Page 125 - Revista da Armada
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O Almirante João Braz de Oliveira
O Almirante João Braz de Oliveira
Lente da Escola Naval. Homem das Letras e das Artes
o longo dos tempos a Marinha tem é nomeado professor auxiliar de Dese-
dado ao país figuras ilustres, não nho de Hidrografia, de Construção Na-
Asó de âmbito estritamente militar val e de Máquinas na Escola Naval, para
mas também em outra áreas, especialmen- em Novembro de 1887 tornar-se profes-
te na cultural. sor efectivo. Entretanto tinha introduzido
Alguns desses marinheiros destacaram- novas técnicas no desenho hidrográfico e
-se nas letras e nas artes, como é o caso do organizado o primeiro Gabinete Fotográ-
CALM João Braz de Oliveira, insigne lente fico da Escola, fomentando o ensino des-
da Escola Naval que igualmente se notabi- ta, então recente, técnica de reprodução
lizou como escritor, poeta e desenhador. da imagem.
O presente texto que descreve a carreira Devido fundamentalmente aos aperfei-
na Marinha deste oficial salienta, inicial- çoamentos e à adopção de novas metodo-
mente, o período em que esteve ligado ao logias de ensino tomadas por iniciativa
ensino, seguindo-se referências às suas ac- do capitão-de-fragata Braz de Oliveira,
tividades nas áreas das letras e das artes. promovido a capitão-tenente em 1890 e
Nascido em Lisboa, em 1851, ingressou a fragata em 96, quando da Reforma da
na Armada com 18 anos de idade e foi pro- Escola Naval de 1903 o Desenho passa a
movido a guarda-marinha em 1872, posto constituir a 4ª cadeira. Também pela mes-
que correspondia ma reforma é res-
a um período de tabelecida a 11ª ca-
aprendizagem du- deira – Ciência da
rante o qual teriam Guerra, Fortifica-
de ser cumpridos ção, Estratégia e
três anos de embar- Táctica do Com-
que fora dos portos do bate Naval – tendo
Continente do Reino. Braz de Oliveira,
Assim, Braz de Oli- em 1904, transita-
veira presta serviço do para lente des-
nas corvetas “Du- ta cadeira, já como
que da Terceira”, capitão-de-mar-e-
“Sá da Bandeira” e guerra, pois tinha
“D. João I”, navios sido promovido no
pertencentes à Esta- ano anterior.
ção Naval de Ango- Os seus vastos
la, onde se mantêm conhecimentos de
até Dezembro de Armamento, área
1875, mês em que em que se tinha es-
passa, já em Lisboa, pecializado e cons-
à fragata “D. Fer- tantemente actuali-
nando II e Glória” zado, acrescidos de
para se especializar em Artilharia. aturados estudos de História e à facilidade
Em Setembro de 1876, ano em que fez o com que, através do desenho, reproduzia
exame para 2º tenente, é promovido a este elementos que complementavam as lições,
posto, iniciando em Novembro a sua car- possibilitaram que as mesmas, à semelhan-
reira de oficial da Armada, como instrutor ça do que tinha sucedido quando profes-
de Artilharia e Infantaria na Escola Naval e sor de Desenho, alcançassem elevado ní-
ajudante da Companhia dos Guardas-Ma- vel pedagógico.
rinhas. Estabelece, deste modo, ligação ao Em 1902, sob a égide da Liga Naval Por-
ensino, experiência que muito contribuirá tuguesa, realizou-se o Congresso Marítimo
para o bom desempenho, mais tarde, do Nacional, tendo Braz de Oliveira, relator
cargo de lente da Escola. da tese nº 2 – “Protecção dos Pescadores”,
Em 1881 volta a embarcar em Angola após formular vários considerandos, no-
na corveta “Duque da Terceira” e depois, meadamente, se por um lado a pesca do
imediato da canhoneira “Sado” participa alto é uma boa escola de marítimos que podem
nos últimos cruzeiros contra o tráfico de ser utilizados no serviço da Armada Real por
escravos, ainda na época exercido, espo- outro deve-se garantir às classes menos abas-
radicamente, em águas africanas. tadas (os pescadores) os meios que puderem
Regressa à fragata “D. Fernando”, em 83, melhorar as suas condições de vida, fornecendo-
como instrutor de Artilharia e embarca, por -lhes elementos para que menos difficil se lhes
um curto período, no transporte “Índia”. torne a sua lide, e melhor possam attender ao
Em Junho de 1884, data em que é pro- futuro das suas famílias, procurando mino-
movido a 1º tenente, a sua carreira naval rar a miséria e a orphandade, defendeu que
passa a ficar dedicada ao ensino, já que a Liga Naval devia propor determinadas
REVISTA DA ARMADA U ABRIL 2008 15