Page 126 - Revista da Armada
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medidas, que na ocasião identificou e das  o levava a frequentar uma tertúlia de
         quais resultará como consequência lógica: a  que faziam parte homens de letras en-
         efectiva protecção ao pescador. O seu eleva-  tre os quais Alexandre Herculano, a
         do espírito humanitário é bem evidente  escrita sempre o motivou.
         nesta iniciativa.                    Numerosa é a sua bibliografia que in-
           O distinto lente da 11ª cadeira da Escola  clui temas ligados ao ensino, especial-
         Naval é promovido a contra-almirante em  mente à Artilharia, ao Desenho e à Arte
         Fevereiro de 1913.                 da Guerra. Neste âmbito redigiu, en-
           Com o desenrolar da Grande Guerra o  tre outros trabalhos, uma série de apon-
         Almirante adquire novos conhecimentos  tamentos auxiliares para algumas lições,
         que introduz nas suas aulas de Ciência  escriptos ao correr da penna sem esmeros
         da Guerra e em 1916, tal o seu saber na  de linguagem servem, na sua maioria, ape-
         matéria, é nomeado para, em acumula-  nas de memorandum para a exposição do
         ção, ser professor dos oficiais do Exército  professor. Estas obras são manuscritas,
         a frequentar o curso do Estado-Maior na  acompanhadas de esclarecedores de-
         Escola de Guerra.                  senhos e abrangendo detalhadamente
           As suas elevadas qualidades como pro-  todos os assuntos incluídos na 4ª e na
         fessor ficaram também bem patentes nas  11ª cadeiras da Escola Naval.
         várias conferências que proferiu. Quando   A Literatura e a História Naval, es-
         das Comemorações do V Centenário do In-  pecialmente a relacionada com o Ul-
         fante D. Henrique, em Novembro de 1894,  tramar, as biografias de personagens
         no Clube Militar Naval, conferenciou so-  ilustres e a descrição dos navios das
         bre “Os Navios da Descoberta,”, tendo o  Descobertas, inclusivé o estudo do res-
         texto então apresentado sido reimpresso,  pectivo aparelho, são outros assuntos
         em 1940, com a inclusão de 15 desenhos à  da sua eleição.
                                                           Durante quatro
                                                         décadas os Anais do
                                                         Clube Militar Naval
                                                         publicaram alguns
                                                         dos seus escritos, cer-
                                                         ca de meia centena,
                                                         desde “As Marinhas
                                                         da Rússia e da Tur-
                                                         quia” (1871) até “In-
                                                         fluência de Guerra
                                                         Moderna no Ensino
                                                         Naval” (1917). Dos
                                                         numerosos trabalhos
                                                         ressalta, pelo seu in-
                                                         teresse histórico, o
                                                         datado de 1896 e pu-
                                                         blicado pela Impren-
        Plano provável de uma nau portuguesa de 120 toneis do Séc. XV.
                                                        sa Nacional, intitulado
         pena, por si traçados, que se reproduzem  “Modelos de Navios Existentes na Es-
         nesta biografia, correspondentes às várias  cola Naval que Pertenceram ao Mu-
         embarcações utilizadas durante o período  seu da Marinha. Apontamentos para
         da Expansão. O teor da conferência consis-  um Catálogo” que mereceu um lou-
         tiu numa síntese da influência do Infan-  vor, no ano seguinte, do Conselho do
         te D. Henrique no progresso da Marinha  Almirantado.
         Portuguesa e nos navios e armamentos, os   Em 1902 teve início a colecção “Bi-
         quais são descritos com grande pormenor  bliotheca da Liga Naval Portuguesa”
         e baseados em fontes devidamente identi-  com a sua obra de enorme divulgação
         ficadas. Das conferências realizadas na Es-  e que constituiu uma referência espe-
         cola Naval, é de destacar a sua oração lida  cialmente para os cursos de oficiais
         na Sessão Solene de Abertura das Aulas,  pilotos da Marinha Mercante-” Apa-
         a 8 de Novembro de 1900, perante o Rei  relho e Manobra dos Navios” – onde
         D. Carlos, em que versou o tema “A Uti-  no prólogo sentenciava uma verdade
         lidade do Desenho no Ensino Naval”, de-  lapidar: para ser oficial de Marinha acre-
         monstrando que ao lado da sciencia se pode  ditado é necessário, primeiro que tudo, ser
         também grupar um pouco da arte sem haver  marinheiro sabedor.
         desharmonia no conjuncto.            A Academia Real das Ciências dá à
           Em 1906, no Clube Militar Naval, pro-  estampa, em 1908, as “Narrativas Nava-
         nunciou um discurso quando da inaugura-  es” cuja 1ª edição Braz de Oliveira ofe-
         ção do retrato do Almirante Campos Rodri-  receu à Liga Naval Portuguesa com o fim
         gues, salientando a projecção deste oficial  de servir de leitura às guarnições dos navios
         no meio científico ligado à Astronomia.  da Armada já que tinham sido feitas para
           Talvez por Braz de Oliveira ter sido cria-  fazer vibrar nos corações dos marinheiros a
         do num meio literário, dispondo da vasta  fibra do sentimento do dever, da disciplina,
         e rica biblioteca de seu pai, que por vezes  da honra militar e do amor à Pátria.

         16  ABRIL 2008 U REVISTA DA ARMADA
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