Page 382 - Revista da Armada
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         INTRODUÇÃO                                                                          “Expressão integrada dos
                                                                                             meios de toda a ordem
         O                                                                                   de que dispõe a nação,
               Senhor Professor
               Doutor Adriano
                                                                                             accionados pela vontade
               Moreira ensinou-
         -nos que as nossas deci-                                                            nacional, para alcançar e
                                                                                             manter, interna e externa-
         sões devem ser susten-                                                              mente, os objectivos na-
         tadas numa ciência de                                                               cionais.”.
         acção e não em julgamen-                                                             Nas relações internacio-
         tos intuitivos. Esta mesma                                                          nais a função do Poder é
         mensagem tem procura-                                                               fazer prevalecer o interes-
         do passar aos nossos go-                                                            se nacional de um Esta-
         vernantes, no sentido de                                                            do sobre o dos outros. O
         se elaborar um conceito                                                             que mais importa é a per-
         estratégico nacional, que                                                           cepção de poder de uns
         permita desenvolver uma                                                             relativamente a outros.
         grande estratégia nacio-                                                            No limite, o Poder pode
         nal. O Senhor Professor                                                             usar meios militares. Para
         bem sabe que a realidade                                                            se ter Poder, é preciso ter
         da vida moderna, do am-                                                             Força.
         biente agónico em que                                                                A política internacional
         vivemos e a intensa competição entre os di-  “... Capacidade de uma unidade política  tem sido, até hoje, dominada e orientada
         versos actores do sistema internacional não  impor a sua vontade às outras unidades”  pela procura do Poder, isto é, pela afirma-
         permite que os Estados baseiem as suas de-              Raymond Aron  ção do Poder Nacional de um Estado sobre
         cisões em julgamentos intuitivos, capazes de                          o Poder Nacional de outros Estados. Não se
         gerarem riscos enormes. Para promover um   “A capacidade de uma nação para usar os  trata apenas de garantir a soberania mas sim
         determinado futuro, o Estado tem de saber  seus recursos, de modo a afectar o compor-  de a afirmar.
         empregar as (sempre limitadas) potenciali-  tamento de outras nações”   Em resumo, pode dizer-se que para um Es-
         dades, corrigir as vulnerabilidades, superar              J. Stoessinger  tado atingir objectivos nas relações interna-
         problemas e explorar eventualidades.                                  cionais precisa de ter Poder, por isso precisa
            O Almirante Silva Ribeiro demonstra a   Para Max Weber o poder é a capacidade  de ter Força e desta forma Forças Armadas.
         importância de um Conceito Estratégico Na-  de obrigar, o que implica coacção. Para Nor-
         cional. Mostra claramente a necessidade de  berto Bobbio o poder é a capacidade de in- O PAPEL DAS FORÇAS ARMADAS
         uma ciência de acção (estratégia) para en-  fluenciar, podendo implicar também meios
         frentar as dificuldades e permitir tomar, em  de persuasão.              As Forças Armadas desempenham mui-
         tempo, as melhores decisões.         O Poder surge sempre como relativo (a ou-  tas missões para o Estado, a principal delas
           Aproveitando este contexto, que outra per-  tro), como capacidade de influenciar as ac-  é controlar acontecimentos. É assim neces-
         gunta se poderia fazer senão: qual é o papel  ções dos outros de uma forma previsível.  sário que tenham uma visão clara do que
         das Forças Armadas na estratégia do Estado?   Numa interpretação, porventura simplis-  se está a passar no Mundo e que estejam
         Como podem aumentar o seu potencial?   ta, pode dizer-se que o Poder tem uma ex-  preparadas para intervir com oportunidade,
                                            pressão violenta, depende das qualidades de  eficácia e eficiência na defesa dos interesses
         A ESTRATÉGIA                       quem o exerce, evolui constantemente, tem  NACIONAIS  4AL SØ Ï POSSÓVEL SE FOREM ALTAMEN-
                                            um carácter multifacetado e desgasta-se com  te tecnológicas e contarem com profissio-
           Ao mais alto nível do Estado é a acção es-  a aplicação à distância. Além disso, quanto  nais com elevadas capacidades intelectuais
         tratégica que consegue articular com coerên-  maior, maior é a ambição e a tendência para  e morais. Esta capacidade só emerge se as
         cia os meios nacionais de natureza política,  uma actuação isolada.     Forças Armadas se mantiverem em perma-
         económica, psicossocial e militar, no espaço e   O Poder na política externa designa-se por  nente transformação.
         no tempo de acção para, em situações de dis-  Poder Nacional, na política interna designa-
         puta internacional, materializar os objectivos  se por Poder Governativo. O Poder Governa- O QUE A HISTÓRIA NOS ENSINOU.
         nacionais. A estratégia tem sempre associada  tivo é responsável por organizar, fortalecer e
         a divergência nas relações internacionais e  aplicar o Poder Nacional.  As transformações militares de sucesso
         pressupõe o potencial uso da força. Encon-  Para Hans J. Morgenthau os elementos  resultaram sempre em novas capacidades
         tramos aqui o papel principal das Forças Ar-  constitutivos do Poder Nacional são:  de combate, o que quase sempre implicou
         madas enquanto instrumento fundamental de   s ! 4ERRA  ESPA O GEOGRÉlCO SITUADO    mudanças em algumas ou em todas as com-
         um país. Como demonstrou o Almirante Sil-  s /S 2ECURSOS .ATURAIS     ponentes principais: tecnologia, processos,
         va Ribeiro, um Estado pequeno não pode ter   s ! #APACIDADE )NDUSTRIAL   organização e pessoal. Há muitos exemplos
         muitos objectivos nacionais e não podem ser   s ! 0REPARA ÎO -ILITAR   em que a vantagem competitiva resultou da
         demasiadamente ambiciosos. Se atentarmos   s ! 0OPULA ÎO  A DEMOGRAlA    exploração de apenas uma inovação, numa
         nas definições de Poder encontramos justifi-  s / 4EMPERAMENTO .ACIONAL  CARÉCTER    componente chave. De entre os exemplos,
         cação para esta aproximação.         s %SPÓRITO .ACIONAL  MORAL       citam-se a Falange Romana (inovação orga-
                                              s ! $IPLOMACIA                   nizacional), a pólvora (inovação tecnológi-
         O PODER                              s / 'OVERNO  O CARÉCTER E A CAPACIDADE  ca), a criptografia (inovação processual) e os
                                            do Poder Governativo).             exércitos profissionais (inovação ao nível do
           “…. Capacidade de fazer cumprir”   A Escola Superior de Guerra do Brasil  pessoal). Na maior parte das vezes, a inova-
                             Adriano Moreira  tem uma boa definição de Poder Nacional:  ção ao nível de uma só componente não foi

         20  DEZEMBRO 2008 U REVISTA DA ARMADA
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