Page 47 - Revista da Armada
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voações de Chibia e Vila Arriaga. Muito embo- acordo com o plano geral das operações, com- ambicionavam. Estabelecido este critério, no-
ra qualquer das referidas localidades estivesse petia a um bata lhão de infantaria progredir ao mearam-se os componentes de cada coluna;
abso lutamente calma, uma vez que só no Norte longo da costa em direcção a Ambrizete, para ambas eram pessoalmente comandadas pelo
da Província se haviam até então verificado inci- daí irradiar destacamentos que ocupassem e Governador, e compostas por Marinha e civis.
dentes, a exibição de força por certo contribuiu pacificassem toda a área do concelho. Estava A Secção de Marinha da Coluna com destino a
para dissuadir possíveis terroristas de quaisquer portanto para breve o fim do estado de emer- Tomboco era comandada pelo 2º Tenente Her-
actividades criminosas. Durante os desfiles, as gência naquela região - e, consequentemente, a nâni Martins Bota. Marcou-se a madrugada de
populações manifestaram-se de forma extre- necessidade da permanência de forças de Ma- 13 de Junho para a sua partida. Constituíam
mamente carinhosa e grata à Armada. rinha desembarcadas. essa coluna 7 viaturas, 3 pesadas e 4 ligeiras,
Com admirável compreensão do estado todas equipadas para enfrentar os 100 Km de
LUCIRAS, TIGRES, ELEFANTES de espírito dos marinheiros e dos homens de mato que teriam de percorrer. Numa delas
Razões análogas às anteriores e, ainda, a ne- Ambrizete, entendeu o Governador do Distri- montou -se uma metralhadora «Dreyse», e pe-
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cessidade de levar a cabo exercícios de comba- to do Zaire que seria oportuno empregar uns las outras se distribuiu pessoal armado, com
te, determinaram o desembarque de forças nas e outros na imediata recon quista dos dois pos- pistolas metralhadoras e granadas de mão. Ao
baías de Lúciras, dos Tigres e dos Elefantes. tos administrativos já atrás citados: Tomboco fim do dia, após o seu regresso a Ambrizete
Foi nestes locais que o pessoal da força de e Quinzau. Desta forma, teriam ampla recom- foi transmitida para bordo da “Nuno Tristão”
desembarque começou os treinos de a singela mensagem “Tomboco reocu-
tiro instintivo, modalidade de fogo que “Pacheco Pereira” pado sem novidade”.
a experiência já demons trara ser a úni- Na madrugada seguinte, partiu a se-
ca adequada às características da guer- gunda coluna, para recuperar o Quin-
ra da selva. zau. No trajecto, atravessou algumas po-
A prática adquirida nestes exercícios voações desertas e arrasadas, nas quais
veio, pouco depois, a ser com pletada apenas uma ou outra casa havia escapa-
em Cabinda, com a Companhia dos do ao incêndio e á destruição. Em autên-
Caçadores Especiais, comandada pelo tica corrida contra-relógio (uma compa-
Capitão Soares Carneiro. Esta Unidade, nhia de infantaria partira de S. António
a todos os títulos exemplar, prontificou- do Zaire para o Sul, 24 horas antes), a
-se a pôr a sua grande experiência ao “Diogo Gomes” força tentou chegar ao Quinzau antes
serviço da Armada, ministrando ins- do Exército, mas, apesar de todos os es-
trução teórica e prática ao pessoal dos forços nesse sentido, veio a encontrar-
navios. A ela ficou devendo a «Nuno -se com a testa da coluna moto rizada da
Tristão» grande parte dos conhecimen- companhia a cerca de 10 Km do objecti-
tos adqui ridos pelas suas forças, incan- vo! O avanço que o Exército trazia sobre
savelmente treinadas e aconselhadas nós tornara impossível chegarmos pri-
pelos oficiais daquela companhia e pelo meiro. Assim, numa povoação reduzida
seu próprio Comandante. a cinzas, teve lugar o primeiro contacto
entre as forças das duas armas, no mato
AMBRIZETE II “S. Tomé” de Angola. Após breve paragem, duran-
Em 12 de Junho desembarcou outra te a qual confraternizaram os elementos
vez em Ambrizete uma força da fragata das duas colunas, ambas prosseguiram
«Nuno Tristão», incumbida de guarne- o seu caminho: a Marinha continuou até
cer a vila até à che gada do Exército, que ao Quinzau, e o Exército em direcção a
já vinha a caminho. Mudara bastante Ambrizete.
o ambiente, desde a última estadia da Ao entardecer, reuniram-se novamen-
Marinha naquela povoação. Com efei- te as duas forças, já perto do Ambrizete,
to, a ofensiva geral lançada pelas forças entrando na vila em conjunto. A chega-
armadas havia já começado a produzir da da tropa vinha finalmente pôr termo
os seus frutos - e assim uma fase de an- às longas prova ções e sacrifícios vividos
gustiosa defensiva tinha dado lugar ao entu- pensa aqueles que o desen rolar dos aconteci- pela população, desde há quase 4 meses. Com
siasmo e ardor da reocupação. mentos forçara a uma defensiva prolongada e efeito, os efectivos agora adstritos à defesa da
Do concelho de Ambrizete, apenas uma lo- arrasante. Não foi certamente este o único mo- vila tornavam possível que cada um dormisse
calidade continuava nas nossas mãos: Bessa tivo que o levou a tomar a decisão: fiel ao «bo- em sua casa, sem necessidade de recolher obri-
Monteiro. Graças à inquebrantável coragem e tão da âncora», quis o Governador que fossem gatoriamente ao reduto, do pôr ao nascer do
firmeza do chefe do posto e de um pequeno pu- da Armada as forças libertadoras do concelho, Sol. Em vez de espingardas e escassas dezenas
nhado de bravos, a povoação conseguira aguen- dando assim oportunidade a que se entregasse de homens já cansados por sucessivas vigílias,
tar sucessivos cercos e ataques, sem se render. o Ambrizete ao Exército «em ban deja de prata», via-se agora o abundante material do Exército,
Os outros dois postos administrativos de- limpo de terroristas ! e os pelotões das várias companhias!
pendentes de Ambrizete, Quinzau e Tombo- Obtida a necessária autorização superior, Durante os dias que precederem o reembar-
co, haviam sido evacuados em Abril, visto ser imediatamente após o desembarque se come- que definitivo da força da Marinha, chegaram
impraticável a sua defesa. çaram a preparar duas colunas mistas, compos- ininterruptamente a Ambrizete mais forças do
Desconhecia-se em absoluto o que lá se pas- tas por secções da Marinha e alguns civis esco- batalhão. Entretanto, o N/M «Dinge» desem-
sara, depois de os últimos habitantes terem re- lhidos entre os melhores. Escusado será dizer barcou no porto toneladas de material e sub-
tirado para Ambrizete e S. António do Zaire. que foi difícil a escolha: quer no sector militar, sistências para a tropa, que em breve atingiria
Tanto podiam ter sido arrasados, como estarem quer no civil, todos pretendiam tomar parte nas efecti vos superiores a um batalhão. Podia con-
a servir de base aos terroristas que infestavam expedições a efectuar nos dias seguintes. siderar-se finda a missão da Armada em Am-
a região. Após tantos meses de expectativa, Como não se podia descurar a defesa da brizete: Com tamanhas forças, a presença de 20
havia finalmente chegado o momento de pas- vila, foi decidido empre gar apenas metade e poucos marinheiros era perfeitamente inútil,
sar ao ataque, reconquistando tudo o que ain- dos homens em cada uma delas, o que per- sob o ponto de vista técnico militar. Só uma
da continuava nas mãos dos adversários. De mitiu que todos tivessem a oportunidade que coisa restava fazer: pôr ao serviço do Exército
REVISTA DA ARMADA U FEVEREIRO 2008 9