Page 48 - Revista da Armada
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a expe riência e conhecimento das condições 14 de Junho, onde forças provenientes de fra- navios no período imediatamente posterior
locais, quer topográficas, quer humanas, de gatas e patrulhas, organizaram e montaram o ao 15 de Março.
modo a facilitar, quanto possível, os primeiros seu sistema defensivo, efectuaram reconheci- Seria assim natural que tivessem ficado mais
contactos das tropas com a vila e suas popula- mentos e rusgas nos arredores, acalmaram e conhecida a acção da Marinha durante a 1ª
ções. Para isto, durante 3 ou 4 dias, os nossos ho- disciplinaram a população branca e exerce ram Fase da Guerra. Mas isso não aconteceu, por-
mens acompanharam os camaradas do Exército uma bem orientada acção psicológica sobre os que nessa época se pretendia fazer crer que em
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aos vários pontos importantes, servindo como autóctones, reocupando pacificamente as po- Angola apenas decorriam “acções de polícia” .
intermediários nas relações iniciais com os indí- voações de Tomboco e Quinzau. Sendo este o critério usado relativamente a ac-
genas. Estes, por motivos bem compreensivos, Fiscalização da costa com visitas a todos os ções de combate, por maioria de razão recairia
estavam receosos com a mudança de «fardas», e portos, baías, até às mais pequenas enseadas o silêncio sobre quaisquer outras missões que
por seu turno, os soldados, vindos há pouco do onde existiam pescarias, contactando-se fre- pudessem deixar entrever uma realidade dife-
Conti nente e dos Açores, não se sentiam ainda quentemente com a terra para dar um certo rente daquela que se pretendia fazer passar por
perfeitamente aclimatados ao ambiente. amparo moral às pessoas que ali viviam com- verdadeira, e revelar que, de facto, estávamos
Toda a população compareceu, em peso, pletamente isoladas, colher informações e pres- em guerra. “Acções de Polícia” não passava,
a dar um abraço aos marinheiros na hora do tar assistência sanitária. portanto, de um eufemismo inventado pelos
embarque. Execução de «passeios militares» efectuados “spin doctors” da época, para mascarar a rea-
como «acções de presença», feitos em geral com lidade, ocultando o facto de estar já uma guer-
SASSA-ZAU o efectivo de 1 ou 2 pelotões, ao longo de quase ra em curso, entendimento que se manteve até
A última operação de desembarque efec- todas as vias férreas e de algumas estradas que meados de Março de 1961.
tuada por pessoal da «Nuno Tristão» teve lu- partiam do litoral. É talvez esta a causa de pouco ou pratica-
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gar em Cabinda ,e foi levada a cabo mente nada se saber acerca do que fez
por um destaca mento constituído por a Marinha naquele período, durante
6 praças comandadas por um 2.° te- o qual desempenhou integralmente o
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nente . Já anteriormente uma força de papel que lhe competia, lutando com
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desembarque da Pacheco Pereira aí enormes dificuldades mas orgulhando-
tivera uma actuação brilhante, conse- -se dos resultados obtidos que intregal-
guindo óptimos resultados em nego- mente corresponderam ao cumprimen-
ciações com elementos indígenas do to do seu dever.
Congo Francês. Z
Nos primeiros dias de Agosto, regres- Comandante G. Conceição Silva
sou à «Nuno Tristão» a última e mais Notas
1 Cte. Abílio da Cruz Júnior
minguada de todas as forças de desem-
2 O navio já aí tinha estado anteriormente
barque que actuaram em Angola. Com durante vários dias, para a sua força de desem-
toda a sua guarnição a bordo, coisa que barque receber instrução que foi ministrada pe-
há muitos meses não se verificava, a fra- los Caçadores Especiais comandados pelo então
gata veio para Luanda, onde permane- capitão Soares Carneiro. O treino incidiu sobre
técnica de emboscadas e tiro instintivo, modali-
ceu alguns dias, reabastecendo. Destacamento da Força de Desembarque que reocupou o Tomboco sob as dade de tiro que então se começara a praticar por
ordens do Governador do Distrito do Zaire, Comandante Cruz Júnior.
Finalmente, às 07.30 da manhã de 11 ser a mais adequada e eficaz nas circunstâncias
de Agosto, largou do cais do porto daquela ci- Fornecimento de pessoal para guarnecer as concretas que se enfrentavam.
3 2º Ten. Hernani Martins Bota
dade, rumo a Lisboa onde chegou a 27, após pequenas lanchas que fisca lizavam os esteiros
4 Comandada pelo 1º Ten José Manuel Niny dos
curtas escalas em Cabo Verde e Guiné. vizinhos de Santo António. Santos
Guarda aos paquetes e aos transportes de 5 Uma ocasião houve que, na capital, apenas se en-
BALANÇO DA ACTUAÇÃO tropas, feita com as praças das unidades esta- contravam a Companhia Móvel da PSP e os soldados do
DA MARINHA cionadas em Luanda. Regimento de Infantaria de Luanda (RIL), cuja fidelidade
ainda se ignorava
Com a chegada substancial das forças das Patrulhamento do rio Chiloango 6 Designação que apenas cabe a factos como o que é
outras Armas vindas da Metrópole, terminou descrito por Alves Fraga na sua obra “A Força Aérea na
a primeira fase da actuação da Marinha na CONCLUSÕES Guerra de África”, e do qual, estranhamente, pouco se
Guerra de Angola, que sinteticamente se resu- Mostra o que entecede que as acções leva- falou. Conta aquele Autor que os habitantes da pequena
povoação de Mucaba, cercada e invadida por centenas
miu ao seguinte : das a cabo pela Marinha durante este período de terroristas da UPA se refugiaram na Igreja; aí se foram
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Presença, a partir do princípio de Feverei- não deram lugar a notórios “feitos de armas” , defendendo, a tiro, das sucessivas vagas que avançavam
ro, em Luanda, sempre que possível de, pelo nem tiveram especial significado militar: foram para os massacrar. A dada altura, como era previsível, co-
menos, uma fragata atracada ao cais comercial, rotineiras e apagadas, traduzindo apenas um meçaram faltar as munições, até se chegar ao ponto em
que os defensores já só poderiam disparar poucos tiros
com um ou dois pelotões prontos a cooperar esforçado e persistente cumprimento do dever. por cada arma: era impossível reabastecê-los, devido ás
na defesa da parte baixa da cidade, no caso de Revestiram-se, no entanto, de enorme valor sob condições meteorológicas, pelo que estava iminente a
ser necessário apoiar as poucas forças das ou- o ponto de vista psicológico, pelos resultados sua derrota e subsequente extermínio. No entanto, o ca-
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tras Armas . que produziram junto daqueles em benefício pitão Mário de Lemos de Mascarenhas, da Força Aérea,
conseguiu realizar a extraordinária proeza de aterrar com
Permanência quase ininterrupta dum patru- de quem eram executadas - as martirizadas um DO 27 na rua principal de Mucaba, rasando casas e
lha atracado à ponte-cais de Noqui, a partir dos populações locais. árvores de cada lado da improvisada pista; levar o avião
primeiros dias de Março, que se prolongou até Por outro lado, embora sendo certo que a até à porta da Igreja; entregar os cunhetes de munições;
e descolar de novo, quando as hordas de terroristas já se
ao fim de Outubro mesmo depois da vinda de História se faz a partir “do que foi” e não do precipitavam sobre o aparelho para o destruir !
reforços do Exército. que “poderia ter sido”, é legítimo imaginar Fraga, Luís Alves de - A Força Aérea na Guerra de Áfri-
Desembarques repetidos de destacamentos qual “poderia ter sido” o resultado da apre- ca - Ed. Prefácio - Edição de Livros e Revistas Ldª - Lisboa
para reforço das tropas es tacionadas em Cabin- ensão dos explosivos da Enseada de S. Braz 2005 p. 52.
Citado também por Nunes, António Lopes Pires – An-
da, Landana e Santo António do Zaire, quando por elementos da UPA ou do MPLA; ou a si- gola 1961 - Ed. Prefácio- Edição de Livros e Revistas Ldª
se previam graves acontecimentos, ou mesmo tuação em Luanda, se a UPA tivesse avança- - Lisboa 2005 p. 94
para as substituir quando saíam para o exte- do em Fevereiro, por não haver praticamente 7 “Nos comunicados da Forças Armadas apenas se emprega-
rior com demora. nada nem ninguém para se lhe opor; ou de vam os termos “acções de polícia” ou semelhantes, em conformi-
dade com ordens superiores, quando se referiam aos combates ou
Acção no Ambriz desde 18 de Março até 21 Ambriz, Ambrizete e vários outros locais, se recontros havido com o inimigo – fraseologia que nós, militares,
de Abril, e Ambrizete desde 22 de Março até desprovidos das forças de desembarque dos aceitávamos de mau grado (Obra citada, pag. 76)
10 FEVEREIRO 2008 U REVISTA DA ARMADA