Page 27 - Revista da Armada
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da R.A.N, à barra do “Veloz”, que ostenta- de Lisboa, apoiou-se desde início em im- gal, a principal embarcação da Primeira
va orgulhosamente o distintivo da Asso- portantes figuras do mundo da construção Classe de Navios de Recreio, de mais de
ciação. Curiosamente, o veleiro de recreio naval e da marinha portuguesa. Os corpos 20 toneladas.
do Infante, construído em Lisboa, no Ar- sociais da Associação, compostos por per- Evidentemente, as provas de “Iating” em
senal Real da Marinha, sobre a direcção sonalidades ligadas às actividades da Ma- Portugal consagravam, igualmente outras
do construtor naval Conde de Linhares, rinha de comércio e da Armada portugue- classes nas quais eram alistados palhabotes.
seguia o modelo doutro primeiro pequeno sa, como J. Garland, F.F e J.F Pinto Basto, Eram também organizadas regatas a remos
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yacht, o “Prenda” , que lhe que usavam os escaleres de
tinha anteriormente sido navios de guerra, as guigas,
oferecido por J. Garland, A. os catraios bem como as
P. Dagge e Simão Aranha. canoas dos próprios Iates.
Revelador da revolução do João Pedroso, hábil e atento
“Iating” então em curso, os pintor de marinhas e retra-
traços dos dois primeiros tista de navios da costa de
veleiros do Infante, então Lisboa, coloca na sua obra,
Oficial da Marinha Real a par do magni fico “Pet”,
Portuguesa, inspirava-se uma elegante embarcação
no modelo da célebre escu- que desenha à bolina junto
na “America”, do armador à Praia e à Torre de Belém
Norte-americano M-R-L (Ver Pormenor C.). Trata-se
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Stevens . Seis anos após a duma canoa de regatas, que
histórica vitória de Cowes arma com bastardo em lati-
e da criação da nova Taça na, provavelmente inspira-
América, a já mítica escu- da numa “Canoa da Pica-
na americana terá tocado da”. Pois, como os caíques,
em Lisboa, em 1857, na sua estas ágeis embracações,
segunda viagem à Euro- alêm da pesca, tambêm
pa, para grande satisfação, B: (Foto de Gustavo de Almeida Ribeiro) “Caíque de Regatas Pet”, Óleo de João Pedroso, datado disputavam regatas des-
curiosidade e inspiração de 1860 - Pormenor . É interessante notar no “Poço do Veleiro,a presença duma personagem que portivas por volta de 1860,
veste fato kaki, provavelmente o proprietário da embarcação.
dos veladores e construto- em Lisboa.
res navais portugueses. H. Parry, L.S Faria, H.F. Moser, A.P Dag- Acaba assim este quadro inédito de
Ventos e correntes mais propícias do que ge, F. Soares Franco, C. Testa etc., reflectem um grande marinhista português, por
no Tejo, aliadas à circunstancia do Conde perfeitamente essa realidade. constituir uma valiosa e completa fonte
das Alcaçovas, Caetano de Lencastre, Par Dum ponto de vista técnico, podemos documental, panorama de veleiros ge-
do Reino e vice-presidente da R.A.N, vera- afirmar que existiram nesses anos, uma nuinamente portugueses, que avivam a
near na Pequena aldeia piscatória de Paço especificidade e uma tradição portuguesa memória de um passado e de homens per-
de Arcos, concorreram para que as Regatas bem vincadas. Ao lado dos cuters de tra- cursores na navegação de Recreio na Eu-
do Tejo se passassem a realizar, a partir de dição britânica e dos palhabotes muito ins- ropa por volta de 1860.
1858 num percurso Paço de Z
Arcos - Pragal - Dafundo - Paulo Santos
Caldeira de Paço de Arcos (O Dr. Paulo Santos é o autor de
- Torre Velha da Caparica - “A Marinha. Lisboa e o Tejo
na Obra de João Pedroso”, edições
Dafundo - Paço de Arcos. INAPA, Lisboa, 2004, Fotografia de
Em 1858, conforme os Gustavo de Almeida Ribeiro).
anais, entra justamente
pela primeira vez em com- Notas
petição o inovador caíque 1 Ver a esse propósito: José Leal
“Pet” (Ver Pormenor B.), Wintermantel “Historia do Iating
em Portugal “, 1915 (Apêndice
construído nos estaleiros da Obra):
“Parry and Sons” em Lis- 2 Alguns autores e historiadores
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boa , para “um sindicato” situam as origens do caíque na ca-
constituído por J. Garland, ravela quinhentista.
3 Ver Carlos Gomes de Amo-
A.P. Dagge, Simão Aranha, rim Loureiro, “Estaleiros Navais
Martel e outros. O navio é Portugueses”, Vol. II (Parry and
alistado na primeira classe Sons), 1965. Neste livro está indi-
de Iates, de mais de 20 to- cado que o “Pet” foi contruido en
neladas. A partir de desse 1868, provavelmente por lapso,
pois o “Pet” entrou em regatas de
ano, o veleiro foi adquiri- 1859 a 1867.
do por A. P. Dagge, nomea- 4 Termo utilizado na época, alu-
do primeiro Tesoureiro da C: (Foto de Gustavo de Almeida Ribeiro) “Caíque de Regatas Pet”, Óleo de João Pedroso, datado sivo às regatas.
Real Associação Naval. O de 1860 - Pormenor, Canoa de Regata, navegando junto da Praia de Belém. 5 Número de Setembro de 1852.
6 Oferecido por J. Garland, A. P.
“Pet” arvorando distintivo encarnado com pirados na escuna “América”, concorriam Dagge e Simão Aranha ao Infante Dom Luís.
ovado branco competirá novamente em os caíques portugueses com vergas bastar- 7 Em 22 de Agosto de 1851, a escuna “América”
Paço de Arcos durante mais de 10 anos, das e pano latino. Bom navio para aguen- vinda propositadamente de Nova Yorke, venceu es-
em 1860, 1862, 1864, 1865 e em 1867, ano tar vento e mar, muito utilizado na pesca trondosamente os veleiros do Royal Yacht Squadron
em que ganhará a regata. e na cabotagem nas costas de Portugal o em Cowes, à volta da Ilha de Wight, arrebatando a
célebre Regata dos 100 Guinéus.
Dum ponto de vista social e institucio- caíque foi transformado com sucesso em 8 Ver Carlos Gomes de Amorim Loureiro, “Es-
nal, a navegação de recreio, nomeada- rápida embarcação de recreio. Constituía taleiros Navais portugueses”, Vol. II (Parry and
mente atravês da Real Associação Naval nos primeiros anos das regatas em Portu- Sons), 1965.
REVISTA DA ARMADA U JANEIRO 2008 25