Page 387 - Revista da Armada
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Homenagem ao Marquês de Nisa em Malta
Homenagem ao Marquês de Nisa em Malta
o passado dia 2 de Setembro, em ce- Pediram auxílio ao Rei Fernando IV das Duas É conhecida a disposição britânica sobre a
rimónia presidida pelo Presidente de Sicílias, então em Nápoles, cidade usada como sua actuação no mundo e o seu papel (sempre
N Malta, foi descerrado um memorial base da esquadra mediterrânea de Nelson, onde glorioso) na História.
evocativo da presença e auxilio prestado pela estava integrada a portuguesa com cinco navios: Os ingleses encarregaram-se, primeiro de me-
Esquadra Portuguesa comandada pelo Marquês quatro naus e uma fragata. norizar, depois de varrer da memória maltesa a
de Nisa à revolta pro-independência dos malte- Em trânsito, vinda de Alexandria, a armada participação portuguesa.
ses contra a ocupação francesa e que ocorreu portuguesa é avisada para montar um bloqueio Foi o que se procurou reparar com o descer-
em 2 de Setembro de 1798. às ilhas e prestar todo o auxílio à rebelião. ramento de uma lápide, de dimensões apreciá-
A iniciativa que partiu de um grupo de inte- O Marquês de Nisa chega a 20 de Setembro veis, num dos locais mais carregados de História
lectuais malteses, teve o imediato acolhimento e organiza a sua força para iniciar o bloqueio de La Valetta: os Upper Barrack´s Gardens, onde
por parte do Governo português. naval. Bloqueio rigoroso. Enquanto foi apenas em inglês, português e maltês fica para a pos-
garantido pelos portugueses ninguém entrou e teridade a homenagem ao Marquês de Nisa e
RECORDEMOS ENTÃO A HISTÓRIA. ninguém saiu… à participação portuguesa na primeira tentativa
Logo no dia 21, uma deputação da ilha de de independência de Malta.
Napoleão, a caminho da sua expedição mi- Gozo chegou a bordo, tendo o Almirante Mar- Na cerimónia estiveram presentes as mais
litar ao Egipto, procurou abastecer os navios da quês de Nisa fornecido de imediato armas e altas individualidades do Estado maltês, além
esquadra onde seguia em Malta, então sob o munições aos insurrectos. de elevado número de diplomatas acreditados,
domínio da Ordem dos Cavaleiros Hospitalá- Desembarcaram forças portuguesas que par- membros do clero e representantes de institui-
rios de S. João de Jerusalém, também conhe- ticiparam activamente nos combates: em 15 de ções e grémios profissionais excedendo os 100
cida como Ordem de Malta, em Portugal mais Outubro morreu um artilheiro português e o lugares sentados.
designada como Ordem do Hospital ou Or- 2ºTen Mateus ficou ferido. Começou a cerimónia com umas breves pala-
dem do Crato. Os navios ingleses comandados pelo C. Alm vras do Embaixador da Republica Portuguesa, Dr.
Arrogando-se do poder soberano o Grão- Ball só chegaram em meados de Outubro. Russo Dias, que fez um breve historial do proces-
-Mestre de então recusou a entrada da esqua- Ball era mais moderno que D. Domingos, so antecedente, agradecendo a dignidade que lhe
dra francesa. mas não lhe ficou subordinado por indicação conferia a presença do Presidente de Malta Dr.
Mas o tempo em que os Cavaleiros eram de Nelson … que o incumbiu do Comando das Edward Fenech Adami, além do Presidente ces-
um poder bélico com algum valor já tinha ter- forças em terra! sante Ugo Bonîci e respectivas esposas.
minado. A 30 de Outubro a esquadra portuguesa le- Seguiu-se uma palestra pelo Professor Hen-
Conscientes da sua superioridade, os france- vantou ferro e saiu para Nápoles para repara- ry Frendo do Instituto de Estudos Malteses da
ses desembarcam em 12 de Junho de 1798 e ções urgentes. Universidade de Malta com o sugestivo titulo
sem recontros militares dignos de relevo ocu- Nelson considerou que a ilha cairia em pou- “Making Amends With History: a Vindication
pam as duas ilhas do Arquipélago, Gozo e Mal- co tempo… of Maltese-Portuguese Relations”.
ta, recambiam os Cavaleiros para Itália, apresam Mas os combates prologaram-se. A pedido Encerrou a sessão com um pequeno discur-
uns tantos navios da Ordem e deixam uma guar- dos malteses, o Cap. Ten. Gonçalves Pereira so o Presidente de Malta, tendo descerrado a
nição de cerca de 4000 homens sob o coman- ficou como especialista em artilharia e “bom lápide e sido ouvidos os hinos nacionais mal-
do do General Vaubois, afirmando-se como po- engenheiro”. tês e português
tência administrante, propondo-se “libertar” os Em 1799 a esquadra portuguesa foi de novo O Chefe de Estado-Maior da Armada fez-se
malteses dum domínio feudal e retrógrado. para Malta, os britânicos não só não conseguiram representar pelo CALM MN RES Rui de Abreu,
Mas muito cedo a soldadesca francesa ini- fazer com que os franceses se rendessem, como que recebeu de S. Excia o Presidente Edward
ciou conflitos com os locais, com desacatos e sozinhos não conseguiram assegurar o bloqueio Adami a manifestação do seu apreço pela pre-
pilhagens de várias igrejas. naval que foi furado por várias ocasiões. sença nesta cerimónia de um elemento da Ma-
Profundamente católicos, os malteses revol- É conhecida a insistência de Nelson junto de rinha Portuguesa .
taram-se menos de três meses depois, encabe- D. Rodrigo de Sousa Coutinho e do Príncipe Pela imprensa local, TV e jornal da net foi
çados pelos notáveis da terra e sobretudo pe- Regente para que a esquadra portuguesa per- dado relevo ao acontecimento, ocupando as
los padres. manecesse em Malta como peça fundamental páginas centrais dos jornais durante três dias:
Mas sem auxílio exterior, mal armados e sem para a rendição dos franceses. 1, 2 e 3 de Setembro.
munições, seriam muito facilmente desbarata- Chegaram a estar cerca de 400 portugueses Z
dos por um corpo de tropas experientes muito em terra, alguns pagando com a vida a sua par- (Colaboração da
melhor equipado. ticipação nos combates. COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA)
REVISTA DA ARMADA U DEZEMBRO 2008 25