Page 279 - Revista da Armada
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Conservação e museologia
Conservação e museologia
de mãos dadas… no Museu de Marinha
de mãos dadas… no Museu de Marinha
O PROJECTO DE CONSERVAÇÃO DAS GALEOTAS REAIS
O RESTAURO DO BERGANTIM REAL – 2ª PARTE
GESTOS DE UM PASSADO MARÍTIMO Como foi referido, o primeiro passo foi a BOM - Obras que necessitam sobretudo
avaliação do estado de conservação dos bens de limpezas superficiais, hidratação e pro-
o artigo publicado em Julho apresen- que foram alvo de estudo. Foram assim identi- tecção final;
támos o historial do Bergantim Real do ficados os níveis de deterioração existentes nos RAZOÁVEL - Obras que necessitam de limpe-
N ponto de vista das opções de conser- zas superficiais, hidratação, protecção final e
vação utilizadas. Neste artigo procuraremos di- de intervenções pontuais, quer ao nível da es-
vulgar a intervenção de conservação e restauro trutura, quer ao nível da superfície pictórica;
realizada nesta embarcação entre Outubro de MAU - Obras que se apresentam seriamente
2002 e Dezembro de 2004, dando a conhecer o deterioradas a todos os níveis;
método de trabalho utilizado pela nossa equipa MUITO MAU - Obras que, quer ao nível da
com base nas pesquisas realizadas e visando a estrutura, quer ao nível das diferentes camadas
recuperação dos elementos técnicos e artísticos decorativas, se apresentam num estado mui-
desta embarcação em particular. to avançado de deterioração, o que constitui
O trabalho de conservação e restauro das uma ameaça para a sua integridade física.
Galeotas Reais seguiu uma linha de actuação Do ponto de vista técnico, podemos afirmar
baseada em critérios definidos internacional- que o Bergantim Real apresentava um estado de
mente. O primeiro passo consistiu na classifi- conservação Razoável ao nível da sua decoração
cação do estado de conservação dos diferentes exterior (Imagem 2), Mau ao nível dos elementos
elementos decorativos de cada embarcação. que decoravam os bordos interiores da embarca-
Posteriormente, procedemos à identificação ção e Muito Mau ao nível da decoração da Ca-
da natureza e da magnitude de cada uma das marinha Real, quer no seu exterior (Imagens 1 e
deteriorações existentes, sendo determinado a 3), quer no seu interior. Devemos salientar que a
partir desses dados o tipo de tratamento mais situação da Segunda Sala da Camarinha Real era
apropriado a cada caso. alarmante até ao ponto de podermos afirmar que
a totalidade dos motivos pictóricos representados
AVALIAÇÃO DO ESTADO DE CONSER- nas paredes desta sala apresentavam um estado
VAÇÃO DAS GALEOTAS REAIS de conservação Muito Mau caracterizado por um
processo de destacamento acelerado e irreversí-
No âmbito do Projecto de Conservação das 1.Talha dourada decorando o exterior da Camarinha vel da camada pictórica (Imagem 4).
Galeotas Reais foram estudadas as caracterís- Real. Teste de limpeza para identificação e localização Esta situação apresentava uma dupla face, já
ticas das embarcações ao longo da sua histó- de pequenos fragmentos de ouro fino que formavam que, perante um nível de deterioração tão avan-
parte da decoração original da embarcação.
ria, as técnicas de produção artística utilizadas çado, é evidente a falta de intervenções recen-
e o seu comportamento do ponto de vista da vários elementos que decoram cada uma das tes, o que nos permite uma fácil aproximação
ciência dos materiais. Assim, com base na in- embarcações a partir de uma classificação que aos motivos decorativos originais quando eles
formação reunida, tentámos decifrar o historial abrange cinco graus diferentes: ainda se podem identificar. Por outro lado, e
dos restauros realizados ao longo dos tempos e MUITO BOM - Obras consideradas em ex- esta é a face negativa da mesma moeda, este
identificar os materiais, os métodos e as técnicas celente estado de conservação em todos os tipo de situações são irreversíveis, o que signi-
utilizados em cada uma das intervenções. estratos integrantes; fica que houve uma pequena percentagem de
Estado de conservação de alguns elementos decorativos antes da intervenção
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2. Frisos decorativos do exterior da embarcação. Finais
de 2001.
3. Talha dourada decorando o exterior da Camarinha
Real. Finais de 2001.
4. Estado de conservação da parede interior da Segunda
Sala da Camarinha Real. Finais de 2001.
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