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As Lanchas de Fiscalização Pequenas
As Lanchas de Fiscalização Pequenas
Homens Grandes em Navios Pequenos
apresentação do XVI volume da Ao longo da exposição foi relatando a sua Afirmou então que: Gostaria de ter opor-
Colecção “Setenta e Cinco Anos no passagem por diversos navios-fragatas, pa- tunidade de citar todos quantos comigo cons-
A Mar”, que se refere às lanchas de fis- trulhas, draga-minas e petroleiro lembrando tituíram as guarnições dos navios e por unida-
calização pequenas (LFP’s), realizou-se, no a figura dos respectivos comandantes, tra- des por onde passei. De referir muitos outros,
passado dia 15 de Dezembro, na Biblioteca zendo à memória nomes que pertencem à cuja história recolhi nas minhas pesquisas e
Central da Marinha. O Presidente da Co- História da Marinha e que a numerosa assis- cujos episódios fazem parte do imaginário dos
missão Cultural da Marinha, CALM Leiria tência presente reviveu no momento. oficiais da Reserva Naval que comandaram
Pinto, perante uma as Lanchas de Fiscalização
assistência em que se Pequenas. Não cabem, infe-
destacavam, além de Foto 1SAR FZ Silva lizmente nesta intervenção,
antigos comandantes essas referências.
das Esquadrilhas de Com conhecimento dos
Lanchas da Guiné, do episódios vividos ao lon-
Zaire e do Niassa, os go dos anos por diversas
das LFP’s, iniciou o LFP’s, referiu factos ocorri-
evento afirmando que dos na Guiné, em Angola e
as primeiras LFP’s fo- em Moçambique e eviden-
ram aumentadas ao ciou situações resolvidas
efectivo dos navios da com eficácia por muitos
Armada em 1959 e até oficiais que co-
1980 prestaram servi- mandavam es-
ço 39 unidades, cujas tes navios.
caracteristicas e acti- A propósito
vidades estão descri- disse: Gostaria
tas no presente volu- de ter podido me-
me. Referiu-se depois recer a evidência
às várias classes deste demonstrada por
tipo de navio que esteve presente nos ma- A dado passo afirmou: Tomou o Se- tantos que me
res e nas águas interiores de todos os terri- nhor Almirante Leiria Pinto a iniciativa de antecederam, e
tórios, excepto Macau, que constituiram o me convidar para uma intervenção nesta de muitos mais
Ultramar Português. cerimónia, colocando-me desde logo na in- que me segui-
O CALM Leiria Pinto concluiu as suas pa- grata situação de estar a representar, sem ram. Pertenço à
lavras afirmando que: Estas pequenas unidades procuração para tal, mais de 150 oficiais legião daqueles,
que, conjuntamente com as lanchas de desembar- da Reserva Naval e também dos QP’s para que muito mais
que, depreciativa e injustamente foram apelidadas além de outros tantos sargentos de manobra aprenderam do
de Poeira Naval, navegando em águas da Eu- e mais de 500 praças, artilheiros, fogueiros e que ensinaram.
ropa, África, Ásia e Oceânia, na paz e na guerra, telegrafistas. E situação mais ingrata ainda, porque Com exemplo de marinheiros que encontrei com
cumpriram sempre com eficácia as diversificadas neste grupo de navios e de marinheiros se incluem mais anos de Marinha do que eu tinha na altura
missões que lhe foram atribuidas. As suas guarni- aqueles que, em águas do que foi o Estado Portu- de idade, homens de uma cultura naval feita de
ções eram muito pequenas em número de homens guês da Índia, deram início a uma heróica Histó- experiência vivida, de dedicação sem limites, ho-
mas foram muito grandes em valor. ria da Marinha de Guerra, continuada em áreas mens quantas vezes sem a noção exacta da im-
Atendendo que a grande maioria dos co- de intervenção, bem mais difíceis do que aquelas portância do serviço que prestavam, alheios aos
mandantes das LFP’s foram oficiais da Re- em que eu naveguei. De todos, referência primeira, louvores e apenas transportando a Divisa qua al-
serva Naval, seguidamente, um desses an- para o comandante da “Vega”, 2º Tenente Oliveira gumas LFP’s ostentavam, tão simples como “Ho-
tigos comandantes, o Engenheiro Pires de e Carmo e os marinheiros da sua guarnição. mens Grandes em Navios Pequenos”.
Lima, dissertou sobre os seus diversos em- Continuou o seu relato acompanhando-o A intervenção prosseguiu com um lon-
barques, tendo dado começo à sua interven- com as projecções adequadas, visionando go relato acerca de uma explosão havida
ção recriando o toque de sentido saído de os navios em que esteve embarcado, nomea- na lancha “Fomalhaut”, em 1963, episó-
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um apito do Mestre, exactamente o último damente as LFP’s “Alvor” e “Fomalhaut”, dio já publicado na Revista da Armada ,
acto a bordo que protagonizou como oficial de que foi seu comandante, lembrando nes- e terminou com a projecção dos diaposi-
da Marinha, quando no dia 26 de Novembro ta sequência o seu trajecto enquanto oficial tivos de todos os comandantes e mestres
de 1968 entregou o comando da “Alvor”. de Marinha. da “Fomalhaut”, desde a sua entrada ao
Apoiando a sua apresentação com uma sé- Recordou o comandante Sousa Mendes, serviço em 1961 até ao seu abate ao efec-
rie de projecções de diapositivos, salientou definitivamente ligado à colecção “Setenta tivo em 1975.
desde logo a figura do Mestre desse navio, e Cinco Anos no Mar” e o 1º comandante da A “Marcha dos Marinheiros”, símbolo
o sargento Cabrita Machado, que lhe fizera a Defesa Maritíma da Guiné quando as pri- naval que sempre emociona quem ouve,
oferta do Apito com que assinalara esse acto, meiras LFP’s da classe “Bellatrix” chegaram ouviu-se no final, através da gravação áu-
gesto que, não é certamente frequente. Na fi- em 1961 ao território, Esse grande Senhor que dio da apresentação.
gura desse Mestre, um veterano das lanchas, foi o Comandante Sousa Machado e apresen- Z
quis o apresentador recordar e homenagear tou ainda os oficiais que foram pioneiros em (Colaboração da Comissão Cultural da Marinha)
todos os Mestres das LFP’s pela função ím- 1961 e 1962 nas primeiras lanchas chegadas Nota
par que exerceram nesses navios. a Angola e Guiné. 1 RA n° 387 Junho 05.
REVISTA DA ARMADA U FEVEREIRO 2006 11