmente se notabilizou. Após ter coman- Promovido ao posto de capitão-de-fragata em Janeiro de 1933,
dado entre 1915 e 1917, o rebocador “Bérrio”, e em seguida o Álvaro Nunes Ribeiro faleceu cinco meses depois deixando como
Salvadego “Patrão Lopes”, é nomeado director do Posto Ra- legado um sólido e avançado sistema de comunicações na Ma-
diotelegráfico de Monsanto em Janeiro de 1918 tendo a partir rinha e um contributo decisivo para a modernização científica e
desta data impulsionado as Comunicações na Armada de uma técnica de Portugal.
forma decisiva e brilhante. Nesse sentido, vai ajudar a erguer Entre as condecorações com que foi agraciado destacam-se as
em 1923, a Repartição dos Serviços Radiotelegráficos da Arma- de Comendador da Ordem Militar de Cristo, o Ordem de Aviz; a
da e no ano seguinte, a Direcção do Serviço de Electricidade e Ordem de Santiago da Espada; a Medalha de Prata de Bons Servi-
Comunicações (DSEC), organismo que lhe sucedeu e que durou ços; a Medalha de Ouro Comemorativa das campanhas do Exérci-
até 1978. Durante mais de meio século de existência a DSEC, en- to, com a legenda “No mar 1916-17-18”; a Medalha de Socorros a
tre outras notáveis realizações, planeou, montou e manteve uma Náufragos, de Coragem, Abnegação e Humanidade; a Ordem de
eficaz rede de Postos e Estações Radionavais, no Portugal euro- Legião de França; a Ordem da Corôa de Itália; a Ordem do Ouis-
peu e ultramarino, que foram fundamentais para a operaciona- sam Alaouite de Marrocos e a Ordem Caroli da Roménia.
lidade da Marinha, especialmente durante o período da Guerra Z
REVISTA DA ARMADA U DEZEMBRO 2006 9