Page 166 - Revista da Armada
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importância que esta classe alcançou atra- mais homens, e terão certamente uma melhor Tornou-se desde então no mais antigo
vés do comportamento dos seus primeiros compreensão do valor da Marinha e da sua gen- oficial da História da Reserva Naval.
20 cadetes, mais não fazemos do que uma te. E nas futuras missões que o destino lhes re- E como símbolo impar da memória, a
chamada justa para esta realidade. servar, hão-de concerteza ser-lhes muito úteis fragata “Pêro Escobar”, navio onde foi
É que depois destes, mais de três mil efectuada a viagem de instrução, sendo
outros incorporados nos 65 cursos que se Itália o destino dessa viagem.
lhe seguiram, beneficiaram do crédito e Na esteira deste curso, seguiu-se no ano
da valia que desde início foi presente na de 1959 o 2.º CEORN, incorporando 37 ca-
actua ção dos RN’s. detes, com igual sucesso e reconhecimento
Porque se trata de uma análise perfei- da Marinha, cimentando a quota de pres-
ta dos acontecimentos, com uma visão tígio da classe.
correcta dos aspectos militares e de um Não chegara ainda o tempo das deci-
julgamento lúcido quanto ao comporta- sões que levariam os oficiais da Reserva
mento dos primeiros oficiais da Reserva Naval para ocupação de postos em mis-
Naval, citamos aqui parte da intervenção sões diferentes das que lhes foram deter-
do Almirante Manoel Maria Sarmento minadas até aí.
Rodrigues, Director e 1.º Comandante da O 3.º CEORN, incorporado em 10 de
Escola Naval, na cerimónia do Juramento Outubro de 1960 assistiu, ainda durante o
de Bandeira: seu período de recruta, ao eclodir dos pri-
“... os hábitos de disciplina militar, o brio tão meiros acontecimentos de sublevação em
característico desta velha Corporação, a convi- Angola, que levariam as Forças Armadas a
vência de boa camaradagem com os restantes uma transformação drástica da política de
cadetes dos quadros permanentes, o sentimento recrutamento e mobilização, sendo deste
de utilidade do seu esforço, tudo foram aqui- curso os primeiros oficiais a receberem or-
sições que muito valorizaram, neste primeiro dem de destacamento para África.
período, os jovens futuros oficiais. E tão relevantes foram essas primeiras
As contingências das necessidades de uma mobilizações, que deste curso saíram os
guerra e até as previsões que é possível fazer, Comandante Coral Costa. primeiros seis oficiais RN nomeados co-
aconselharam que se preparassem em devido mandantes de navios operacionais, hon-
tempo numerosos elementos que, colocados na os ensinamentos colhidos e saberão, por sua ra máxima para os escolhidos, com maior
Reserva, pudessem num dado momento vir re- vez, ajudar a reivindicar para a Marinha o lu- destaque por se tratar de unidades actu-
forçar os efectivos normais da Marinha, quer gar que lhe deve pertencer, dentro do conjunto ando em cenários de guerra.
para operações de guerra no mar, quer para das actividades nacionais. Em Angola e na Guiné desde o ano de
serviços auxiliares. E desta maneira, estaremos pagos, uns e 1961, a História da Reserva Naval acumu-
Esta foi a exigência que determinou este pri- outros, louvando a hora em que foi tomada tão lou nomeações do maior relevo, alargando
meiro contingente de oficiais da Reserva Naval; feliz iniciativa” a sua presença em Moçambique, também
esta a conveniência da Marinha e da Nação. Desde essa data, os vinte cadetes, pro- em Cabo Verde, em Macau e em Timor.
Mas a contribuição que lhes foi exigida traz- movidos então a Aspirantes RN, recebe- São centenas os seus membros nomea-
-lhes, a par do sentimento de que estão cum- ram as guias de marcha para as unida- dos para funções de comando de unidades
prindo um dever que igualmente a todos com- des onde iniciaram o seu percurso como navais, destacando-se a quase exclusivida-
pete – o de se preparar para defender a nossa oficiais. de da Reserva Naval no comando dos na-
Pátria – outros benefícios que só por si perfei- Porque tem especial significado, refere- vios da classe Bellatrix, as célebres LFP’s,
tamente compensa- outro dos emble-
riam qualquer sacri- máticos símbolos
fício que porventura da classe.
tivessem feito. Foto Perestrellos – Funchal Mas não foram
Sem dúvida que apenas os postos
a sua passagem pela de comando que
Marinha lhes há-de foram ocupados
completar e aperfei- pelos oficiais da
çoar a sua formação, Reserva Naval.
sob vários aspectos, Ainda nos cenários
de entre os quais africanos, particu-
penso deve sobressair larmente na durís-
o moral. Na verdade, sima actividade na
no ambiente em que Guiné, destaque
têm vivido nestes úl- para a actuação
timos meses, hão-de dos imediatos das
ter certamente tem- LFG’s e das LDG’s,
perado o seu carácter na sua grande
à luz do sentimento maioria também
de obediência militar, oficiais RN’s.
do gosto das respon- A fragata “Pêro Escobar” a 25 nós frente ao Funchal. Quando em 18
sabilidades, do respeito pela dignidade humana, -se o nome do Aspirante Rogério Canas de Dezembro de 1961 o Estado Português
da isenção e integridade, do culto da honra, do de Sousa Ferreira, a quem foi atribuído da Índia é atacado pelas forças militares
amor à Marinha e às suas tradições. Também o prémio Reserva Naval, instituído para da União Indiana, o 4.º curso especial de
não terá sido tempo perdido, antes pelo contrá- evidenciar o mais classificado na média oficiais da Reserva Naval encontrava-se
rio, para a sua preparação técnica. de frequência escolar e também de carác- em plena fase de aprendizagem na Esco-
Os que para cá vieram, sairão da Marinha ter militar. la Naval.
20 MAIO 2008 U REVISTA DA ARMADA