Page 45 - Revista da Armada
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contactos exploratórios com as autoridades
locais não indiciaram que pudesse vir a ser
necessário qualquer tipo de apoio. Só mais
tarde, perante a constatação de que alguns
elementos do destacamento militar desta-
cado na ilha se mantinham incontactáveis,
e atento o reduzido numero de meios pró-
prios de que dispunha na área, o governo
do Iémen solicitou o apoio da SNMG1 para
as operações de busca e de resgate de so-
breviventes.
A “Álvares Cabral” chegou à área cer-
ca das 2200, já noite cerrada, e iniciou as
buscas com recurso ao helicóptero, que
circundou a ilha a muito baixa altitude e
a uma reduzida distância da costa (cerca
de cinquenta jardas). O navio manteve-se
entre as mil e quinhentas jardas e uma mi- Navegando no Canal do Suez.
lha, uma vez que para dentro deste arco as No dia 2 de Outubro as autoridades go- (“Álvares Cabral”, Olferd Fisher e Evertson)
temperaturas da água do mar eram já de vernamentais do Iémen deram por concluí- que iriam desintegrar depois da passagem
cerca de quarenta graus centígrados. A par- das as acções SAR e a força reiniciou o seu do Canal.
tir daquela posição o espectáculo era per- trânsito para norte. De realçar que toda esta O CALM Mike Mahon, comandante da
turbador, com a projecção de largas quan- operação teve uma ampla cobertura mediá- SNMG1 embarcou e pernoitou na “Álvares
tidades de materiais incandescentes para o tica, quer no plano nacional, quer por diver- Cabral”, para fazer a bordo a passagem do
ar, e dois enormes rios de lava a descerem sas redes e estações de rádio e de televisão Canal do Suez. O navio foi o testa da coluna,
em direcção às margens. O contraste do internacionais. tendo a travessia decorrido sem incidentes e,
laranja vivo com a escuridão do céu e do A “Álvares Cabral” assumiu o comando contrariamente a exemplos anteriores, num
mar, concediam uma luminosidade muito táctico da fragata holandesa e afastou-se ambiente de grande cordialidade com os pi-
estranha ás águas sobranceiras à ilha e às para ganhar uma distância que lhe permi- lotos. Refira-se, que num registo de grande
silhuetas dos navios que se encontravam tisse exercer as funções de grupo de reco- simplicidade, o piloto que deveria ter sido
mais próximos. nhecimento avançado. Como tarefa adicio- substituído a meio do percurso, acabou por
As buscas decorreram durante toda a noi- nal coube, a este grupo, detectar e reportar fazer toda a viagem – por ter faltado o pi-
te mas só surtiram efeitos na manhã do dia a posição de uma força chinesa que nave- loto que o deveria render – e fez saber ao
seguinte, quando a força já se começava a gava para sul, a partir do Suez. A bordo en- CSNMG1 que isso não constituía para ele
afastar de terra. Foi detectado e recolhido contrava-se embarcado um oficial canadiano qualquer incómodo, por ter sido muito bem
um primeiro sobrevivente pelo destroyer de raízes chinesas, com o propósito de servir recebido e por considerar que o navio tinha
americano USS Bainbridge que, na cir- de intérprete nos contactos rádio com aquela um ambiente agradável.
cunstância, se encontrava mais próximo. força. Curiosamente, o diálogo estabelecido Antes de desembarcar o CALM CSNMG1
Posteriormente, a fragata canadiana HMCS quando os navios se cruzaram acabou por dirigiu-se à guarnição tendo, na ocasião, ma-
Toronto recuperou um segundo sobreviven- ser conduzido em inglês, dada a impossibi- nifestado o seu agrado pelo desempenho da
te. O helicóptero detectou três corpos que lidade dos chineses entenderem cantonês, “Álvares Cabral” que considerou ter sido o
foram resgatados pelas embarcações semi- língua mãe do referido oficial. navio que melhor soube explorar as suas ca-
-rígidas do Toronto e do Evertson. Durante Após mais uma operação de reabasteci- pacidades, aquele que provou ser mais fiável
as operações de busca e salvamento o SO- mento (RAS) com o petroleiro alemão Spes- pelo reduzido número de deficiências e ava-
NIC teve sempre embarcado o recuperador, sart, a força reagrupou-se para concluir, rias que experimentou, e também, o que na
um mergulhador nadador-salvador e um em companhia, a passagem pelo estreito execução das tarefas, mostrou mais conhe-
elemento do serviço de saúde (médico ou de Gubal, que dá acesso ao golfo do Suez. cimentos, melhor preparação e maior con-
enfermeira). Ao todo, a aeronave voou 8,5 Nesta ocasião foi efectuado o tradicio- sistência. Por isto tudo, o almirante Mahon
horas em apoio a esta missão. nal Sail Past, para despedida das unidades considerou que o navio português foi o que
melhor contributo deu e o que maiores su-
cessos obteve para a força.
A “Álvares Cabral” destacou da força no
dia seis de Outubro pelas dezoito horas e de-
mandou o porto de Catânia, na Sicília, para
uma escala de reabastecimento e de descan-
so da guarnição, após uma tirada de vinte e
sete dias seguidos a navegar.
Durante esta missão o navio fez 1493 horas
de navegação e percorreu 19200 milhas.
A chegada à BNL decorreu no dia 13 de
Outubro pelas onze horas. O Comandante
Naval, VALM Vargas de Matos embarcou no
navio na bóia de espera da barra do Porto de
Lisboa, acompanhando, a bordo, a entrada
do navio no estuário do Tejo e a atracação
na Base Naval.
Z
(Colaboração do Comando
O CSNMG1, CALM Mike Mahon dirigindo-se à guarnição. do NRP “Álvares Cabral”)
REVISTA DA ARMADA U FEVEREIRO 2008 7