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Os 200 Anos da Abertura
Os 200 Anos da Abertura
da Barra de Aveiro
da Barra de Aveiro
omemoraram-se em 3 de Abril de 2008, militarmente, homens e navios para a empre- Forte da Gafanha, foi também construído no
os 200 anos da abertura da Barra da Ria sa marroquina de D. Sebastião, que terminaria século XVII.
Cde Aveiro que devolveu à cidade e a com o desastre de Alcácer-Quibir. Em 1685 fixou-se, a Sul da Vagueira, no lo-
todo o distrito o merecido desenvolvimento eco- As mudanças geográficas da costa provoca- cal da Quinta do Inglês, mas não servia as exi-
nómico que já tivera em séculos anteriores. gências da navegação marítima, além de não
Este processo de abertura da barra veio cul- permitir o funcionamento das marinhas de sal,
minar uma série de tentativas que com maior situadas mais a Norte.
ou menor êxito vinham sendo efectuadas desde Foram então chamados dois engenheiros ho-
os finais do século XVI. landeses que, depois de 14 meses de observa-
O evento vem sendo comemorado com um ções, propuseram a abertura da barra em São
extenso programa sob a responsabilidade prin- Jacinto para diminuir o percurso do canal de
cipal da Administração do Porto de Aveiro e que navegação em fundos instáveis de areia e o fe-
inclui uma exposição documental que se prevê cho da de Mira, que não permitia o escoamento
venha a estar patente no Museu de Marinha a da água do interior devido ao seu comprimento
partir de Outubro do corrente ano (mais de 3 léguas). Declararam ainda que a obra
As primeiras referências documentais à era difícil e cara, mas que, mesmo realizando-
região de Aveiro datam do século XI (entre -se não ficavam fiadores dela por ser a barra em
1037 e 1065), sendo pois anteriores à criação areias movediças
do Estado Português ou mesmo do Condado Cerca de 1700, a barra estava em boas con-
Portucalense. dições e capaz de ser demandada simultanea-
Nessa época a linha de costa nesta região mente, com bom vento, por 3 ou 4 navios. Mas
era substancialmente diferente da actual. Ovar em 1756 já se encontrava perto de Mira e em
tinha deixado de ser uma povoação do lito- ram a continuação do avanço do cordão dunar tão mau estado que, nas cheias do ano seguin-
ral estando já protegida do mar por um cor- da Torreira até à Vagueira, mudando sucessiva- te, as zonas baixas de Aveiro e Ílhavo, as Sali-
dão dunar que foi avançando sucessivamen- mente a barra cada vez mais para Sul, chegan- nas, os campos e as ilhas ficaram durante lon-
te para Sul. do mesmo a fechar a laguna isolando-a do mar. go tempo inundadas. A navegação paralisou,
No entanto, Aveiro, Ílhavo, Vagos e Mira Daqui resultou a paralisação das actividades pois de 1745 a 1760 apenas entrou um navio,
mantinham-se como povoações à beira do marítimas e a pesca passa a realizar-se apenas no ano de 1750.
Oceano e há referências a importantes activi- nas companhas das xávegas. Uma tentativa para resolver o problema da
dades marítimas. Em 1643 a barra estava na Vagueira onde se barra foi a iniciativa de João de Sousa Ribeiro,
O Foral Velho de Aveiro de 1342 dá-nos capitão-mor de Ílhavo que requereu ao
a primeira referência escrita à navegação rei autorização para abrir à sua custa um
marítima desta região; refere a existência regueiro para dar escoamento à água da
de barcas, navios e pinaças bem como ao laguna. Por Aviso Régio de 27 de Janeiro
comércio do sal e do pescado. de 1757 foi-lhe concedida a autorização e
Durante a Idade Média o cordão dunar a abertura veio a ser efectuada na Vagueira
vai-se estendendo para Sul, até à Torreira – onde a barra estivera pela última vez – e
– onde se encontrava em 1200 -- e cujo onde se formou de novo uma barra larga
nome parece ter origem numa torre de e profunda mas que a partir de 1768 já se
atalaia alí existente; há também docu- encontrava deficiente e em 1777 estava
mentos que a referem junto ao Bico de mesmo impraticável.
Almendezel. Em 1771, são pedidas providências
Em 1407 a barra já se encontrava, na ao rei devido aos naufrágios que se su-
sua progressão para sul, em frente da ilha cediam, mas só em 1780 se iniciam os
da Testada, como consta da doação de trabalhos na Vagueira dirigidos pelo hi-
D. João II a frei Alberto Camelo. dráulico italiano José Issepi mas que em
É desta época o achado arqueológi- nada resultaram.
co subaquático situado junto à ponte Novas tentativas são efectuadas em
da Barra, na chamada zona da Biarritz, 1783 e 1788; nestes projectos já se equa-
hoje Canal de Mira. Na época em que cionou a abertura da Barra a Norte da
a embarcação de cerca de 15 metros de Vagueira e a Sul da capela de Nossa Se-
comprimento se afundou, cerca de 1434, nhora das Areias, ou seja, no local onde
aquela zona era mar aberto, não existindo hoje se encontra. Nem estas nem as obras
ainda o cordão dunar da Costa Nova. mais a Norte do Marechal Guilherme Va-
Em 1434 o rei D. Duarte concede a laré, nem as do padre Estevão Cabral em
Aveiro o previlégio de realizar uma feira Porto de Aveiro – 1610. 1791 foram eficazes. A laguna continua
anual, a hoje conhecida Feira de Março. Atlas de Pedro Teixeira de Albernaz. fechada...
No início do século XVI a barra estava em fizeram vários trabalhos, entre eles a constru- O malogro destas tentativas leva o Governo
frente da ilha de Monte Farinha, no local onde ção do Forte Velho. Começou a notar-se que a intervir e, por Aviso de 2 de Janeiro de 1802
viria a ser construída a capela de Nossa Senhora o seu afastamento para Sul a tornava fraca de- do Secretário de Estado da Marinha D. Rodri-
das Areias. O porto apresentava muito boas con- vido à erosão das areias que lhe diminuiam a go de Sousa Coutinho, os engenheiros Reinal-
dições e para além da indústria do sal e de uma profundidade. do Oudinot e Luís Gomes de Carvalho foram
frota de 150 navios, aqui também se armaram O Forte da Barra também conhecido como encarregados de elaborar o projecto das obras
22 JULHO 2008 U REVISTA DA ARMADA