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VIGIA DA HISTÓRIA                                                                             5



                                  A Latitude de Lisboa
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                anuel Pimentel, filho do cosmógrafo mor do Reino Luís Ser-  pondo de 9 graus e um quarto começando a contar do meridiano da
                rão Pimentel, terá nascido em 1650, vindo a suceder, no car-  ilha Ferro a mais ocidental das Canárias
         Mgo, ao pai por volta do ano de 1679.                 Mui servidor de Vª Senhoria”
           Não deixa de ser curioso que o pai, no único exame para piloto da   Ass: Manuel Pimentel.
         barra que conheço, efectuado pelo cosmógrafo mor, na circunstância a   É pena que Manuel Pimentel não nos tenha deixado descrito o mé-
         Manuel Miguens para o cargo de piloto mor da Figueira da Foz, efec-  todo utilizado para o cálculo da latitude, que não se apurou como pu-
         tuado cerca do ano de 1678, tenha deixado lavrado, no termo do exa-  desse ser feito sistematicamente com um gnomon, nem qual o objec-
         me, o seguinte:                                      tivo da sua graduação.
           “Este ofício requer indústria pessoal e não é daqueles a que podem   Os valores que Pimentel apresenta são os mesmos que veio a inscre-
         ter direito os filhos à propriedade”. Esta consideração resultava do fac-  ver no seu livro “Arte de Navegar” os quais, curiosamente, estão erra-
         to da filha do anterior piloto mor da barra considerar que o ofício lhe  dos, a latitude situa-se entre os valores de Pimentel e dos autores anti-
         pertencia, por morte do pai, devendo por isso receber o pagamento de  gos enquanto a longitude em relação ao meridiano da ilha Ferro, tanto
         uma pensão por quem viesse a ser provido no cargo.  (1)  quanto a pude calcular, é inferior a 9º.
           Seja como for o facto é que Manuel Pimentel exerceu o cargo de cos-                                 Z
         mógrafo mor tendo deixado um conjunto de obras de que se salienta “A                         Com. E. Gomes
         Arte de Navegar”, publicada em 1699, e que durante mais de um século
         constituiu o elemento fundamental na preparação teórica dos pilotos  .  Notas:
                                                          (2)
                                                               (1)
                                                                Era normal que o exercício de um ofício fosse transmitido hereditariamente. No caso
           O episódio que agora se relata ocorreu, em data não determinada,   da Figueira da Foz, por exemplo, o cargo de piloto mor da respectiva barra foi exercido,
         mas anteriormente a 1699.                            durante quase 80 anos, por 3 membros da família Fernandes Bicho, António Fernandes
           O Conde de Valadares solicitou, com carácter de urgência, que lhe   Bicho exerceu-o desde 1777 até cerca de 1800, tendo sucedido ao pai Damião Fernandes
         fosse fornecida, para o Paço, informação quanto à altura (latitude) da   Bicho que o exercera durante 30 anos, portanto de 1747 a 1777 e que, por sua vez, havia
         cidade de Lisboa, tanto na opinião de Manuel Pimentel como na de   sucedido a seu pai Cristóvão Fernandes Bicho que o havia exercido de 1707 a 1747. Que
                                                              o convencimento que o cargo era hereditário resulta do facto de António Fernandes, que
         outros autores.                                      era simultaneamente capitão de navios, ter requerido que, nos seus impedimentos, o lu-
           É a resposta a essa solicitação que seguidamente, e julgo que pela   gar fosse desempenhado por seu irmão.
         primeira vez,  se transcreve:                         O que maior perplexidade suscita é o facto de que o mesmo princípio, criticado por
                   (3)
           “Sr. Conde de Valadares                            Luís Serrão, se aplicar ao cargo de cosmógrafo em que o filho, Manuel Pimentel, suce-
                                                              deu ao pai e que, nos seus impedimentos, foi substituído pelo irmão Francisco. É caso
           Os roteiros antigos e outros autores dizem que a altura do Polo de Lis-  para se dizer “Bem prega frei Tomás”
         boa é de 38 graus e 40 minutos. Porém eu a observei mais de oitenta vezes   (2)  Ainda em 1824 a Gazeta de Lisboa anunciava, no seu número de 6 de Setembro,
                     (4)
         por um gnomon  de 21 palmos de alto, que eu mesmo reparti em 5690   a venda do livro “A Arte de Navegar” de Manuel Pimentel como já, em anos anterio-
         partes, e achei 38 graus e 48 minutos. Um inglês chamado Henrique Jacob   res, acontecera.
                                                               (3)  A carta já havia sido referenciada por Luís de Albuquerque no livro “A Arte de Na-
         bom matemático com quem tive muito trato achou por suas observações   vegar de Manuel Pimentel” sem, no entanto, a transcrever ou analisar.
         38 graus e 50 minutos, mas vindo ele ao meu quintal a ver fazer uma ob-  (4)  Gnomon – O gnomon mais não é do que um vara cuja sombra marca as horas ou
         servação pelo gnomon que digo, mudou de opinião e seguiu os 38 graus   as alturas do Sol.
         e 48 minutos que eu tenho por verdadeira, pelo que o mesmo achei por   Fontes:
         outras observações feitas pelas alturas de algumas estrelas.  Registo Geral de Mercês D. Afonso VI Livro 29 fol. 274V
           A longitude de Lisboa tenho calculado no meu livro que estou com-  Código 46 – VIII – 21 fol 52 e 53 da Biblioteca da Ajuda


                       Mais uma apreensão de droga
                       Mais uma apreensão de droga

               o abrigo do protocolo assina-                                      Continental. Dentro da embarcação,
               do com a Marinha de Guerra                                         foram apreendidos 48 pacotes de co-
         APortuguesa e da Polícia Judi-                                           caína, com cerca de 50 quilos, e detido
         ciária, foi desenvolvida uma operação                                    um tripulante do sexo masculino, de
         de combate ao narcotráfico que tinha                                      48 anos. O velejador solitário foi sur-
         por objecto a intercepção de um veleiro                                  preendido, não se encontrava armado
         suspeito de tráfico de estupefacientes,                                   e não ofereceu resistência no momento
         oriundo da América do Sul, e a dirigir-                                  da detenção.
         -se para o continente europeu.                                            Sob escolta da corveta, com os ele-
           A operação que durou quatro dias,                                      mentos do Destacamento de Acções
         iniciou-se com a aproximação do velei-                                   Especiais e da Polícia Judiciária em-
         ro suspeito, com 13,5 metros e de mas-                                   barcados, o veleiro com o tripulante e
         tro único, de nacionalidade norte-americana, das águas nacionais  a droga, foram encaminhados para o Porto da Baleeira, onde fi-
         do Arquipélago da Madeira. Os seus movimentos foram segui-  caram sob custódia da Polícia Marítima.
         dos e controlados pelo N.R.P. “António Enes” que contou com a   Conforme destacado na conferência de imprensa, acredita-se
         colaboração de meios aéreos da Força Aérea Portuguesa.  que a operação permitiu “…desmantelar uma importante rede
           A intercepção e apreensão ocorreram na noite de 7 para 8 de  internacional, “ a julgar pela extensa lista de contactos apresenta-
         Outubro, traduzindo-se em mais uma operação bem sucedida.  da e capacidade financeira.”, tendo, mais uma vez, a contribuição
         Após identificação positiva e explorando o factor surpresa, foi  da Marinha sido decisiva para o êxito da operação.
         empenhado o Destacamento de Acções Especiais dos Fuzileiros.                                          Z
         O veleiro foi interceptado a acerca de 200 milhas de Portugal   (Colaboração do COMANDO DO N.R.P. “ANTÓNIO ENES” E “DAE”)

         26  DEZEMBRO 2008 U REVISTA DA ARMADA
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