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ACADEMIA DE MARINHA
Sessão Solene
Sessão Solene
o âmbito do planeamento da sua activi- de direita, são mais ou menos europeístas. Tem de visão dos debates sobre uma Federação ou Con-
dade cultural a Academia de Marinha re- haver sempre alguém do contra ou o Homem não era federação Europeia, o texto de 1950 continua ria
Nalizou, no passado 12 de Fevereiro, uma Homem e a Democracia não era Democracia. Somos correcto se tivesse sido escrito hoje.
sessão solene presidida pelo Vice-CEMA, Valm quase todos por uma Europa em que as Nações este- Historiou a evolução das primitivas ideias de
Telles Palhinha, em representação do Almiran- jam unidas por laços económicos e monetários, mas, Jean Monet e Robert Schumann para a constru-
te CEMA. Faziam parte da mesa da presidência de acordo com a força das convicções e dos precon- ção europeia e falou das realizações que se foram
o Comandante Serra Brandão, a Prof.ª Doutora ceitos de cada um, muitos não se entusiasmam com concretizando aos poucos, a despeito de vicissi-
Raquel Soeiro de Brito, o Prof. Doutor Contente fortes laços políticos e institucionais. Se tivéssemos tudes mas acautelando interesses dominantes,
Domingues e o Presidente da Academia de Ma- dúvidas sobre a bondade da integração, bastaria ver até se chegar à preparação da “tentativa consti-
rinha, Valm Ferraz Sacchetti. tucionalista” sem que tivesse havido o
Aberta a sessão, usou da palavra cuidado de informar suficientemente
o Presidente da Academia de Mari- os cidadãos europeus.
nha. Após os cumprimentos e sau- Tratou depois o caso português: a
dações usuais, referiu-se ao facto da adesão à EFTA, mais tarde ao Mer-
sessão constar de dois eventos, sendo cado Comum e depois os problemas
o primeiro a entrega do prémio “Al- com a integração económica. Falou
mirante Sarmento Rodrigues/2007”, da sua acção em Londres em defesa
a que se seguiria uma comunicação da posição portuguesa (1973) quan-
do Comandante Eduardo Serra Bran- do Portugal ainda se estendia de Mi-
dão, membro emérito da Academia nho a Timor. Nessa ocasião, o Diário
de Marinha. de Notícias citou-o longamente e dis-
O prémio destina-se a impulsionar se que o autor “terminou mostrando
e dinamizar a pesquisa, a investigação a posição das províncias ultramarinas
científica e os estudos da história das portuguesas no comércio externo com
actividades marítimas dos portugue- a CEE e a EFTA, demonstrando que
ses. Consta de um diploma e de uma a respectiva taxa de crescimento era
dada quantia pecuniária. A Academia Entrega do Prémio “Almirante Sarmento Rodrigues”. superior à dos territórios africanos in-
de Marinha ofereceu ainda ao galardoado uma o interesse, o entusiasmo e a rapidez com que os dependentes, mesmo à dos associados ao Mer-
obra sobre o Almirante Sarmento Rodrigues. Estados-membros passaram de seis a nove, depois a cado Comum”.
Foram nove os concorrentes ao prémio que, dez, a doze, a quinze, a vinte e cinco, a vinte e sete Referiu-se aos passos principais do desen-
por decisão dos oito elementos do júri, foi atri- e, dentro de alguns anos a mais de trinta, incluin- volvimento e aprofundamento da União Euro-
buído ao Sr. Doutor Amândio Jorge Morais do, a longo prazo, a Suiça, que já tem 16 protocolos peia através da assinatura dos diplomas mais
Barros pelo trabalho intitulado “Porto - a cons- assinados com a UE”. importantes: Tratado da União Europeia (1992,
trução de um espaço marítimo nos alvores tem- Referiu-se a alguns benefícios políticos, econó- Maastricht), Tratado de Amesterdão (1997), Tra-
pos modernos”. micos e sociais que resultaram da adesão de Por- tado de Nice (2001), Tratado fracassado que esta-
Referindo-se ao conferencista, o Presidente re- belecia uma Constituição para a Europa (2004)
cordou que o Comandante Serra Brandão perten- e, por fim, o Tratado Reformador (Tratado de
ce ao reduzido grupo inicialmente admitido pelo Lisboa 2008).
Almirante Sarmento Rodrigues em 1970, no qual Chegou então a altura de o orador pôr a
se incluía também o Comandante Joaquim Soeiro questão:”Vamos, agora, à reposta à pergunta”.
de Brito, presente na assistência; no que respeita- Embora admitindo que “só uma Europa orga-
va à sua comunicação, atendendo à acuidade do nizada e governável poderá falar de igual para igual
tema e ao seu premente interesse, era grande a com os EUA, com a Rússia e com a China” enten-
expectativa com que se aguardavam as conside- de que “os textos dos Tratados […] não deixam, ao
rações que iriam ser feitas pelo orador. mais ingénuo, qualquer dúvida sobre as intenções
Foi então chamado à mesa da presidência o políticas de quem os ditou e assinou, mas houve
Doutor Amândio Morais Barros, tendo o Valm sempre a prudência de não mencionar uma «finali-
Vice -CEMA convidado a Sr.ª D. Maria Isabel Sar- dade federadora»”.
mento Rodrigues Gomes Mota, filha do Almi- Ao terminar as suas considerações, o orador
rante Sarmento Rodrigues, para fazer a entrega arriscou a opinião pessoal de que “nenhum dos
do prémio ao galardoado. presentes assistirá à formação de uma verdadeira
Depois da leitura de um resumo do brilhan- Federação Europeia, à semelhança das federações
te curriculum vitae do Comandante Serra Bran- americana, alemã ou suiça”, pois os actuais adultos
dão, o orador apresentou a sua comunicação com concepções federalistas desejariam “uma coisa
sobre o tema “Chegará a existir uma Federa- tão parecida quando possível com uma federação,
ção Europeia?” mas sem perder, pelo menos, a representação inter-
Ao iniciar a exposição o conferencista defi- nacional, a capacidade própria de defesa e, eviden-
niu o propósito da comunicação e a sua posição Comandante Serra Brandão. temente, a língua e a cultura”.
perante as diversas opiniões que foram sendo Pelo vigor e brilho da sua comunicação, o ora-
divulgadas neste período de preparação e apro- tugal à UE e a alguns aspectos em que “falhámos dor foi muito aplaudido e cumprimentado.
vação do Tratado de Lisboa: “Começo por escla- infelizmente, apesar das ajudas financeiras”. Na assistência, além dos familiares do Almi-
recer que está longe de mim a ideia de dizer como Mas o título da comunicação era uma pergun- rante Sarmento Rodrigues, encontravam-se fi-
deveria evoluir a Europa; não vou tomar partido ta e, para fundamentar a resposta entendeu apre- guras de relevo dos meios intelectual, político e
contra ninguém ou a favor de alguém. Vou limitar- sentar alguns antecedentes históricos da forma- universitário, membros do júri do prémio “Almi-
-me a dizer como evoluíu a Europa e como me parece ção de uma Europa Unida. Surpreendeu ao citar rante Sarmento Rodrigues”, académicos e mui-
que irá evoluir. Julgo que hoje a grande maioria dos uma longa passagem de um texto escrito no jor- tos convidados.
Portugueses e os Europeus em geral, com excepção, nal da “Sagres”, durante a viagem de cadetes de Z
de alguns distraídos ou dos radicais de esquerda e 1950. Com extraordinária clareza e notável pre- (Colaboração da ACADEMIA DE MARINHA)
10 ABRIL 2008 U REVISTA DA ARMADA