Page 384 - Revista da Armada
P. 384

COMO AUMENTAR O POTENCIAL
         (FORÇA) DAS FORÇAS ARMADAS?

           Muitos pensarão, de imediato, que bas-
         taria assegurar financiamento para a aqui-
         sição de armamento moderno e para bons
         vencimentos, que cativassem os melhores
         profissionais. É bem verdade que ajuda-
         ria muito, mas, como já vimos, não é sufi-
         ciente. O caminho que se está a explorar é
         o da obtenção de potencial através da di-
         ferenciação, que é essencialmente obtida
         por inovação (tecnológica, organizacional
         e processual).
           As Forças Armadas precisam de uma or-
         ganização burocrática, com uma estrutura
         organizacional bem definida, para respon-
         derem bem, em especial, nas situações de
         crise, conflito ou guerra. Nas Forças Arma-
         das nunca se podem perder os dois pilares   Asa voadora capaz de se auto-sustentar durante inúmeras horas, consumindo a energia gerada pelos painéis
         fundamentais que são a hierarquia (lide-  solares e acumulada em baterias. Pode-se imaginar que, no futuro, a Marinha tenha veículos deste tipo para
         RAN A  E A CONlAN A  )DEALMENTE  AS &OR AS   patrulhar a costa, bem como assegurar a retransmissão de comunicações de alto débito (víde o) entre navios
                                             e terra (papel actual dos satélites dos países ricos).
         Armadas devem ser do tipo “burocracia
         aprendente” na perspectiva envolvente de  DAMENTE DA )NTRANET  E ATRAVÏS DA CRIA ÎO  zacional onde o mérito e a inovação sejam
         que compete a todos melhorar o sistema,  de grupos multidisciplinares de estudo e  premiados. Deve haver recompensas para
         embora seja muito difícil combinar a com-  reflexão, que incorporem elementos com  as boas ideias e mecanismos que promovam
         plexidade da organização com a comple-  DIFERENTES VALIAS E ANTIGUIDADES  4EMOS DE  a sua validação e experimentação prática.
         xidade das pessoas.                ter sempre presente que as tecnologias de
           A componente humana da mudança é o  informação e comunicação só são gera-  CONSIDERAÇÕES FINAIS.
         factor mais complexo na transformação, in-  doras de potencial diferenciador se forem
         dependentemente de se tratar do sector pri-  acompanhadas de inovação processual e   Portugal precisa de compatibilizar os seus
         vado, público ou militar. Por conseguinte,  organizacional. É assim que se pode fazer  interesses nacionais com o seu Poder Na-
         os líderes responsáveis por mudanças têm  mais com menos, libertando alguns para  cional. Sendo um país com parcos recur-
         de se concentrar no elemento humano e na  se empenharem noutras actividades em-  sos devemos conciliar as nossas ambições
         sua realização profissional.        preendedoras.                      com a liberdade de acção que uma peque-
           O poder do significado (símbolos) está   A formação contínua e actualizada é fun-  na potência pode explorar (ocupar vazios
         também muito ligado à liderança e deve ser  damental para o espírito inovador. Assim  DE PODER  DIPLOMACIA MAIS ACTIVA  USO DO
         promovido numa perspectiva unificadora e  se justifica a realização de cursos e acções  PODER FUNCIONAL  PARTICIPA ÎO EM ALIAN AS
         moralizadora da transformação.     de formação ao longo da carreira. Esta in-  E COOPERA ÎO  PROMO ÎO DA COESÎO INTER-
           A arte e a ciência devem unir-se para as-  teracção também promove as redes sociais  NA  PARTICIPA ÎO NA SEGURAN A INTERNACIO-
         segurar a competitividade. Deve procurar  que ajudam a apoiar o espírito inovador. A  nal, etc).
         criar-se um pensamento estratégico dife-  educação, como fenómeno abrangente, é   Para um Estado atingir objectivos nas re-
         renciador, gerir uma organização como se  fundamental para o desenvolvimento das  lações internacionais precisa de ter Poder.
         GERE A AC ÎO ESTRATÏGICA  )DEALMENTE DEVE  faculdades físicas, morais e intelectuais, que  Para se ter Poder é preciso ter uma estraté-
         conseguir-se um modelo de ciclo estratégi-  nos permite perceber os outros.  gia que permita gerar recursos, organizar e
         co (análise de ambiente, formulação estra-  A participação em missões internacionais  empregar os meios.
         tégica, operacionalização, controlo e re-  é importante, pois permite a percepção do   As Forças Armadas são um importante ins-
         troacção) simples na complexidade, mas  que os outros fazem melhor ou pior do que  trumento de Poder. Para terem Poder têm de
         meticuloso na abrangência.         nós. As melhores práticas, como aconte-  ter Força. Adquirir meios não chega, é pre-
           O Poder é a capacidade e a Política é o  ceu com a ida dos navios Portugueses aos  ciso antecipar mudanças naturais em assun-
         Poder em acção. A Política nas organiza-  /PERATIONAL 3EA 4RAINING  SÎO MOTIVADORAS  tos da esfera militar e da cooperação interna,
         ções tende a ser vista como um fenómeno  de mudança e propulsionadores de trans-  através da combinação de conceitos, capaci-
         desestabilizador, disfuncional e altamente  formação interna.         dades, indivíduos e organizações, exploran-
         pernicioso para as organizações, no entan-  As redes sociais que se podem estabelecer  do as forças da nação. Neste conceito está
         to, a habilidade política positiva permite a  para fora das Forças Armadas são sempre ge-  subjacente o Poder como capacidade de um
         criação de redes sociais que são fundamen-  radoras de mais valias. Por exemplo, a Mari-  país no domínio interno e externo.
         tais para fazer valer ideias inovadoras. As-  nha Portuguesa, no início da década de 80,   Não podendo ter todos os meios necessá-
         sim, quer internamente, quer externamente,  decidiu dar um passo de gigante, na altura,  rios importa explorar novas formas de fun-
         devem promover-se as redes sociais que in-  ao avançar com a especificação técnica que  cionamento e promover a inovação (tecno-
         fluenciam o comportamento dos outros.  serviu de base à concepção, desenvolvimen-  lógica, processual e organizacional) como
           A participação de militares em organiza-  TO E PRODU ÎO DO PRIMEIRO 3ISTEMA )NTEGRADO  forma de gerar vantagens estratégicas dife-
         ções civis deve assim ser vista como positiva  DE #ONTROLO DE #OMUNICA ÜES  3)##   -AIS  renciadoras no ambiente estratégico dinâ-
         para a inovação, na perspectiva da criação  tarde, o desenvolvimento do MMHS (Mili-  mico internacional.
         de redes de poder que influenciam.  tary Messaging Handling System) veio tam-  Neste contexto, a inovação manifesta-se
           A comunicação organizacional tem de  bém a revelar-se um sucesso. Este exemplo  se conseguirmos fazer melhor que outros e
         ser promovida para aproximar o que a es-  de parceria com empresas civis é um bom  com menos esforço.
         trutura organizacional distancia. A comuni-  potenciador de inovação.                                 Z
         cação interna pode ser promovida de uma   Finalmente, importa também mencionar      Armando J. Dias Correia
         forma eficaz através da tecnologia, nomea-  que se deve promover uma cultura organi-                  CFR

         22  DEZEMBRO 2008 U REVISTA DA ARMADA
   379   380   381   382   383   384   385   386   387   388   389